Nós somos os mergulhadores da história. Até aquele que nunca leu gosta de ouvir histórias, mesmo que não goste de ler... E ainda assim não sabemos a nossa história: a nossa verdadeira história.
De onde surgiu cada um de nós? O que estamos fazendo
aqui? Para aonde iremos? Que local nos
aguarda? Somos nômades do Universo?... Que Luz nos liberta? Que escuridão nos
escraviza?... Somos escravos ou livres?
Vejo alguém dizer, e eu cá ouvindo, que “o melhor que se faz
pela doutrina espírita é divulgá-la”. Acho que todo conhecimento precisa ser
divulgado, respeitando-se, naturalmente, a citação da origem, a autoria do
texto – por exemplo!
Digo: Eu sou a alma que habita um corpo físico; deixando o corpo,
sou espírito..., imortal.
Que estrada seguirei? Desde menino caminho por elas..., por
muitas: são estradas que a vida nos mostra.
Cada um de nós tem uma missão. Qual é a minha? Qual é a
sua?... O que estamos fazendo para cumprir a nossa missão, nesta paradinha de
poucos anos que por aqui passamos? A Terra é um local de parada, criada por
Deus... Localzinho bom, desde que o transformemos em um reino de paz, seguindo
os ensinamentos do Cristo!
Hoje, pela manhã, quase nada fiz: li apenas!... Li um belo
trabalho de pesquisa do escritor espírita Jorge Hessen, publicado originalmente
na Revista Espírita “O Consolador”, com o título: “A marcha ascendente dos
antepassados dos homens”.
Ele inicia perguntando: Será que os chamados homens da
“caverna” tinham consciência íntima?...
É um artigo longo; de boa leitura, todavia!...
Coloco-o, a seguir, para leitura:
JORGE HESSEN
jorgehessen@gmail.com
Brasília, Distrito Federal (Brasil)
A marcha ascendente dos antepassados dos homens
Será que os chamados homens da “caverna” tinham consciência
íntima? “Pesquisadores da Universidade de York descobriram que o homem de
Neanderthal nutria um grande sentimento de compaixão. A conclusão adveio
através das evidências arqueológicas e da observação sobre o modo como as
emoções emergiram em nossos antepassados há seis milhões de anos, quando o
ancestral comum dos homens e dos chipanzés vivenciou o despertar dos primeiros
sentimentos. Para os arqueólogos, cerca de 1,8 milhão de anos atrás, o Homo erectus
integrou o sentimento de compaixão com o pensamento racional através de ações
como cuidar dos doentes e dedicar atenção especial aos mortos, demonstrando
luto e desejo de suavizar o sofrimento alheio.”(1)
Cremos que as sepulturas datadas da era paleolítica
comprovam já haver naquele período uma crença na vida após a morte e no poder
ou influência dos ancestrais sobre a vida cotidiana do grupo familiar. Os
integrantes do clã obrigavam-se a praticar ritos em homenagem a seus mortos
pelo temor a represálias ou pelo desejo de obter benefícios, ou ainda por
considerá-los seres divinizados.
