Um homem também chora
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Quando o pai voltava do trabalho, o garotinho corria com os braços abertos em busca de um abraço.
O pai, acostumado à educação rígida que ele próprio recebera, afastava o filho e dizia: Homem não abraça homem.
O menino ficava sem saber o que fazer com a vontade de demonstrar seu afeto àquele a quem amava. Seu pai era seu ídolo.
Mas foi se acostumando a não abraçar o pai. Também não podia chorar, porque ele era homem e homem não chora, segundo o ensinamento que recebera do pai.
Quando a tristeza o dominava, prendia o choro na garganta e corria para os braços da mãe, a quem podia abraçar sem medo de ser menos homem.
Os anos rolaram. O menino cresceu e cresceu também a dificuldade de extravasar seus sentimentos.
Não conseguia abraçar os amigos, os colegas da escola, os familiares. Não conseguia chorar, por causa das orientações que recebera na infância.
Tudo ficava dentro dele, represado.
Entretanto, a convivência generosa de pessoas em seu entorno, abraçando-o, muitas e muitas vezes, permitiu que ele, ao longo dos anos, vencesse essa barreira.
Décadas e décadas passadas, em torno dos oitenta anos, ele confessa que consegue se entregar num abraço sem medo de ser feliz.
Chorar em público, no entanto, é algo que procura evitar, pois a frase, ouvida muitas vezes na infância, ainda o persegue: Homem não chora.
* * *
Entretanto, sabemos que homens podem e devem chorar.
O que faz um ser humano ser digno não é o fato de deixar de chorar, ou de evitar se envolver num abraço. O que dá dignidade a um homem é a sua capacidade de amar, de se entregar, de se deixar levar pela emoção sadia.
O cancioneiro popular retratou essa realidade em versos musicais:
Um homem também chora...
Também deseja colo... Palavras amenas.
Precisa de carinho, precisa de ternura.
Precisa de um abraço da própria candura.
Guerreiros são pessoas, são fortes, são frágeis.
Guerreiros são meninos. No fundo do peito
Precisam de um descanso,
Precisam de um remanso.
Precisam de um sonho que os torne refeitos.
* * *
Hombridade não é sinônimo de dureza.
O homem é um Espírito temporariamente mergulhado num corpo masculino, um filho de Deus.
Um homem também chora...
Um homem também sente saudade...
Um homem também se entristece quando parte um ser querido, quando a desilusão o maltrata, quando uma traição o fere.
Um homem também se equivoca, também se arrepende, também se sente só.
E, às vezes, a única maneira de aliviar um pouco o peito oprimido é deixar que as lágrimas jorrem com vontade.
Paulo de Tarso, o incomparável apóstolo, na luta para vencer a si mesmo, encontrava nas lágrimas uma forma de desabafo.
Aquele gigante do Cristianismo deixava, nas horas difíceis, as lágrimas aliviarem seu coração oprimido.
A cada gota de pranto era um pouco de fel que expungia da alma, renovando-lhe as sensações de tranquilidade e de alívio.
Jesus, o maior Homem de que se tem notícia, também chorou.
Pense nisso e, se sentir vontade ou necessidade, abra as comportas do peito e deixe que as lágrimas lavem e aliviem seu coração, sem medo de ser feliz. Redação do Momento Espírita, com frase extraída do livro Paulo e Estêvão, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB e versos da canção Um homem também chora (Guerreiro menino), de Gonzaguinha.
Em 4.2.2025.
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