BENDITA ILHA
Por Zé Carlos Gonçalves*
... ó bendita Ilha, que te espraias em seguro abrigo aos teus, a exalar todos os amores e toda a poesia em apaixonantes becos, praças, fontes, ladeiras e casarões, me viste "chegá matuto saudôso, desmaldôso i imberbe", a correr as tuas entranhas
... ó bendita Ilha, que adotas novo filho, parido em saudável e plena liberdade, da materna e inesquecível Baixada, a embalar no intervalo das ondas, que alimentam a voracidade do Boqueirão, me acolheste revoltado e casmurro, a viver cotidianamente a Beira-mar
... ó bendita Ilha, que danças na força do tambor grande, a ungir o ritmo e a magia das saias rodadas; na força das falantes ritintas, a cadenciar os encantos dos tradicionais blocos; na força das matracas e dos pandeirões, a ecoar a pujança de tão rica e vibrante cultura; na força do guarnicê e das encantantes toadas, a reverenciar Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal, te versejo as graças e os mistérios nas linhas das tuas escadarias
... ó bendita Ilha, que despertas, com sussurante murmúrio, em Panaquatira; e te banhas, desnuda e sã, no Araçagi; e descansae, tão serena e feliz, na Ponta d'Areia; e te delicias, faminta e amante, com os carinhos do rio Anil, me encharcas de completa paz ao vislumbrar, tão perto, e tão longe, o outro lado da baía de São Marcos
... ó bendita Ilha, que "quebras uma bonita pedra", ao final da tarde, no Mercado das Tulhas, para te desafogar dos chorosos Olhos d'Água, tão encantada com o mais puro e fiel amar, me arrastas na dançante dança de tuas encantarias, a todo instante
... ó bendita Ilha, que te refrescas na Fonte do Ribeirão, na fresca e irrequieta manhã; e na Fonte das Pedras, na abafada e narcotizante tarde, me aninhas em tuas calçadas, sob a proteção de tuas marquises, nas friorentas noites, de todo dia
... ó bendita Ilha bendita, te celebro a todo instante!
*Zé Carlos Gonçalves é escritor e poeta
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