Questão instigante é como o primata se tornou hominídeo. A
resposta é ainda uma incógnita. Ainda não foi encontrado o "elo
perdido", a espécie biológica que represente essa transição. “Pode-se
dizer que, sob a influência e por efeito da atividade intelectual de Espíritos
mais adiantados [que os antropoides], o envoltório se modificou, embelezou-se
nas particularidades, conservando a forma geral do conjunto. Melhorados os
corpos, pela procriação, deu-se origem a uma espécie nova, que pouco a pouco se
afastou do tipo primitivo, à proporção que o Espírito progrediu.”(2)
Allan Kardec explica que "desconhecemos a origem e o
modo de criação dos Espíritos; apenas sabemos que eles são criados simples e
ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento, porém perfectíveis e com
igual aptidão para tudo adquirirem e tudo conhecerem”.(3) O Espírito André Luiz
argumenta que “para alcançar a idade da razão, com o título de homem, dotado de
raciocínio e discernimento, o ser automatizado em seus impulsos, no caminho
para o reino angélico, despendeu nada menos que um bilhão e meio de anos”.(4)
Muitas das transformações que se verificaram no “homo” foram
promovidas em suas estruturas perispirituais, entre uma existência e outra (ou
seja, na dimensão espiritual). Os Espíritos construtores, sob a supervisão do
Cristo, retocavam, em vezes sucessivas, as formas perispiríticas, e estas
alterações criariam o campo magnético para as futuras mutações. Experiências
múltiplas, no patrimônio genético dos nossos antepassados, coordenadas por
geneticistas siderais, foram modelando aquelas formas que deveriam persistir
até os tempos atuais. A seleção natural se incumbiria de fazer desaparecer as formas
primitivas inaptas.
Linhagem definitiva para todas as espécies
Conforme afirma Emmanuel, atualmente a ciência procura os
legítimos antepassados das criaturas humanas nessa imensa vastidão da arena da
evolução anímica. “No período terciário(5), sob a orientação das esferas
espirituais, notavam-se algumas raças de antropoides, no Plioceno inferior [de
5,3 milhões a 1,6 milhão de anos]. Esses antropoides, antepassados do homem
terrestre, e os ascendentes dos símios que ainda existem no mundo,
tiveram a sua evolução em pontos convergentes, e daí os
parentescos sorológicos entre o organismo do homem moderno e o do chimpanzé da
atualidade.”(6)
Para o autor de “Renúncia”, não houve propriamente uma
"descida da árvore" no início da evolução humana. “As forças
espirituais que dirigem os fenômenos terrestres, sob a orientação do Cristo,
estabeleceram, na época da grande maleabilidade dos elementos materiais, uma
linhagem definitiva para todas as espécies, dentro das quais o princípio
espiritual encontraria o processo de seu acrisolamento, em marcha para a
racionalidade.”(7)
Os antropoides das cavernas espalharam-se então aos grupos
pela superfície do globo, no curso vagaroso dos séculos, sofrendo as
influências do meio e formando os pródromos das raças futuras em seus tipos
diversificados; a realidade, porém, é que as entidades espirituais auxiliaram o
homem do sílex, imprimindo-lhe novas expressões biológicas.
Os milênios correram o seu toldo de experiências drásticas
sobre a fronte desses seres de “braços alongados e de pelos densos, até que um
dia as hostes do invisível operaram uma definitiva transição no corpo
perispiritual preexistente dos homens, surgem os primeiros selvagens de
compleição melhorada, tendendo à elegância dos tempos do porvir”.(8)
O tema da morte e “civilização”
O Homem só começa a ser Homem quando começa a enterrar seus
mortos, diz-nos o historiador Aníbal de Almeida Fernandes, em "A
Genealogia como fator básico na formação da Civilização", e conclui: É o
marco divisório entre o animal e o primeiro homem, e ocorreu há cerca de 40.000
anos com o Homo Sapiens e o Homo Neanderthal, antes mesmo da agricultura, e é o
início da história humana. O sentimento de cultuar os mortos foi moldado, pois,
a partir de época bem remota e está sedimentado em quase todas as tendências
religiosas.
As comunidades primitivas, agropastoris, inclinadas ao culto
agrícola e ao culto da fertilidade, acreditavam, originariamente, que, em
sepultando seus mortos nas proximidades dos campos agrícolas, os Espíritos
desses cadáveres ressurgiriam à vida com mais vigor, quais sementes plantadas
em solo fértil, mas acreditavam que isso se daria como algo secreto e
misterioso. Com essa crença, reverenciavam-se os mortos próximos às tumbas, com
festas e, sobretudo, com muita alegria, prática que se estendeu viva em algumas
culturas contemporâneas.
