Crônica do amanhecer
Por Hélcio Silva
(18 / 11 / 2015)
Não sei se posso ir ao céu para falar com Vieira. Falta-me o visto! Porém, nem sei se encontraria o Vieira por lá. No entanto, nada impede que relembre o Vieira, como fiz na lembrança de ontem.
O Sermão aos Peixes - tão fartamente hoje conhecido nas terras de Upaon-Açu - foi proferido, se não estou enganado em minhas anotações históricas, exatamente no dia 13 de junho de 1654, dia de Santo Antônio, em São Luís do Maranhão.
De seu púlpito - se assim posso dizer nos dias de hoje - Vieira, naquela ocasião, dirige-se aos peixes, porém, de verdade, falava aos homens...
Tenho que encontrar Vieira!... Não o vejo nem o sinto... Parece longe de todos!
Abro as páginas de antigos rabiscos, letras bem sombreadas, quase apagadas de difícil leitura. Uma luz misteriosamente clareia o ambiente e vejo lá, nas velhas páginas: “Vos estis sal terrae. Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós, tem duas propriedades, as quais em vós mesmos se experimentam: conservar o são e preservá-lo para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades tinham as pregações do vosso pregador Santo António, como também as devem ter as de todos os pregadores. Uma é louvar o bem, outra repreender o mal.”
A luz se vai!... Eu perdido nos rabiscos, sem
mais vê-los, irrito-me e grito por Vieira.
Antes de
retornar aos nossos dias, crava-me a certeza de que o sal não consegue impedir
a corrupção... E os peixes voltam para o
mar, e lá estarão ouvindo outros sermões..., com saudades de Vieira!..., e não
esquecendo que lá – no mar, como cá na terra – os maiores devoram os menores.
E hoje,
perdido na ilha, sem grandes esperanças, vejo tubarões homens (não peixes)
devorando nossos sonhos, roubando nosso futuro, levando toda a riqueza de um
povo, há anos furtando a nossa terra, acumulando o produto do roubo a seus
patrimônios pessoais...
Um dia,
por falta de recurso para a saúde pública, alguém morreu atropelado por um
trator, por um carro de mão, por uma pequena carroça, por um acidente causado por
um pé que o fez tropeçar, por uma infecção intestinal... Tudo por falta de dinheiro
para manter o sistema de saúde, onde os recursos que lá estavam acabaram nos
cofres dos tubarões.
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