A Lenda do Santo Graal
Há muitos séculos, aproximadamente por volta do século VII,
vivia na cidade de Roma um Conde milionário, dono de muitas terras, muitos
imóveis, entre eles o castelo em que vivia com sua família. Possuía ouro,
prata, joias valiosíssimas, e um museu particular de obras sacras, ou seja,
peças, artigos, duplicatas e relíquias de uso na Igreja Católica; assim como
roupas, utensílios que pertenceram a Santos famosos, Papas e demais religiosos
de todos os tempos.
O Conde era muito religioso, e frequentava a Capela Sistina,
onde uma vez por semana, confabulava com Cardeais, Arcebispos e demais
graduados da Igreja tradicional, num chá que se promovia entre os membros da
Igreja e ele, que era um dos maiores colaboradores do papado em matéria de
doações para ajuda nas obras do Vaticano.
Nessas reuniões, conversava-se muito sobre todos os
assuntos, mas ao final do encontro, o assunto era sempre o Museu particular do
Conde, que segundo ele, tinha todos os objetos e relíquias em circulação nas
Igrejas de todo o mundo, gerando assim, certa antipatia em alguns graduados da
Igreja, que viam ele como um fanfarrão, que gostava de se gabar do seu acervo
de obras sacras.
Numa dessas reuniões, em que o assunto foi novamente
ventilado, um Cardeal resolveu questionar o Conde a respeito do seu Museu
caseiro, e perguntou se ele tinha o Cálice de Ouro, que Jesus teria usado para
tomar vinho com seus Apóstolos, na última ceia, e que teria dado origem à
“Lenda do Santo Graal”; que segundo a Igreja, colocando-se vinho no Cálice, ele
se transformaria em sangue.
Ao ouvir a pergunta do Cardeal, o Conde levou alguns
segundos matutando e respondeu: Esse Cálice eu não tenho, mas preciso saber se
ele existe. O religioso então respondeu que, o Cálice de Ouro estava em algum
lugar ignorado, ou seja, numa Igreja, numa Mesquita, num Museu particular como
o dele, mas sua existência era real, senão o Vaticano não o teria transformado
na “Lenda do Santo Graal”.
Encerrada a reunião, o Conde voltou para o seu Castelo
totalmente transtornado, e com a ideia fixa de que teria de encontrar o Cálice
de Ouro, para adicioná-lo ao seu acervo, custasse o que custasse, nem que
tivesse que gastar metade de sua imensa fortuna, na busca incansável desse
objeto sagrado que pertenceu ao divino Mestre Jesus.
Desejando levar seu plano adiante, reuniu seus familiares e
declarou o seguinte: Vou dividir toda a minha fortuna em duas partes: Vocês
ficarão com o castelo e metade dos meus bens, e o restante vou transformar em
dinheiro vivo, para buscar pelo mundo o Cálice de Ouro, que Jesus bebeu vinho
na última ceia com seus apóstolos, formando uma equipe de busca, começando
dentro da própria Roma.
Reuniu vários auxiliares de sua confiança, e começou sua
investigação na cidade de Roma, que tem centenas de igrejas e Mosteiros,
levando aproximadamente cinco anos sem nenhum resultado positivo. O Cardeal que
deu a informação sobre o Cálice de Ouro, falou sobre as características do
Cálice, para que não houvesse dúvidas quando fosse encontrado. E depois de
examinar dezenas de cálices nada havia sido encontrado.
Resolveu então sair de Roma e ir para o interior da Itália,
onde existe também um número incrível de igrejas, conventos e mosteiros,
investigando em todos eles, sem nenhum resultado positivo, o que o levou a
dispensar sua equipe de investigadores, a fim de reduzir despesas, e também
porque já havia decorrido dez longos anos de sua partida de Roma, e seus
auxiliares estavam com saudades de suas famílias.
Sem os colaboradores, partiu sozinho para os países da
Europa, começando pela Espanha, depois Portugal, que são eminentemente
católicos, e poderiam perfeitamente abrigar em alguma igreja o Cálice de Ouro.
Estava na França e Inglaterra, e em nenhum desses países nem mesmo se ouviu
falar dessa vasilha utilizada por Jesus junto aos seus Apóstolos, e mais dez
anos haviam sido decorridos.