Os costumes dos povos primitivos foram-se modificando devido
à influência de outros, vindos, provavelmente, do Norte da África (os Iberos) e
do Centro da Europa (os Celtas). Veja-se o que nos revela um dos expoentes da
Doutrina Espírita: "É dos gauleses que vem a comemoração dos mortos (...)
só que, em vez de comemorar nos cemitérios, entre túmulos, era no lar que eles
celebravam a lembrança dos amigos afastados, mas não perdidos, que eles
evocavam a memória dos Espíritos amados que algumas vezes se manifestavam por
meio das druidisas e dos bardos inspirados".(9)
Ressalte-se, aqui, que os gauleses evocavam os ancestrais
mortos (divindades) nos recintos de pedra bruta.
As druidisas (sacerdotisas) e os bardos (poetas e oradores
inspirados) eram verdadeiros "médiuns" e somente eles tinham
consentimento para consultarem os oráculos (na Antiguidade, resposta de uma
divindade a quem a consultava). Os gauleses, portanto, não veneravam os restos
cadavéricos, mas a alma sobrevivente, e era na intimidade de cada habitação que
celebravam a lembrança de seus mortos, longe das catacumbas, diferentemente dos
povos primitivos.
Advento dos forasteiros cósmicos
De onde vieram tais Inteligências? Elucida o Espírito
Emmanuel que “há muitos milênios, um dos orbes da Capela(10), que guarda muitas
afinidades com o globo terrestre, atingira a culminância de um dos seus
extraordinários ciclos evolutivos. Alguns milhões de Espíritos rebeldes lá
existiam, no caminho da evolução geral, dificultando a consolidação das penosas
conquistas daqueles povos cheios de piedade e virtudes, mas uma ação de
saneamento geral os alijaria daquela humanidade, que fizera jus à concórdia perpétua,
para a edificação dos seus elevados trabalhos”.(11)
As grandes comunidades espirituais, diretoras do Cosmos,
“deliberam, então, localizar aquelas entidades, que se tornaram pertinazes no
crime, aqui na Terra longínqua, onde aprenderiam a realizar, na dor e nos
trabalhos penosos do seu ambiente, as grandes conquistas do coração e
impulsionando, simultaneamente, o progresso dos seus irmãos inferiores. Aqueles
seres angustiados e aflitos seriam degredados na face obscura do planeta
terrestre; andariam desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura;
reencarnariam no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso
perdido nos firmamentos distantes”.(12)
A Natureza ainda era, para os trabalhadores da
espiritualidade, um campo vasto de experiências infinitas; tanto assim que, “se
as observações do mendelismo fossem transferidas àqueles milênios distantes,
não se encontraria nenhuma equação definitiva nos seus estudos de biologia. A
moderna genética não poderia fixar, como hoje, as expressões dos
"genes", porquanto, no laboratório das forças invisíveis, as células
ainda sofriam longos processos de acrisolamento, imprimindo-se-lhes elementos
de astralidade, consolidando-se-lhes as expressões definitivas, com vistas às organizações
do porvir”.(13)
Solidariedade selvagem?
Apostam os arqueólogos que no interregno de 500 mil e 40 mil
anos, o sentimento evoluiu e os primeiros seres humanos, como o Homo
heidelbergensis e o Neanderthal, já demonstravam compromisso com o bem-estar dos
outros, o que pode ser comprovado através de uma adolescência longa e a
dependência em caçar juntos. Cremos que "não somos criações milagrosas,
destinadas ao adorno de um paraíso de papelão. Somos filhos de Deus e herdeiros
dos séculos, conquistando valores, de experiência em experiência, de milênio a
milênio".(14) Com a conquista da razão, aparecem o raciocínio, a lucidez,
o livre-arbítrio e o pensamento contínuo. “Até então, o progresso tinha uma
orientação centrípeta [de fora para dentro]; o ser crescia pela força das
coisas, já que não tinha consciência de sua realidade, nem tampouco liberdade
de escolha. Ao entrar no reino hominal, o princípio inteligente – agora sim,
Espírito – está apto a dirigir a sua vida, a conquistar os seus valores pelo
esforço próprio, a iniciar uma evolução de orientação centrífuga [de dentro
para fora].”(15)
Mas a conquista da inteligência é apenas o primeiro passo
que o Espírito vai dar em sua estada no reino hominal. “Ele iniciou na valorosa
luta para conquistar os valores superiores da alma: a responsabilidade, a
sensibilidade, a sublimação das emoções, enfim, todos os condicionamentos que
permitirão ao Espírito alçar-se à comunidade dos Seres Angélicos.”(16) Os
sonhos premonitórios, as visões de Espíritos, a audição da voz dos mortos,
inclusive nos fenômenos de voz direta, e a materialização de Espíritos foram
fatos concretos, que levaram o homem primitivo à crença na continuação da vida
após a morte.
