Do que adianta reclamar da maioria do Congresso Nacional
indignando-se com o baixo nível de qualificação não só intelectual, mas também
moral, se a cada eleição os dessa turma mais se agigantam em poder ao ponto de
emparedarem a Presidente da República?
Assim vai continuar se não houver forte reação consciente da
sociedade até que se imponha sobre esses Senadores e esses Deputados uma
reforma politica que não só compatibilize as funções do Parlamento com os
avanços deste novo século, mas que também o submeta amplamente à força da
vontade nacional.
A discussão parece perder força quando as respostas ao como
viabilizar essa reforma politica se defrontam com a mesma pergunta, a que nunca
quer calar – emendar a Constituição para se alterar a lei dos partidos e as
leis eleitorais com esse Congresso que está aí?
Esperar que se faça a reforma política com esse
Congresso ou entrega-la ao próximo
Congresso, eleito sob as mesmas regras, é tão ingênuo quanto querer que o leão
ou o tigre do zoológico aceitem alguma dieta vegetariana ou no melhor dos
mundos aquela que fez a alegria da Dilma na balança e no espelho, o que não
obstante em nada contribuiu para redução do peso dos impostos que colocam o
Brasil no ranking cruel como 30º (trigésimo) País onde a fartura da colheita
tributaria não se traduz em bem estar comum, leia-se saúde, educação,
segurança, infraestrutura e bons exemplos para a população.
Urge uma reforma politica para adequar o Brasil a uma
verdadeira República Federativa e a um Estado realmente Democrático e
incontestavelmente de Direito, um Brasil harmônico com uma sociedade disposta a
se livrar de amarras que, lhe cerceando nas ações, lhe golpeiam como, por exemplo,
o patrimonialismo politico, o paternalismo politico, o clientelismo politico, o
corporativismo politico e o estelionato eleitoral que solapa a cada eleição a
legitimidade do voto. Uma reforma politica para resgatar a moral e a ética na
politica saída de um Congresso como este não se pode esperar para tão cedo.
Parece até que a Nação inteira, estando numa única rua sem
saída como aquela do Cutim ou algumas da região dos lagos de Brasília, assiste
a invasão de um estranho carnaval em que os políticos se divertem e nós, os
bestas aqui, pagamos a contas.
Fica uma turma matraqueando como numa procissão do Senhor
Morto atrás de alguma Verônica que sobre algum tamborete altere o teor do seu
canto triste para dizer que o impeachment da Dilma é golpe.
Ora, golpe. Se há prenúncios de golpe nas instituições
democráticas, é hora então de se perguntar quem compõe o Conselho da República
e o Conselho da Defesa do Estado e por que a Dilma não os convoca
imediatamente. Golpe é o que estão dando na verdade dos fatos querendo fazer
crer à turba ignara que esse Governo da Dilma, ah coitadinho, sofre perseguição
quando se lhe apontam provas dos crimes em tese de responsabilidade,
configurados por graves infrações politico-administrativas contra a probidade
da administração e a lei orçamentária, cujo julgamento pode resultar na
formação de um novo Governo.
Golpe de verdade foi o que culminou com a declaração de
vacância da Presidência da República quando Jango Goulart, o Presidente
constitucional, estava em plena saúde física e mental e no exercício do cargo
em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, território nacional.
Àquelas alturas já haviam acertado no Pentágono que o amigo
de longas datas do Coronel Walters e Chefe do Estado Maior do Exercito do
Governo Jango, o General Castelo Branco, seria o novo Presidente da República a
ser nomeado pelo Congresso Nacional. E o foi.
Já naquele tempo o Congresso Nacional tinha os seus
marginais, no sentido de que, quando preciso, se colocavam à margem da
Constituição.
Presidindo o Congresso Nacional, o Senador Moura Andrade
(PSD-SP) declarou vaga a Presidência da República. Não contava ele com a reação
de um homem sério como o então Deputado Tancredo Neves (PSD-MG) que, indignado,
de dedo em riste, rotulou-o em alto bom som – canalha!
Aquilo do Senador Moura Andrade era o máximo que um politico
em potencialidade de malfeitos se prestava a fazer. Não havia emendas
parlamentares, nem mensalão, nem petrolão, nem Lava Jato. E tal.
O País hoje está desgovernado. O Governo não consegue
governar. O Legislativo não consegue legislar para o bem e quando fiscaliza é
para o mal. O País está nas mãos dos Ministros do Supremo, sob a dependência
moral da Operação Lava Jato e agora também em cenário mais grave do mosquito da
dengue.
A Dilma já não preside. É uma Kerensky nas mãos do PT, onde
a maioria não a leva a sério. No contexto, porém, ainda ha uma fresta a
conduzi-la ao panteão da História - renunciar.
Isso tudo que estamos assistindo, as instituições
embaralhadas, o Estado sem rumos, a sociedade se desorganizando, a produção
industrial caindo, o desemprego grassando, a violência incontrolável nas ruas,
a inflação crescendo, os juros decolando para o planeta Marte, o dólar
dominando, isso tudo é o resultado de não ter havido, a tempo, uma reforma
politica conduzida por homens sérios, a reforma que o País necessita e a Nação exige.
Será possível faze-la com esses políticos?
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal
de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.