Enquanto uma criança brasileira que quer estudar e um
professor brasileiro que se esforça para ensinar alimentam esse sonho em
condições precaríssimas (D), estudante chinesa vibra ao ir para a escola limpa,
alimentada e com segurança de aprendizado acima de 96%. |
Muito se tem falado sobre menor idade. E muitos são, na
maioria das vezes, favoráveis à diminuição da idade penal. Na maioria das
opiniões, a menor idade penal é uma das soluções para nosso problema maior: A
completa insegurança pública.
Mas, mutatis mutandi, se começássemos a observar o que
acontece nas penitenciárias, cadeias e cubículos públicos onde se ‘guarda’
apenados, presos e detidos, chegaríamos a uma outra dolorosa conclusão: Onde
enfiar os 37% a mais de apenados, presos e detidos menores de 16 anos?
O termo dramático é ‘enfiar’. Por que nosso sistema
penitenciário e de aprisionamento está um verdadeiro caos. Em vários pontos de
vista:
1 - O humano: Fiquei horrorizado com o texto que li ontem
assinado pelo frade dominicano Marcos Sassatelli: "A quase totalidade dos
presos é pobre e, entre os pobres, a maioria é negra. A discriminação racial
ainda existe. Os maiores criminosos da sociedade capitalista neoliberal na qual
vivemos são ricos e não vão para a cadeia". Verdade e Sassatelli tem
cabedal para isso. É doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção -
SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
2 – Físico: O Sistema Prisional do Brasil não tem um mínimo
metro quadrado que não seja podre, nojento, superlotado e desumano. (Claro tem
muitos desgraçados assassinos brutais que merecem isso, mas esse não é o fato).
O sistema prisional é uma calamidade pública. “Salvo raríssimas exceções, as
cadeias são depósitos de lixo humano”, reforça o frade dominicano. E o que se
vê no Brasil é um total desrespeito à própria Constituição.
3 – Étnico: É triste revelar isso, com base em números
sustentados em pesquisas reais. O 'Mapa do encarceramento', lançado pelo
governo federal mostrou uma realidade nua e crua. “Os jovens, pobres e negros
predominam nas prisões do país”. E foi exatamente esse problema étnico que vem
impulsionando o crescimento absurdo da população carcerária, que passou de
296,9 mil pessoas, em 2005, para 515,4 mil em 2012, com elevação de 74%. Os
números chegaram a 2012. Coloca mais 3 anos em cima.
4 – A idade: Os jovens presos envolvidos nessa pesquisa,
estão com idade entre 18 e 29 anos e representam 54,8% desse universo, enquanto
os negros são 60,8% do total, segundo mostra o estudo “Mapa do Encarceramento –
Os jovens do Brasil”, pesquisa realizada por meio da Secretaria Nacional de
Juventude (SNJ) e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
(Seppir), e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A
pesquisa traz um recorte racial e etário da população carcerária no país. Os
dados permitem uma análise comparada com informações de ocorrências de
homicídios, pondo em dúvida a eficácia do encarceramento massivo para a redução
desse tipo de crime. Inclusive, levanta a grande questão: A diminuição da
Menoridade Penal.
5 – Superlotação: As superlotações das cadeias e
penitenciárias tem mostrado nos últimos anos o total descontrole das políticas
pertinentes no Brasil. Revoltas, assassinatos e pânico nas ruas e cadeias
alimentam um vício da incompetência e traduzem, esses movimentos marginais, na
dúvida de onde ‘armazenar’ dezenas de outros jovens (os que ainda estão fora do
Sistema Prisional Nacional), se presos e condenados.
6 – A Vulnerabilidade: Em meu bestunto, chego à triste
conclusão que tudo isso é o resultado dos últimos 40 anos da pseuda reforma
enigmática do ensino público, desde lá do final da Ditadura Militar, passando
pelos primeiros governos civis, que nada fizeram ou contribuíram para garantir
a qualidade desse ensino público. Eu estudei, na década de 60/70 no Colégio
Estadual (Liceu) Maranhense, onde os mesmos professores das faculdades que na
época existiam, ensinavam as matérias básicas. A disciplina, o civismo, a
lealdade, o respeito à família, aos professores e aos colegas eram algo
indiscutível.
7 – As Reformas: Sem perder a memória, da década de 70 até
agora foram dezenas de Reformas Escolares. Pioraram o método de ensino, a
pesquisa e as condições físicas das escolas. Pioraram, além de tudo, a
qualificação do professor (coitado, em certos casos de miséria) e a função
primordial da escola: evoluir com o Mundo. O Brasil, segundo pesquisa feita por
entidades ligadas ao ensino mundial, involuiu, nos últimos 25 anos, “(menos
25%) na evolução dos métodos, aparelhamentos e adaptações do ensino médio
diante de 42 países”, entre eles, países muito mais pobres que nós. Uma
vergonha.
8 – As consequências: Essas são até inconsequentes ao
extremo. Li numa matéria do jornalista José de Oliveira Ramos em nosso site
www.domeulivro.com.br, observações do senador Cristovam Buarque, pasmem,
ex-Ministro da Educação, onde ele afirma que as escolas estão rodeadas de
traficantes e essa violência do meio, influencia as crianças.
E diz mais: “A escola não é uma instituição valorizada e, ao
não ser valorizada, as crianças também entram na mesma onda da não valorização,
se sentem no direito de quebrar os vidros, se sentem no direito de levar as
coisas para fora. A escola desvalorizada gera violência, e a violência
desmoraliza ainda mais a escola. Os professores hoje estão fugindo, porque o
salário é baixo e há muito desrespeito com relação à profissão deles”, ou seja,
os programas educacionais dos governos nada mais são do que erros e mais erros
evidentes em cima de uma política pública eivada de corrupção e desinteresse na
formação de brasileiros competentes e competitivos, diante de países vizinhos
cada vez mais evoluídos no quesito ‘edificação educacional infantil’.
De nada adiante encher a barrida, sem educar, sem ensinar a
competir, sem ensinar a pescar. É assim que outros países com governos sérios
fazem. Investir em suas crianças, em sua juventude. Isso elimina um percentual
elevado de marginais e dependentes exclusivos do Estado.
Tomo de imediato um dos exemplos com maiores índices de
educação no Mundo. O primeiro lugar no Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes (Pisa) foi província de Xangai, na China, cujo exigente sistema de
ensino cria vantagens exponenciais na formação dos seus estudantes.
Cálculo e memorização do conteúdo são as prioridades no
ensino, deixando de lado a criatividade e a capacidade de análise e de
expressão. Além de passar a manhã e a tarde na escola, os alunos da China
estudam em casa quase três vezes mais que a média mundial.
A maioria gasta em média 13,8 horas diárias fazendo lição de
casa, segundo o governo chinês. A média mundial é de 4,9 horas.
E no Brasil? Quantas horas uma criança pobre e negra gasta
com estudos? Nem precisa entrar no mérito. Só lembrando. O mesmo (Pisa) que
avaliou o ensino em 65 países, deu ao Brasil, a honrosa 58ª posição. Só
rememorando. 58ª posição entre 65 países avaliados. Chega! Nem escrever mais eu
vou. Chega!
*Jornalista sênior, editor do site www.domeulivro.com.br
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