“Uma história de Carnaval que nunca havia tornado pública antes”, por Mhario Lincoln.
MEUS CARNAVAIS
Mhario Lincoln*
Em tempo: recebo mensagem de Uimar Junior (idealizador da volta do tradicional “Bloco dos Fofões”, falando sobre movimentada folia de Momo. Então perguntei a mim mesmo: por que não aproveito para relembrar meus carnavais em minha São Luís (MA) e contar uma historinha bizarra que aconteceu comigo nesse período, fato que nunca tinha revelado antes?
Pois comecemos "do começo".
Eu sempre digo que meu Carnaval ganhou vida pra valer lá na “Tribo dos Paunis”, (foto) uma brincadeira carnavalesca, relembrando índios americanos, fundada pela família Ramos, na rua do Passeio, em frente à casa do médico José Quadros. Um casarão colonial imenso, onde conheci Sidney Ramos, advogado famoso, amigo de meu pai. Nasci para os blocos carnavalescos exatamente ali naquele reduto animadíssimo onde a folia começava antes mesmo do início do reinado de Momo. Na época, morava ao lado do casarão, também na rua do Passeio.
No ano seguinte, me aventurei em descer a rua do Passeio e fui bater no Caminho da Boiada para assistir a um ensaio de um Blogo Tradicional dirigido pelo pai de Júlio Guterres Costa, meu amigo de infância. Ele era o João Milhão Costa. Seu bloco tradicional era campeão. Logo estava eu engajado nessa folia e fiz parte, de forma orgulhosa, dessa atividade ao lado João Milhão e sua bela família Guterres Costa, figuras lendárias do Carnaval Maranhense.
Depois, afeiçoei-me pelo grande baile do Bigorrilho. Ficava também no Caminho da Boiada; e bem perto da casa de Júlio e quase “x” com a casa de Rosclin, zagueirão de renome do time de futebol Sampaio Corrêa. Foi Rosclin que me deu a ideia de comprar um fofão e uma máscara de meia (adquirida na inesquecível ‘Casa Amarela’). Com essa fantasia pronta, ele me levou, finalmente para conhecer o sonho de consumo dos solteiros: o Baile do Bigorrilho (do imortal Moisés).
Na entrada os porteiros nem olharam pra mim. Preferiram abraçar Rosclin. E eu, anônimo, consegui acompanhar o zagueiro e fiquei abismado com tanta coisa que acontecia pelo imenso salão.
Foi ali que descobri como era o Carnaval de verdade, bem diferente dos salões mais cheios de pompa do Jaguarema e do próprio Casino Maranhense, até mesmo do Montese, onde fui diversas vezes.
Foi uma loucura. Tanto que fiquei até a última marchinha. Geralmente a banda encerrava com “Bandeira Branca”. A música que teria de cantar para D. Flor de Lys ao chegar de madrugada em casa, com 16 anos. Sim. Naquela época....
Bom, com bronca ou sem bronca, lá estava eu novamente nas ruas. Meus inseparáveis amigos o Júlio Guterres Costa (somos compadres) e o Piauí, estudava no Liceu, em São Luís-Ma, — e fomos de mala e cuia para o Bloco do Casino Maranhense.
Corríamos mais cedo para encontrar Tereza, meu par e amiga, e junto dela fazíamos o corso pelas ruas da velha cidade, saindo da Beira-mar, subindo a rampa do Palácio, no rumo da Praça Deodoro, subindo a rua Grande, em um trajeto que ninguém esquece.
Foi justamente no Casino, numa daquelas vesperais movimentadíssimas, que resolvi bancar o herói diante da minha paquera, a “boiadeira” Luiza, apelido carinhoso que dei, porque a conheci na Expoema, montando um dos cavalos-baio do pai.
Ela estava perto da piscina, olhando a bagunça, e eu — um mirrado adolescente — tive a grande ideia de pular na água para chamar atenção. Detalhe: no Carnaval, a diretoria do clube deixava a piscina com água pela metade. Como meus olhos estavam colado na musa, nem me dei conta: pulei e acabei arrebentando o queixo no fundo da psicina, rasgando o lábio, jorrando sangue pra todo lado.
Um dos garçons, amigo, "Zé Espicha", trouxe pó de café, toalha, reza braba, tudo foi tentado até a ambulância aparecer uns 40 minutos depois. E a boiadeira? Sumiu, pulou fora antes mesmo de eu enxugar o primeiro pingo de sangue. Só me restou a glória de 12 pontos no lábio, 8 no queixo e uma ferida no orgulho narcísico que me tirou do Carnaval naquele ano.
Na verdade, minha mocidade carnavalesca, dos 14 aos 17 anos, foi uma incontrolável maratona de blocos, bailes, amigos, muitos deles, infelizmente já nos deixaram. Mas devo dizer que o fato mais pitoresco que já vivi na folia envolveu um figurão da política nacional, daqueles com cargo federal e tudo mais.
Essa eu nunca contei para ninguém. Mas hoje eu conto com aquele gostinho de história de D. Pêta, o "fofoqueiro" que assina coluna no "Jornal Pequeno": durante um baile particular em uma casa de praia de um colunista social da Band local (SLZ), onde ambos fomos convidados, esse político, velho conhecido meu, resolveu avançar o sinal com a moça que me acompanhava nessa festa Carnaval.
Bastou eu dar uma saída para ir ao banheiro e ele já foi sentando ao lado dela, sem cerimônia, tentando abraçá-la.
Ela, sem graça, pediu licença e foi me contar, à porta do banheiro. Pensei: “Brigar? Não dá! O homem é meu amigo de longas datas e conheço muito a esposa dele (Eureka!). Então bolei um plano maluco. Deixei minha parceira com algumas amigas e fui até a casa dele. Ainda era bem cedo. Algo em torno de 20 horas. Então bati e fui recebido pela esposa dele.
- Ou Mhario, o que houve (Ela era simples a meiga).
- Nada. Aliás, uma boa notícia. Seu marido está na festa comigo e só fala em você. Daí, fiquei com pena dessa “saudade” e decidi vim buscá-la para acompanhá-lo na festa. É surpresa. Ele vai ficar muito feliz com isso.
Ela encheu o peito de felicidade, se arrumou correndo e me acompanhou de volta ao baile. Quando entrei de braço dado com ela, o “galanteador”, quase morreu de susto. Cheguei perto e cochichei: “Pronto, meu amigo, já que estava com tanta saudade, trouxe aqui a dona do seu coração!”
E saí de fininho. Busquei minha parceira e fomos encerrar a noite no restaurante “Cabeça Branca”, bem no comecinho da Ponta D’areia...
*Mhario Lincoln é o editor-sênior da Plataforma Nacional do Facetubes e presidente da Academia Poética Brasileira.
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