Justiça, verdade e liberdade são princípios
indissociáveis, necessários a uma sociedade digna.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de
Belo Horizonte – MG
A direção a ser seguida para que a sociedade brasileira
saia da crise política e econômica que a consome é estar sempre do lado da
justiça. Não há outro rumo possível para os que buscam superar situações tão
graves. O lado dos partidos políticos é muito frágil, pois guarda o hábito de
se fazer da política instrumento para atender a interesses que, frequentemente,
estão na contramão do bem comum. Os números da corrupção, que corroem o erário,
causam horror e revelam práticas com raízes vergonhosas no passado. Do mesmo
modo, o lado das ideologias, que têm imprescindível importância nos debates
sadios, intercâmbios de pontos de vista, torna-se inadequado quando alimenta
polarizações. Sem diálogo, processos
necessários para o bem do povo são interrompidos e prejudicam-se as
clarividências.
Adequada rota é a indicada pela justiça, pois tem caráter
corretivo. É remédio para descompassos que a política partidária não conseguirá
corrigir nos hábitos culturais, nas máquinas governamentais e no conjunto de
interesses particulares. Seguir a direção da justiça possibilita a reinvenção de
funcionamentos, a abertura de novos ciclos que levem ao desenvolvimento
integral, à consciência cidadã compatível com a modernidade, no horizonte dos
entendimentos antropológicos de uma sociedade pluralista. Parece incontestável,
assim, que o lado da justiça precisa ser ocupado por todos, particularmente
assumido pelas instâncias superiores que regem os passos da sociedade. Em meio
às derrocadas, no âmbito do exercício dos poderes que sustentam a democracia e
o Estado de direito, surge um broto de esperança no topo da magistratura, com
força para inspirar os guardiões da justiça. E a sociedade carece de
referências para fortalecer os valores da verdade e da liberdade, tão ameaçados
no contexto atual.
Justiça, verdade e liberdade são princípios indissociáveis,
necessários a uma sociedade digna. A reciprocidade entre esses três princípios
encontra na referência da justiça o ingrediente terapêutico e corretivo.
Possibilita eliminar vícios e mediocridades que se tornam hábitos entre
cidadãos, no exercício de suas responsabilidades, com o consequente
comprometimento da qualidade das contribuições na edificação da sociedade
solidária. A justiça, quando preside desde as condutas cotidianas no contexto
familiar aos âmbitos complexos de governos, torna-se vetor que qualifica a
vida, estimula a prática pessoal de virtudes alicerçadas em valores morais, tão
necessários à verdade e à liberdade. Trata-se de caminho para eliminar
conchavos, superar a perda de tempo de se buscar vitórias e conquistas
partidárias, deixando em segundo plano os investimentos na gestão, em
modernizações, na reinvenção de práticas, tarefas fundamentais para semear o
bem na vida de todos.
Estar ao lado da justiça permite enxergar que a
autoridade máxima da nação é o povo e que os governantes devem ser servidores.
É virtude que orienta todo cidadão a buscar oferecer, a cada pessoa, o que, de
fato, é devido, sem favorecimentos ilícitos a grupos privilegiados. Em sentido
amplo, ser justo é articular, inteligentemente, as dimensões sociais, políticas
e econômicas, para superar os abismos da desigualdade. Relaciona-se, assim, com
consideração do inegociável valor de cada pessoa, de sua dignidade e de seus
direitos, tão ameaçados pela generalizada tendência de somente buscar a
acumulação egoísta de riquezas.
Por isso, há de se priorizar a adequada inclusão dos
pobres, para além de programas meramente assistencialistas. A prioridade deve
ser a escuta de seus clamores, exercício que fecunda a audácia, a coragem, a
inteligência e a compreensão de todos, principalmente dos representantes do
povo, capacitando-os para o desenvolvimento de programas e projetos que
objetivem o bem comum. A escuta diária e prioritária dos clamores dos pobres é
força indispensável que conduz todos para o lado da justiça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.