quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Meu encontro com padre Vieira


Crônica do amanhecer

Por Hélcio Silva

(18 / 11 / 2015)


Não sei se posso ir ao céu para falar com Vieira. Falta-me o visto! Porém, nem sei se encontraria o Vieira por lá. No entanto, nada impede que relembre o Vieira, como fiz na lembrança de ontem.

O Sermão aos Peixes - tão fartamente hoje conhecido nas terras de Upaon-Açu - foi proferido, se não estou enganado em minhas anotações históricas, exatamente no dia 13 de junho de 1654, dia de Santo Antônio, em São Luís do Maranhão.

De seu púlpito - se assim posso dizer nos dias de hoje - Vieira, naquela ocasião, dirige-se aos peixes, porém, de verdade, falava aos homens...

Tenho que encontrar Vieira!... Não o vejo nem o sinto... Parece longe de todos!

Abro as páginas de antigos rabiscos, letras bem sombreadas, quase apagadas de difícil leitura. Uma luz misteriosamente clareia o ambiente e vejo lá, nas velhas páginas: “Vos estis sal terrae. Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós, tem duas propriedades, as quais em vós mesmos se experimentam: conservar o são e preservá-lo para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades tinham as pregações do vosso pregador Santo António, como também as devem ter as de todos os pregadores. Uma é louvar o bem, outra repreender o mal.”

A luz se vai!... Eu perdido nos rabiscos, sem mais vê-los, irrito-me e grito por Vieira.

Antes de retornar aos nossos dias, crava-me a certeza de que o sal não consegue impedir a corrupção...  E os peixes voltam para o mar, e lá estarão ouvindo outros sermões..., com saudades de Vieira!..., e não esquecendo que lá – no mar, como cá na terra – os maiores devoram os menores.

E hoje, perdido na ilha, sem grandes esperanças, vejo tubarões homens (não peixes) devorando nossos sonhos, roubando nosso futuro, levando toda a riqueza de um povo, há anos furtando a nossa terra, acumulando o produto do roubo a seus patrimônios pessoais...

Um dia, por falta de recurso para a saúde pública, alguém morreu atropelado por um trator, por um carro de mão, por uma pequena carroça, por um acidente causado por um pé que o fez tropeçar, por uma infecção intestinal... Tudo por falta de dinheiro para manter o sistema de saúde, onde os recursos que lá estavam acabaram nos cofres dos tubarões.


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