Diretamente dos médiuns neandertalenses surgiram os
feiticeiros, ancestrais dos sacerdotes de todas as religiões.(17)
Sentimento e humanização da Terra
Segundo um princípio sofista atribuído a Protágoras, "O
homem é a medida de todas as coisas", mas uma medida por assim dizer
afetiva, sem o controle da razão. Por isso Herculano Pires afirma que “é pelo
sentimento, e não pelo raciocínio, que o homem primitivo humaniza o mundo”.(18)
Destarte, ficam ratificadas as teses científicas sobre o homem pré-histórico
que integrou o sentimento de compaixão na síntese do pensamento racional
através de ações efetivas para o outro semelhante.
Notas e referências bibliográficas:
(1) Publicado na Revista Galileu disponível no site.
(2) Kardec, Allan. A Gênese, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1997,
cap. 11, "Hipótese sobre a origem do corpo humano".
(3) Kardec, Allan. Obras Póstumas, Rio de Janeiro: Ed. FEB,
1999, § 3º, 1ª Parte.
(4) Xavier, Francisco Cândido e Waldo Vieira. Evolução em
Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1994.
(5) As designações terciário e quaternário são resquícios de
uma nomenclatura geológica anterior, quando eram usadas para distinguir rochas
mais recentes de outras, mais antigas, classificadas então como primárias e
secundárias. O terciário subdivide-se em cinco épocas: paleoceno (de 66,4 a
57,8 milhões de anos), eoceno (de 57,8 a 36,6 milhões de anos), oligoceno (de
36,6 a 23,7 milhões de anos), mioceno (de 23,7 a 5,3 milhões de anos) e
plioceno (de 5,3 milhões a 1,6 milhão de anos). O período quaternário
subdivide-se, por sua vez, em pleistoceno (de 1,6 milhão a dez mil anos) e
holoceno ou atual (os últimos dez mil anos).
(6) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da luz, ditado pelo
Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991.
(7) Idem.
(8) Idem.
(9) Denis, Léon. O gênio céltico e o mundo invisível. Rio de
Janeiro: Ed. CELD. 1995, p. 180.
(10) Capela é magnífico Sol, inúmeras vezes maior que o
nosso Sol. Dista da Terra cerca de 42 anos-luz. Conhecida desde a mais remota
antiguidade, Capela é uma estrela gasosa, segundo afirma o célebre astrônomo e
físico inglês Arthur Stanley Eddington, e de matéria tão fluídica que sua
densidade pode ser confundida com a do ar que respiramos.
(11) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado
pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1991.
(12) Idem.
(13) Idem.
(14) Idem.
(15) Idem.
(16) Xavier, Francisco Cândido e Waldo Vieira. Evolução em
Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro; Ed. FEB, 1994.
(17) Djalma Argollo. Estudos da Mediunidade antes da
Codificação Kardequiana http://www.espirito.org.br
(18) Pires J. Herculano. O Espírito e o Tempo, Introdução
Antropológica ao Espiritismo, São Paulo: Edicel, 1979, 3ª edição.
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