Brasília - O Cunha não morreu. Ainda respira por
aparelho. Sua morte política só deverá ocorrer se ele for condenado ou se
submeter ao vexame da delação premiada. Muitos metidos a durão, como o Marcelo
Odebrecht, não resistiram a solidão da prisão e abriram o bico. O Cunha é a
caixa preta do PMDB. Se resolver falar não fica pedra sobre pedra. Ele já
mandou recado e ensaiou do que é capaz ao culpar o partido pela sua cassação e
a eleição de Rodrigo Maia para presidir a Câmara. Durante o seu processo de
cassação, Cunha mostrou que é um cara abnegado, determinado e resistente a
pancadas. Já anunciou que vai lutar com todas as armas para evitar a prisão da
sua mulher envolvida no rolo do dinheiro no exterior e para isso não pretende
poupar ninguém quando acionar a sua metralhadora giratória.
Cada fala dele é um recado de hoje por diante. Além de
Temer já apontou seus mísseis para Renan, Rodrigo Maia e Moreira Franco, a quem
considera “eminência parda” do governo. Os dois últimos, ele quer detonar
rapidamente porque são da sua base eleitoral, portanto, prováveis candidatos a
governador no caso do sucesso do Temer à frente do país. Quanto ao Renan, é um
velho rival que ele sempre tentou acertar, sem êxito. Cunha sabe tudo. Fazia
parte do seleto grupo de Temer, de frequentadores antigos do falecido Piantella,
palco de conspiração política dos últimos trinta anos em Brasília.
Se Cunha decidir falar, a casa cai. Ele é detentor de
segredos impublicáveis da república nos últimos quinze anos. A história mostra
agora que de esperto, na verdade, ele não tem nada. Vestiu-se de um personagem
que agora sai de cena. Enquanto outros políticos envolvidos na Lava Jato
preocupavam-se em tratar com zelo, respeito e elegância os procuradores que
investigam a operação, Cunha, do alto da sua arrogância, sempre desafiou o
procurador-geral Rodrigo Janot. Agora, sem mandato e, portanto, sem foro
privilegiado, começa a falar fino. Diz-se arrependido do bate-boca e manda
recado de que exagerou nas críticas ao procurador.
Cunha estranhou os 400 votos contra ele na cassação. Não
deveria estar surpreso porque conhece como ninguém o parlamento que administrou
durante quase dois anos à frente da presidência. Chegou até lá, porque, segundo
se sabe, comprou a metade da Casa. A outra metade, que o elegeu, veio por
gravidade. Aproximou-se dele por puro interesse fisiológico na máquina do
governo. Mas agora que está fora do poder e isolado politicamente, Cunha ameaça
botar a boca no trombone e jogar no ventilador todos os compromissos que fechou
para dirigir a Câmara dos Deputados.
Ameaça escrever um livro, desde já fadado ao fracasso.
Aliás, escrever livro é a prática dos que se sentem injustiçados e que pensam
em se redimir dos seus malfeitos no poder revelando seus segredos. Se o tempo
ocioso transformasse as pessoas em escritores, os presídios estariam
abarrotados de autores. Se cometer esse atentado, Cunha não terá êxito ao
contar os seus relatos porque não se propõe a revelar o que todos os
brasileiros querem saber: como o PMDB e o PT conseguiram montar a mais bem
estruturada organização criminoso do país.
Cunha, na verdade, é um fanfarrão. Foi alçado ao poder na
escassez de líderes políticos no país. Nos últimos trinta anos, líderes – se é
que podemos chamá-los assim – giraram em torno de nomes como Lula, Serra, Maluf
(!), Aécio, Marina, Alckmin, Itamar, Collor e outros menos cotados. Cunha
chegou ao poder pelo método mais tradicional de fazer política, o fisiológico,
e do franciscano “é dando que se recebe”. Em pouco tempo, virou um popstar até
lembrado como candidato a presidente da república. Quis o destino – e
obviamente – os escândalos da Lava Jato retirá-lo de cena. Cunha, porém, não
vai se retirar do palco sozinho nem esperar que as cortinas do espetáculo
fechem à sua frente no último ato. Ele vai carregar todo o elenco com ele.
Cunha ainda quer voltar ao palco com outra peça. Dessa
vez, seus personagens estarão vestidos com roupas listadas com todo tempo do
mundo para ensaiar o próximo drama.
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