domingo, 16 de agosto de 2015

Obsessão espiritual em jovens

Lúcia Moysés


Há um provérbio judaico que diz: “As mães compreendem até o que os filhos não dizem”. Deve ser verdade. Pelo menos para muitas mães tem sido assim, como no caso que me foi narrado, sobre uma muito especial.
Há dias que ela tentava, por todos os meios, entrar em contato com a filha, sem nada conseguir. Ela simplesmente não atendia aos seus chamados. Por isso, quando o telefone tocou, correu para atendê-lo, na esperança de uma resposta. Mas não era a sua menina. Era uma colega dela que tomara a iniciativa de procurá-la com um pedido de socorro: sua filha estava com depressão profunda, iniciando um de tratamento psiquiátrico.
Saiu de casa transtornada, com um aperto no coração. Ia rumo à capital do estado, onde sua filha passou a morar desde que ingressara na faculdade. No caminho, cenas felizes ganhavam vida em sua mente, trazendo de volta a infância dos seus filhos. Via a sua filhinha, tão alegre, tão determinada, sempre pronta para comandar as brincadeiras junto aos dois irmãos. Uma verdadeira líder. Lembrava-se do misto de prazer e dor que sentiu no dia em que a viu partir em busca da realização dos seus projetos de vida. Queria ser médica veterinária.
Nos primeiros dois anos, a jovem não perdia nenhuma oportunidade de visitar o lar paterno. As vindas, porém, foram se escasseando e passados quatro anos, a situação ganhara contornos completamente diferentes. Abandonara os estudos, começara a trabalhar e passara a dividir um apartamento com outras colegas. As tentativas da mãe de manter o contato foram encontrando barreiras cada vez mais difíceis de serem transpostas. E agora, apesar das imensas facilidades existentes de comunicação, sua filha se fechara como uma concha, provocando-lhe um profundo sofrimento.
O médico provavelmente tratará o caso como um transtorno de personalidade. Sob o prisma da Doutrina Espírita, porém, pode ser algo mais profundo.
Na questão 385 de O Livro dos Espíritos, Kardec obtém dos Imortais a explicação para as grandes transformações por que passam certos jovens, entre 15 e 20 anos. Nesta fase – dizem eles –, o espírito manifesta a sua verdadeira individualidade, “seu caráter real e individual ressurge em toda a sua nudez”.
Sabemos que grande parte da humanidade traz pesados compromissos reencarnatórios em função de faltas cometidas em existências anteriores. Cada nova romagem terrena é uma oportunidade oferecida por Deus a seus filhos para, através do bem e do amor, iluminarem as sombras que trazem dessas vidas. Dependendo da gravidade dos erros cometidos, é possível que vítimas do passado se transformem em algozes espirituais dos seus devedores, passando a persegui-los de forma obstinada e tenaz. São as chamadas obsessões, cujas facetas externas podem se manifestar de diversas maneiras, sendo a depressão profunda uma das mais conhecidas.
O espírito, ao retornar, traz o esquecimento do passado, o que, na realidade, acaba funcionando como uma capa de proteção. É como se ele se tornasse invisível e, portanto, inatingível aos cobradores que ficaram para trás.
Cada nova encarnação é uma oportunidade para se evoluir – um processo que começa nos primeiros anos de vida, com a ajuda dos pais, especialmente. São eles os principais responsáveis pelo adiantamento espiritual dos seus filhos. Assim, aqueles que desde muito cedo os ajudam a trilhar o caminho do bem e do amor ao próximo, despertando-lhes os bons sentimentos e aproximando-os do Evangelho de Jesus, acabam atraindo a presença dos benfeitores espirituais para junto deles, mantendo-os em uma psicosfera de amparo e de luz.
Quando chega o momento em que o espírito assume o seu caráter real, essa sintonia na qual se encontra oferece forte resistência a qualquer aproximação espiritual de teor vibratório inferior. Ela age como um escudo a dificultar as investidas dos perseguidores do passado.
Pais que compreendem a importância da criação e manutenção de uma psicosfera sadia no lar, que orientam seus filhos e os conduzem para a prática do bem estão atuando de modo profilático com vistas ao futuro. Independente de se saber que tipo de espírito Deus encaminhou para os nossos braços, cumpre-nos o dever de lhes oferecer os melhores recursos para que avancem espiritualmente na jornada que estão encetando ao nosso lado.
E se em algum momento eles forem apanhados nas malhas dos inimigos da retaguarda, ainda é a Doutrina Espírita que pode socorrê-los, oferecendo o tratamento especializado sob a forma de amparo aos sofredores dos dois lados da vida, o que se dá nas reuniões mediúnicas de desobsessão. E, para a vítima de hoje, a fluidoterapia e o passe são formas complementares dessa ajuda que se faz de forma gratuita e desinteressada. O importante é não desistir de ajudar aos filhos necessitados e saber que podemos contar com o auxílio do Mais Alto.

(Lúcia Moyses é educadora e escritora espírita)

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