Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Depois da solene Festa do Sagrado Coração de Jesus, que foi
também o Dia de Oração pela Santificação Sacerdotal, e da memória carinhosa do
Imaculado Coração de Maria, neste ano coincidindo com a de Santo Antônio de
Pádua ou de Lisboa, chegamos ao 11º Domingo do Tempo Comum. Neste domingo em
que ouvimos parábolas do Reino e com comparações bem simples, somos chamados a
abrir o coração para acolher o Senhor que nos convoca. Estejamos atentos,
porque o Senhor nos falando do Reino de Deus, Reino que começa aqui,
experimentado quando nós abrimos para o anúncio de Jesus; Reino que será pleno
na glória, quando cada um de nós e toda a humanidade, com a sua história,
entrar, um dia, na plenitude do coração da Trindade Santa.
O que nos diz o Senhor? Diz-nos que o Reino de Deus vem de
modo humilde e se manifesta nas coisas pequenas. Pequenas como um grãozinho
jogado na terra, como uma semente de mostarda, como um brotinho frágil e sem
aparente valor. O Reino é como o próprio Jesus: aquele brotinho retirado da
ponta da grande árvore da dinastia de Davi... aquele brotinho pobre, da
carpintaria de Nazaré, donde nada que prestasse poderia vir. Os modos de Deus,
a lógica de Deus, o jeito de Deus! Como tudo é tão diverso de nossas
expectativas!
Outra lição deste domingo cotidiano: o Reino vem aos poucos.
Inaugurado e plantado definitivamente no chão deste mundo e irá crescendo como
a semente, como o grão de mostarda, aos poucos. Somos tão impacientes,
gostaríamos tanto que Deus respeitasse nossos prazos. Mas, não! Se os
pensamentos do Senhor não são os nossos, tampouco seus tempos são iguais aos da
gente! Somente perseverará na paciência aquele que souber adequar-se aos tempos
de Deus. E Deus contempla o tempo na perspectiva da eternidade e não das nossas
pressas. Assim vai o Reino brotando humildemente na história e no coração do
mundo, de um modo que somente quem reza e contempla pode perceber.
Nós, filhos de um mundo tão pragmático e autossuficiente,
temos tanta dificuldade em perceber a ação de Deus! Pensamos que nós é que
fazemos, que nós é que somos os sujeitos últimos do mundo e da história! Como
estamos enganados! É Deus quem faz o Reino desenvolver-se na potência do
Espírito. Que diz o Senhor? "O Reino de Deus é como quando alguém espalha
a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai
germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece"! Nós, com a
graça de Deus, vamos plantando o Reino que Cristo trouxe. Como plantamo-lo?
Plantamos quando nós nos abrimos à graça, plantamos com nosso exemplo,
plantamos com nossa palavra, plantamos com nossa ação. Mas, cuidado! É o
próprio Deus, com a energia do Santo Espírito, quem faz o Reino crescer: é obra
D’Ele, não nossa. São Paulo não nos dizia? Um é o que planta, outro, o que
rega, mas é Deus quem faz crescer. É assim que Deus vai agindo, tomando nossas
pobres sementes e fazendo-as desabrochar no seu Reino, vigor, paciência e
suavidade.
Um dia, diz Jesus, chegará o momento da colheita. Haverá um
fim na história humana, caríssimos, e, então, "todos deveremos comparecer
ante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou
castigo – do que tiver feito na sua vida corporal". Não adianta querer
esquecer, de nada serve fingir que não sabemos: aqui estamos de passagem, aqui
vamos semeando o Reino que Jesus trouxe e que Deus mesmo faz crescer; mas, a
colheita definitiva não será nesta vida, pois o Reino que começa no tempo,
haverá de espraiar-se na eternidade; o Reino que deve fecundar a história
somente será pleno e definitivo na glória. Como seríamos mais livres,
equilibrados se recordássemos essa realidade! Como teríamos o cuidado de viver
de tal modo, que não perdêssemos o Reino! Não entrará no Reino quem não
permitir que o Reino entre em si. Em certo sentido, não somos nós que entramos
no Reino, mas o Reino que entra em nós! Abrir-se para o Reino é abrir-se para o
Cristo Jesus! Abramo-nos para Ele e Ele nos abrirá o seu Reino!
Uma última lição de Jesus para nós, hoje: o seu sonho é que
todos entrem no seu Reino, naquela casa do Pai na qual há muitas moradas! É por
isso que, na Primeira Leitura, pousarão todos os pássaros à sombra da ramagem
da árvore que é o Messias, e as aves aí farão ninhos. O mesmo Jesus diz do
Reino, comparado ao pequeno grão de mostarda que germina e se torna arvora
frondosa. O Senhor nos ama a todos, nos quer todos felizes, nos chama a todos!
Se lhe dermos ouvidos, se aprendermos o compasso do seu coração,
experimentaremos a alegria do Reino já nesta vida, com provações, e, um dia,
haveremos de saboreá-lo por toda a eternidade! – Senhor Jesus, dá-nos, pois, a
graça de abrir as portas do nosso coração e do coração do mundo para o Reino do
Pai que anunciaste e inauguraste! Venha o Reino na potência do teu Espírito que
habita em nós e no coração da Igreja! E que através de nós, ele se faça sempre
mais presente no mundo. Que neste Ano da Esperança, o Senhor nos conduza para
sermos sempre mais suas testemunhas!
Fonte - CNBB
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