Foi quando ele observou que seu dinheiro havia acabado, mas
mesmo assim resolveu continuar a busca em outros países, trabalhando para
ganhar seu sustento, e o que sobrava, pagava informações a respeito do Cálice.
Era um letrado, com curso superior e falava várias línguas, o que lhe deu
condições de utilizar seus conhecimentos para dar aulas e continuar procurando
o Cálice.
Já idoso, e sem condições de trabalhar para continuar a
busca; afastado de casa, dos amigos e parentes, acabou por se tornar um
mendigo, mas mesmo na mendicância, ele continuava procurando o Cálice.
Juntou-se a um grupo de deserdados da sorte, que moravam debaixo de um viaduto,
e ali passou a ser uma espécie de líder dos mendigos, mesmo porque era o mais
instruído, e tudo o que arrecadava durante o dia, ele distribuía fraternalmente
com todos. Conseguiu uma maleta de remédios de primeiro socorro, e como tinha
conhecimento de medicina, passou a cuidar dos feridos e doentes.
Certa noite muito fria, pois estava na Rússia com a
temperatura abaixo de zero grau, sentiu saudade de seu Castelo e de seus
familiares, e resolveu que iria voltar para casa sem ter encontrado o Cálice de
Ouro. Despediu-se de seus companheiros de infortúnio, e iniciou uma longa
jornada de volta, pegando carona, andando a pé, montado em animais, de carroça,
no sentido de alcançar a cidade de Roma e o seu antigo Castelo.
Já estava com 90 anos, pois havia saído na busca do Cálice
com 50, e agora velho e alquebrado, buscava o conforto de seu antigo lar, mesmo
sem saber como seria recebido pela sua parentela familiar. Depois de um ano
conseguiu chegar à cidade de Roma, e era noite de Natal! As ruas da cidade
estavam enfeitadas e luzes feéricas brilhavam nas vitrinas mostrando os artigos
de Natal. As pessoas apressadas caminhavam ao seu lado portando embrulhos de
presentes, e ele se arrastava pelas ruas, a fim de chegar ao seu Castelo.
Finalmente chegou em frente ao portão principal do Castelo;
e apoiou-se nas grades que cercavam o imóvel, tendo que se afastar devido aos
latidos dos cães ferozes que não gostavam de estranhos. Ouviu, então, uma voz
que o chamava dizendo o seguinte: Os donos do Castelo não gostam de mendigos, e
podem soltar os cães; vem comigo até um riacho que passa abaixo, e vou lhe dar
um pedaço de pão que ganhei nesta manhã.
Voltou-se para a voz que o chamava, e era um mendigo igual a
ele, com um saco sujo as costas, que o encaminhou para um regato de águas
cristalinas que passava pelo Castelo, que ainda era de sua propriedade. Ao
chegar ao regato, o novo amigo retirou de uma bolsa suja um pão que partiu ao
meio dando a metade, e a seguir encheu de água uma caneca de ferro enferrujada,
e deu-lhe para beber. O mendigo dono do Castelo e autor da busca pelo Cálice de
ouro bebeu a água e adormeceu profundamente.
No outro dia, foi encontrado morto à beira do riacho um
mendigo, o que era normal na época do Natal, devido ao frio que fazia no mês de
Dezembro, e teria passado despercebido, se não houvesse um fato que chamou a
atenção das autoridades. O mendigo morto segurava em uma das mãos uma caneca de
ferro, e por mais que tentassem retirar a caneca não foi possível, sendo
enterrado com a caneca na mão.
Surge então uma pergunta: Seria mesmo de ouro, a vasilha
usada por Jesus na última ceia com os Apóstolos para beber vinho, ou seria uma
simples caneca de ferro, tão ao gosto da simplicidade e da humildade do nosso
querido mestre Jesus. Na vida cotidiana, passamos às vezes anos e anos
procurando esse Cálice de Ouro, para encontrarmos no final de nossas vidas, uma
caneca de ferro, que representa o trabalho e a luta que devemos empreender na
busca da nossa felicidade.
*Djalma Santos é escritos e palestrante espírita
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