domingo, 14 de junho de 2015

A Vida Espiritual no Além

Djalma Santos*


“Disse-vos já que nada compreendia além do meu crime, e que não podia abandonar a casa em que o cometi, a não ser a vagar no espaço, solitário e desconhecido; disso não poderia dar-vos uma ideia, porque nunca pude compreender o que se passava. Desde que me alçava no espaço, era tudo trevas e vácuo, ou antes, não sei mesmo o que era. Hoje, o meu remorso é muito maior, no entanto, não sou constrangido a permanecer naquela casa fatal.” (Alan Kardec - O Céu e o Inferno , 2a parte. Cap. VI. Questão 17).

Mesmo depois que o espírito imortal passa por dezenas e dezenas de reencarnações sucessivas, no processo de ir para o mundo espiritual pela morte, e voltar ao mundo físico pelo nascimento, o homem terreno pouco sabe o que acontece do outro lado da vida; e, quando é surpreendido por esse mecanismo natural e biológico, que chamamos de “morte”, sente-se inseguro, porque não sabe o que o espera, e dificilmente está suficientemente educado para atravessar as águas enigmáticas do rio da “morte”.

Exatamente por isso, chega ao além da vida totalmente desequilibrado, sem condições de se adaptar com facilidade, dando aos irmãos espirituais que trabalham na tarefa de ajudar os recém-desencarnados, condições ideais de receptividade. De um modo geral, o pensamento do ser humano a respeito da “morte”, é que ela é o fim, o aniquilamento de tudo, e a consequência dessa desinformação, faz que o espírito sofra antes, na hora e depois da “morte”; por falta de uma estrutura espiritual forte, baseada na educação moral e física, adotando procedimentos que atenuam os problemas que, certamente todos os desencarnados vão enfrentar após a perda da indumentária física.

O conhecimento adquirido através da Doutrina Espírita, de que a “morte” é apenas um sono que se completa; um estágio entre duas vidas; e que só elimina o “corpo físico”, é fator preponderante, além da certeza de que a vida continua depois da “morte”, mesmo não sendo visível aos olhos humanos, mas visível aos olhos espirituais, e também visível aos olhos dos sensitivos que chamamos de médiuns. Em síntese todos somos médiuns, e estamos capacitados para nos comunicar com os espíritos a todo o momento, desde que surjam oportunidades para isso.

A palavra de ordem a respeito da “morte” é educação; é ter conhecimento de que o espírito imortal, esse viajor incansável da eternidade, esse andarilho do infinito, esse nômade do espaço, continua sua jornada evolutiva em outras dimensões do espaço, depois de sua experiência no campo da carne. A desencarnação é um fenômeno biológico pelo qual todos os seres orgânicos tem que passar, e podemos afirmar com absoluta certeza, que a “morte” é democrática, neutra, imparcial, e não procura ninguém; nós a procuramos, e ela só cumpre uma agenda, levando ricos, pobres, doentes sadios, crianças, jovens, adultos e idosos, numa ação contínua de aumentar o contingente de espíritos no mundo espiritual, sem, no entanto influir na vida das pessoas.

Podemos ainda dizer que a “morte” é um caminhão que faz mudanças; só faz a mudança, não tem nenhum poder, porque o poder está com o dono da mudança que somos nós, seres humanos, e a felicidade ou infelicidade depois da “morte” vai depender do tipo de “carga” que vai colocar em cima do caminhão que é a “morte”. Se colocarmos uma “carga” corrosiva, sombria, que corresponde ao vício do álcool, do fumo, do jogo, das drogas e do sexo desregrado, ou ainda, o cultivo do ódio, do rancor, do ressentimento, da raiva, do ciúme, da maledicência, da prepotência, do autoritarismo, da maldade, crueldade e da perversidade; certamente seremos infelizes do outro lado da vida. Mas se colocarmos uma “carga” leve, pautada na bondade, na mansuetude, na caridade, na solidariedade, no compartilhamento, na renúncia e na caridade; não teremos nenhum problema no além, e seremos felizes juntos aqueles que se foram antes de nós.

Não existe nenhuma fórmula para nos livrar da “morte”, porque sua chegada é inevitável para todos, mas é apenas uma desorganização biológica imperativa, porque precisamos nos desorganizar fisicamente para que possamos nos organizar espiritualmente no mundo de origem, que é o mundo dos pensamentos. Após a “morte” do corpo físico, continuamos a sermos nós mesmos, mudamos muito pouco ou quase nada, e até as nossas características físicas continuam as mesmas, ou seja, continuamos com a forma humana depois do desencarne. Depois da “morte”, o períspirito se desagrega do corpo físico, e passa a ser o novo instrumento de apresentação do espírito, com o nome de “Corpo espiritual”.

As dificuldades de obstáculos, que a maioria dos espíritos encontra do outro lado da vida, são decorrentes dos erros, pecados e ilícitos cometidos contra os outros na existência física, que catalogados na consciência do homem, que em síntese, é o seu advogado, promotor e juiz ao mesmo tempo, defende, acusa e pune todos aqueles que ferem as Leis Divinas que regem a vida cósmica. O bem edificado em contato com os semelhantes conquistam laços fraternos e de amizade, que servem de anteparo e segurança na nova vida fluídica do espírito, assim como os erros e os pecados contra os outros terão que ser ressarcidos na vida espiritual ou em outras reencarnações.

Chegando ao mundo dos pensamentos, o desencarnado passa por estágios sucessivos, a fim de se adaptar à nova vida, incluindo instruções sobre novo tipo de alimentação, de movimentação e locomoção, como realizar projetos de cocriação, de relacionamento, e principalmente, como controlar e utilizar o pensamento contínuo. A adaptação se torna mais fácil para quem se desapega dos bens materiais, das futilidades da vida física, dos vícios, desejos e paixões. As viciações fazem com o recém-desencarnado permaneça jugulado ao mundo terreno, com se vivo estivesse, e isso pode durar anos e anos sucessivos.

Outro detalhe interessante a respeito da “morte”, é que ela não transforma as pessoas em santas e nem em sábias, e cada um permanece do outro lado da vida exatamente como era quando vivo. O trabalho continua sendo, depois da “morte”, o fator preponderante na evolução do homem, e quem pensa que depois da “morte” vai descansar para sempre, está totalmente equivocado, porque a vida continua plena, estuante e dinâmica, depois que passamos para o outro lado da vida.

O medo exagerado que milhares de pessoas têm do fenômeno “morte” não encontra respaldo em nenhuma religião ou seita, e tudo fica por conta do misticismo, lendas e informações falsas, passadas durante milênios, por religiões dogmáticas, que usaram a “morte“ para amedrontar os adeptos e fazê-los seguir fielmente os conceitos emitidos pela igreja. Jesus afirmou com muita propriedade que ”Onde estiver o seu tesouro, ali estaria o seu coração”, advertindo que todos aqueles que partem apegados às coisas, pessoas e instituições, certamente não saem da Terra, e permanecem jugulados, algemados aos objetos e pessoas de suas predileções.

Nenhum espírito fica desamparado no mundo espiritual, mesmo porque todos nós temos uma parentela familiar extensa que partiu antes de nós, mas a felicidade é mérito de cada uma, porque o homem é o único responsável pelo seu destino, um caçador de si mesmo, e procura por fora, o que já tem por dentro, coroando a frase lapidar de Jesus em seu Evangelho de amor “O reino de Deus está dentro de vocês”.

*Djalma Santos - escritor e palestrante espirita

Fonte - Jornal Correio Espírita

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