Eleições Municipais
José Sarney
Na minha longa vida política testemunhei muitas mudanças.
Mudanças de todo tipo: comecei com a votação em cédulas impressas com o nome do
candidato e distribuídas entre os eleitores, que as levavam à mesa eleitoral,
onde recebiam um envelope para colocar o voto. Era uma guerra entre cabos
eleitorais para formar chapas, substituí-las por outras, o que motivava brigas
e pancadarias entre candidatos e entre seus seguidores.
João Francisco Lisboa recuou um pouco mais e escreveu
largamente sobre eleições na Antiguidade, desde o “palmômetro” até o
“brigômetro“, as eleições a cacete.
Vi mudanças de legislação eleitoral às carradas, costumes
parlamentares, maneira de escolha de candidatos; vi baixar o nível das
candidaturas e corromper a vontade popular, usando como linha de frente o poder
e o dinheiro.
Mas nada como agora, quando surgiu para mim uma novidade
extraordinária: os partidos não escolhem os candidatos que têm votos, sob a
argumentação de que tiram as possibilidades de eleição dos novatos. Tivemos
até, na última eleição, um partido que não aceitava candidatos de eleição certa.
Isso sem dúvida é uma coisa que jamais pensei surgir na
disputa eleitoral: os candidatos, para conseguirem entrar na chapa, não podem
ser aqueles que tiveram sempre a preferência do povo e se elegeram, mas os que
não têm votos e, somando os poucos votos dos novos, criam a possibilidade de o
partido ter um ou dois eleitos, geralmente os detentores das direções
partidárias.
Assim, a primeira qualidade para ser candidato é não ter
votos nem possibilidade de se eleger. Fiquei sem saber qual era a lógica dessa
conduta. Assim, a política não é mais a escolha por ideias, por trabalho, por
tradição ou pela capacidade de liderar e por já ter sido testado pelas urnas. A
experiência não é levada em consideração, nem o trabalho partidário, mas o que
conta é não ter voto nem capacidade de angariá-lo. Hoje ganhou status de
circulação geral a chamada barriga de aluguel, em que afinal uma barriga, o
partido, serve para fazer crescer um filho que não é seu.
Soube, contudo, que a experiência de chapas dos sem-votos,
na última eleição, também tornou os partidos que assim procederam em partidos
sem representantes: não elegeram ninguém.
Os partidos transformaram-se em cartórios de registro de
candidato e estão quase todos morrendo, como morrendo está a democracia
representativa.
Como a próxima eleição é municipal, essa técnica está sendo
costurada para ela, e ninguém está querendo coligação com partido que tenha
vereador eleito. Na eleição passada, as chapas de deputado feitas assim
resultaram num grande fracasso.
Essa regra de eleição sem voto nunca pensei que pudesse
existir. Pois no Maranhão existe. Só se João Lisboa nascer de novo e escrever,
em vez de “eleição na antiguidade”, “eleição na atualidade”…
José Sarney
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