Com o argumento de que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/16 vai retirar direitos sociais nas área de saúde, educação e assistência social e não vai ajudar na retomada do crescimento, economistas lançaram hoje (10) um documento com críticas à proposta. A PEC, que o governo chama de Novo Regime Fiscal, que deve ser votada nesta noite, em primeiro turno, na Câmara dos Deputados, limita durante 20 anos o ritmo de crescimento dos gastos da União à taxa de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
No estudo Austeridade e Retrocesso, os economistas
consideram a PEC dos Gastos ineficaz para a retomada do crescimento porque vai
reduzir os investimentos estatais e a renda do trabalho em um momento de crise.
“Essa PEC não ajusta a questão fiscal do Brasil, não traz o crescimento
econômico e, no fundo, traz outro projeto de país que não é o que está colocado
na Constituição de 1988, disse o economista e professor da Unicamp Pedro Rossi.
Segundo o estudo, a PEC é uma “medida perversa” e não vai
equilibrar as contas do Estado brasileiro, como alega o governo. Para os
autores do texto, a proposta do governo afetará programas sociais como o Bolsa
Família, atingindo a parcela mais vunerável da população.
“Para que o teto global da despesa seja cumprido – dado
que algumas despesas como os benefícios previdenciários tendem a crescer acima
da inflação –, os demais gastos (como Bolsa Família e investimentos em
infraestrutura) precisarão encolher de 8% para 4% do PIB [Produto Interno
Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país] em 10 anos e para
3% em 20 anos, o que pode comprometer o funcionamento da máquina pública e o
financiamento de atividades estatais básicas”, diz o documento.
Segundo Rossi, a PEC ataca o gasto primário do governo
como sendo responsável pelo desajuste nas contas de maneira equivocada. O
professor ressaltou que as medidas vão agravar a crise econômica e enfraquecer
o mercado interno. “O aumento da nossa dívida se deu mais pela compra de ativos
– não foi o gasto primário que fez com que a gente chegasse a esse nível de
endividamento.”
A pesquisadora Vanessa Petrelli Corrêa, da Sociedade
Brasileira de Economia Política, enfatizou que a PEC não leva em consideração
outros fatores que foram determinantes para o crescimento da dívida pública. “A
pesquisa mostra que o crescimento brutal da dívida do setor público não está
vinculado meramente à piora do resultado primário. Tem a ver com a política
monetária e cambial, com a forma como o Brasil faz o ajuste fiscal e com a
dinâmica financeira que não é analisada por essa PEC”, disse Vanessa.
O estudo considera mito a ideia de que a crise é fruto da
“gastança federal”. Para os pesquisadores, os gastos federais permaneceram
estáveis nos últimos governos. “As taxas médias de crescimento real foram de
3,9% no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso; de 5,2% no primeiro mandato
de Lula e de 5,5% no segundo e de 3,8% no primeiro mandato de Dilma […]. Os
gastos com pessoal crescem sistematicamente abaixo do PIB, e tiveram menor
expansão no primeiro mandato de Dilma (-0,3%)”, diz o texto.
Os economistas afirmam que, em vez da PEC dos Gastos, uma
reforma tributária progressiva é a solução para as dificuldades de caixa do
Estado brasileiro. “Uma reforma tributária que combine eficiência e equidade
poderia atuar incentivando o crescimento econômico de longo prazo, ao reduzir a
tributação do lucro e da produção das empresas, ao mesmo tempo em que concentra
o ajuste fiscal de curto prazo sobre uma pequena parcela da poupança dos mais
ricos, não diretamente relacionada ao investimento, e, por conseguinte,
vinculada a um maior nível de emprego e produto.”
Os autores do estudo dizem ainda que uma reforma
tributária daria mais tempo para a sociedade debater e aprimorar outras
propostas de reformas estruturais das despesas. “Na atual conjuntura de crise,
é pouco razoável crer na possibilidade de um equilíbrio fiscal com baixo
crescimento. Isso implica que, no curto prazo, deveríamos no mínimo assegurar
espaço fiscal para o investimento público e para gastos sociais de elevado
impacto sobre o bem-estar das camadas mais vulneráveis da população”, diz o
texto.
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