Há um provérbio judaico que diz: “As mães compreendem até o
que os filhos não dizem”. Deve ser verdade. Pelo menos para muitas mães tem
sido assim, como no caso que me foi narrado, sobre uma muito especial.
Há dias que ela tentava, por todos os meios, entrar em
contato com a filha, sem nada conseguir. Ela simplesmente não atendia aos seus
chamados. Por isso, quando o telefone tocou, correu para atendê-lo, na
esperança de uma resposta. Mas não era a sua menina. Era uma colega dela que
tomara a iniciativa de procurá-la com um pedido de socorro: sua filha estava
com depressão profunda, iniciando um de tratamento psiquiátrico.
Saiu de casa transtornada, com um aperto no coração. Ia rumo
à capital do estado, onde sua filha passou a morar desde que ingressara na
faculdade. No caminho, cenas felizes ganhavam vida em sua mente, trazendo de
volta a infância dos seus filhos. Via a sua filhinha, tão alegre, tão
determinada, sempre pronta para comandar as brincadeiras junto aos dois irmãos.
Uma verdadeira líder. Lembrava-se do misto de prazer e dor que sentiu no dia em
que a viu partir em busca da realização dos seus projetos de vida. Queria ser
médica veterinária.
Nos primeiros dois anos, a jovem não perdia nenhuma
oportunidade de visitar o lar paterno. As vindas, porém, foram se escasseando e
passados quatro anos, a situação ganhara contornos completamente diferentes.
Abandonara os estudos, começara a trabalhar e passara a dividir um apartamento
com outras colegas. As tentativas da mãe de manter o contato foram encontrando
barreiras cada vez mais difíceis de serem transpostas. E agora, apesar das
imensas facilidades existentes de comunicação, sua filha se fechara como uma
concha, provocando-lhe um profundo sofrimento.
O médico provavelmente tratará o caso como um transtorno de
personalidade. Sob o prisma da Doutrina Espírita, porém, pode ser algo mais
profundo.
Na questão 385 de O Livro dos Espíritos, Kardec obtém dos
Imortais a explicação para as grandes transformações por que passam certos
jovens, entre 15 e 20 anos. Nesta fase – dizem eles –, o espírito manifesta a
sua verdadeira individualidade, “seu caráter real e individual ressurge em toda
a sua nudez”.
Sabemos que grande parte da humanidade traz pesados
compromissos reencarnatórios em função de faltas cometidas em existências
anteriores. Cada nova romagem terrena é uma oportunidade oferecida por Deus a
seus filhos para, através do bem e do amor, iluminarem as sombras que trazem
dessas vidas. Dependendo da gravidade dos erros cometidos, é possível que
vítimas do passado se transformem em algozes espirituais dos seus devedores,
passando a persegui-los de forma obstinada e tenaz. São as chamadas obsessões,
cujas facetas externas podem se manifestar de diversas maneiras, sendo a
depressão profunda uma das mais conhecidas.
O espírito, ao retornar, traz o esquecimento do passado, o
que, na realidade, acaba funcionando como uma capa de proteção. É como se ele
se tornasse invisível e, portanto, inatingível aos cobradores que ficaram para
trás.
Cada nova encarnação é uma oportunidade para se evoluir – um
processo que começa nos primeiros anos de vida, com a ajuda dos pais,
especialmente. São eles os principais responsáveis pelo adiantamento espiritual
dos seus filhos. Assim, aqueles que desde muito cedo os ajudam a trilhar o
caminho do bem e do amor ao próximo, despertando-lhes os bons sentimentos e
aproximando-os do Evangelho de Jesus, acabam atraindo a presença dos
benfeitores espirituais para junto deles, mantendo-os em uma psicosfera de amparo
e de luz.
Quando chega o momento em que o espírito assume o seu
caráter real, essa sintonia na qual se encontra oferece forte resistência a
qualquer aproximação espiritual de teor vibratório inferior. Ela age como um
escudo a dificultar as investidas dos perseguidores do passado.
Pais que compreendem a importância da criação e manutenção
de uma psicosfera sadia no lar, que orientam seus filhos e os conduzem para a
prática do bem estão atuando de modo profilático com vistas ao futuro.
Independente de se saber que tipo de espírito Deus encaminhou para os nossos
braços, cumpre-nos o dever de lhes oferecer os melhores recursos para que
avancem espiritualmente na jornada que estão encetando ao nosso lado.
E se em algum momento eles forem apanhados nas malhas dos
inimigos da retaguarda, ainda é a Doutrina Espírita que pode socorrê-los,
oferecendo o tratamento especializado sob a forma de amparo aos sofredores dos
dois lados da vida, o que se dá nas reuniões mediúnicas de desobsessão. E, para
a vítima de hoje, a fluidoterapia e o passe são formas complementares dessa
ajuda que se faz de forma gratuita e desinteressada. O importante é não
desistir de ajudar aos filhos necessitados e saber que podemos contar com o
auxílio do Mais Alto.
(Lúcia
Moyses é educadora e escritora espírita)
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