terça-feira, 11 de março de 2025

Outro ser - texto/crônica do Momento Espírita e hoje


Outro ser

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Consagrado poeta português, afirma: Viver é ser outro.

Viver é apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada.

Esta madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelecendo para branco quente pousou assim na face com que a casaria de Oeste encara cheia de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente.

Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser.

*   *   *

Em meio a dias que parecem se repetir, caindo num automatismo preocupante, vale a pena ouvir o poeta e seu canto de renovação.

Embora por vezes pareça que vivamos dias iguais, muitas vezes criados pelas rotinas ou mesmo pelo desânimo, lembremos que não há dia igual a outro.

Nunca houve antes essa mesma manhã. Esta brisa que sopra suave nunca nos visitou anteriormente e mesmo os raios de sol implacáveis das doze horas, são novos raios de sol.

O canto dos pássaros não é o mesmo. O formato das nuvens no céu, a temperatura, a posição que a pequena flor nos observa, ali do vaso na mesa da sala.

Tudo está em constante mudança e renovação ao nosso redor. A natureza se renova constantemente. Só não enxerga quem não tem olhos de ver.

E cada um de nós também. Olhemo-nos no espelho. Não somos mais os mesmos.

Se pudéssemos ver as revoluções que ocorreram em nosso corpo físico em vinte e quatro horas iríamos nos espantar.

Se pudéssemos enxergar o que sete ou oito horas de sono proporcionam a este complexo organismo que nos proporciona morada no mundo material!

Ficaríamos encantados e quem sabe perceberíamos que tudo muda, tudo precisa se mover adiante, transformar-se.

Podemos acordar em uma segunda ou terça-feira e dizer: Nada mudou! Mais um dia como ontem.

É uma escolha.

Ou podemos abrir os olhos e pensar: É uma nova vida. Hoje serei outro. Já sou outro.

Percebamos como as leis divinas prezam pela renovação, pelo nascer de novo.

São muitos os ciclos nos quais estamos inseridos.

Ciclos dos dias, ciclos das fases da vida, ciclos das reencarnações.

Em cada reencarnação temos também a chance de sermos outro, com outra aparência, outro nome, outra família. Tudo novo para que entendamos com clareza o recado divino: Renove-se!

Viver é ser outro, é ter a oportunidade de refazer os caminhos, de educar-se, de semear e de amar cada vez mais.

Viver é ser outro, é dar mais um ou dois passos, é também sofrer, e estar pronto para as experiências dolorosas, sabendo que a dor embeleza a alma.

Viver é ser mais, conhecer mais, ouvir mais e dar mais.

Se nos permitirmos experimentar o dia intensamente, com todos os sentidos do corpo e do Espírito, presentes em cada instante, não haverá como dizer no leito noturno: Ainda sou o mesmo!

Viver é ser outro.

Não nos permitamos cair nas armadilhas dos tais dias sempre iguais.

Não nos permitamos o desânimo, a falta de auto-observação e a falta de contemplação da vida em si.

A tristeza do arrependimento pode ser evitada agora.

Pensemos: que outro ser desejamos ser ainda hoje?

Redação do Momento Espírita, com base em trechode poema de Fernando Pessoa, do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, ed. Ática.
Em 11.3.2025


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