Carlos Chagas
Voltaire, nascido François Marie Arouet, com pouco mais
de vinte anos de idade foi preso na Bastilha. O Regente da França prometeu
conceder-lhe uma visão de Paris que certamente nunca tinha apreciado.
Vingava-se de uma observação do irreverente cronista dos costumes da corte,
para quem em vez de vender metade das cavalariças reais, como economia, Felipe
devia livrar-se dos asnos que troteavam ao redor do trono. Arrependeu-se o
soberano substituto do infante Luís XV. Mandou soltar Voltaire e até
dedicou-lhe uma pensão para que pudesse prover “habitação e alimentação”.
Por ter agradecido, o jovem viu-se novamente condenado à
cadeia, porque se disse feliz pelas preocupações do Regente para com suas
refeições, mas dispensava aquelas destinadas à sua hospedagem…
Tem gente que não perde a ocasião de uma crítica bem ou
mal humorada, mesmo prejudicial ao seu futuro.
Esta semana o presidente Michel Temer convidou o
ex-presidente Fernando Henrique para jantar no palácio do Jaburu.
O sociólogo discorreu sobre os percalços e as vantagens
do exercício da chefia do governo, mas não deixou de provocar o anfitrião ao
lembrar serem muito mais cômodas as instalações do palácio da Alvorada, para
onde o atual presidente ainda não se mudou. Assim como pareciam mais
sofisticados e substanciais os jantares na residência oficial.
No dia seguinte, mesmo admitindo a hipótese de estar
enganado, Temer arriscou um palpite depois de ouvir de FHC referências pouco
entusiasmadas a respeito de Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra, quando
deixou evidente não apoiar nenhum dos três como futuro presidente. Qual, então,
seria o tucano candidato das suas preferências?
Para Temer, pelo jeito que a conversa tomou, é o próprio.
Fernando Henrique não arquivou suas pretensões, agora retemperadas pelo empate
entre os três pretendentes mais ostensivos no PSDB. Não se passa uma semana sem
que conceda uma entrevista ou escreva um artigo na imprensa diária. Dá palpite
em todos os assuntos, faz questão de aparecer onde puder.
Suas recentes memórias, já no segundo volume de uma série
prevista para cinco, envolvem as importantes e as desimportantes passagens
pelos dois mandatos.
Em suma, mesmo iniciando a oitava década de vida, não
perde oportunidade de aproveitar sua presença no palco.
Estaria o presidente Michel Temer enganado em seus
temores? Além de não evitar observações de todo tipo, até capazes de
aumentar-lhe dificuldades pessoais, Fernando Henrique deixa no ar uma dúvida.
Será mesmo candidato?
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