Itair Ferreira
No dia 25 de dezembro de 1873, no Natal, data mais significativa
da cristandade, apresentou-se no círculo espírita de Bordeaux, na França, um
Nobre Espírito com o nome de Cáritas e nos brindou com uma prece tecida de
impressionante beleza estética e um profundo sentimento de amor a Deus. (1)
Cáritas transmitiu essa prece por via mediúnica pela
mediunidade respeitada de madame De Watteville Krell, exatamente no Natal de
Jesus, para homenageá-lo como o Emissário Divino e condutor do rebanho de
espíritos para a suprema felicidade junto ao Pai Celestial, o Pai Nosso, como
Ele assim definiu Deus, ao nos ensinar a orar. (2)
Esse hino de louvor e petição a Deus tornou-se conhecido e
proferido como Prece de Cáritas, não só no meio espírita, mas em todas as
reuniões voltadas para o amor e a caridade.
O Espírito Cáritas surgiu pela primeira vez em Lyon, em
1861, exaltando a caridade, por meio de duas comunicações psicográficas,
inseridas por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos itens 13 e
14, do capítulo XIII. (3)
Posteriormente, evocado esse espírito, na Sociedade Espírita
de Paris, em fevereiro de 1862, disse ter sido ela Santa Irene, imperatriz.
Allan Kardec escreveu, na Revue Spirit, de 1862: “Um
Espírito que se fez conhecer sob o nome característico e gracioso de Cárita,
cuja missão parece ser a de chamar a beneficência em socorro do infeliz.
Consentiu ditar a esse respeito a epístola seguinte, que nos foi enviada de
Lyon e que nossos leitores colocarão, sem dúvida, como nós, entre as mais
encantadoras produções de além-túmulo. Possa ela despertar a simpatia de todos
os Espíritas para seus irmãos sofredores! Todas as comunicações de Cárita estão
cheias da mesma marca de bondade e simplicidade”. (4)
Na comunicação do item 13, do capítulo XIII, descrita acima,
declarou ter sido martirizada em Roma.(5) Em vista disso, especula-se que tenha
sido Irene, uma mártir que desencarnou em Roma no ano 304, na última, maior e
mais sangrenta perseguição feita por Diocleciano (303-311), antes do imperador
Constantino tornar o Cristianismo religião oficial do Estado, em 13 de junho de
313, acabando com a perseguição e fortificando-o.
Irene foi condenada a morrer na fogueira, por possuir
“livros proibidos”, enquanto suas duas irmãs eram degoladas na sua frente.
Canonizada pela religião católica, ficou conhecida como Santa Irene.
A prece de Cáritas é mencionada por muitas pessoas como
“prece de Kardec”, como se ele a proferisse e a adotasse; no entanto, ele em
vida não a conheceu, pois desencarnou em 31 de março de 1869, enquanto a prece,
como vemos, surgiu em 25 de dezembro de 1873, mais de quatro anos depois.
O Evangelho Segundo o Espiritismo possui 28 capítulos. O
último capítulo, o XXVIII, assim escrito, em algarismos romanos, é dedicado às
preces, e, por isso, intitulado COLETÂNEA DE PRECES ESPÍRITAS. Lá não consta a
prece de Cáritas. Somente no livro A PRECE, de Allan Kardec, editado pela FEB,
em 1973, foi inserida a prece de Cáritas, na última página, com a nota da
editora à 28ª edição, em 1973, explicando que ela foi extraída da obra francesa
“Rayonnements de la Vie Spirituelle”.
A própria palavra cáritas nos emociona por sua tradução do
latim, caridade, que é o amor, a essência divina, em ação. Escreve-se no
original, em latim, charitas.
Na cidade de Niterói, encontramos um bairro com esse nome.
Apesar de a pronúncia popular do ch soar como em chão, e ser tomada como
paroxítona, na verdade a palavra é latina e por isso deveria ser pronunciado
Cáritas, como proparoxítona.
Seja como for, cáritas é caridade, “a virtude fundamental
sobre que há de repousar todo o edifício das virtudes terrenas”. (6).
Muita paz!
Notas bibliográficas
1 –
Rayonnments de la Vie Spirituelle – Mme. Krell.
2 – Bíblia Sagrada – Tradução de João Ferreira de Almeida –
Mateus, cap.6: 9 a 15.
3 – O Evangelho Segundo o Espiritismo – FEB, cap. XIII,
itens 13 e 14.
4 – Revista Espírita – 5º ano – fevereiro de 1862 – IDE.
5 – O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap.XIII, item 13.
6 – O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XIII, item 12 –
S. Vicente de Paulo.
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