A forte reação do Centrão, que ameaçou bloquear a reforma
da Previdência no Congresso, abortou nesta terça-feira a nomeação do líder do
PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), para comandar a Secretaria de Governo
no lugar do ex-ministro Geddel Vieira Lima. O bloco, formado por 13 partidos da
base aliada – entre os quais PTB, PSD e PP –, se rebelou por considerar que o
Palácio do Planalto articulou uma manobra para ajudar a reconduzir Rodrigo Maia
(DEM-RJ) à presidência da Casa.
O presidente Michel Temer chegou a convidar Imbassahy,
mas desistiu do anúncio diante da pressão. Temer também ficou contrariado com
rumores de que a Secretaria de Governo, sob a gestão do PSDB, terá agora maior
peso, assumindo funções antes conduzidas pelo ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, como a negociação da dívida dos Estados e a relação com
governadores.
Em conversas reservadas, o presidente atribuiu os
“vazamentos” ao PSDB e negou que a pasta será “turbinada” para abrigar o
partido aliado.
Diante dos ânimos exaltados, até mesmo o ministro-chefe
da Casa Civil, Eliseu Padilha, telefonou para deputados do Centrão e disse que
o presidente ainda não havia decidido quem seria o sucessor de Geddel. No fim
do dia, o Planalto se viu às voltas com uma nova crise política, escancarada
com a revolta de deputados do Centrão, que foram procurar Temer.
Com cerca de 200 parlamentares na Câmara, o grupo alega
ter ficado isolado na disputa pela presidência da Casa porque a entrega da
Secretaria de Governo a Imbassahy fortalece a candidatura de Maia (DEM-RJ), já
que ele terá o apoio do PSDB. A pasta é justamente responsável pela articulação
política com o Congresso. Desgastado com o episódio, Temer conversou nesta
quinta-feira com Maia, no Planalto.
Representação
O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão de Geddel,
disse que seu partido ficará “subrepresentado” na equipe de Temer. “O PMDB não
vai criar problemas para o presidente, mas é natural que, mais adiante, queira
o reconhecimento por estar abrindo mão de um espaço importante”, afirmou. “Não
vamos disputar a presidência da Câmara e estamos sinalizando boa vontade com
Michel, mas logicamente o PMDB precisa sobreviver.”
Geddel caiu no dia 25 do mês passado, após ser acusado
pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de interferir indevidamente para
mudar decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
que embargou a construção de um prédio de luxo, nos arredores de uma área
tombada, em Salvador.
Se assumir a Secretaria de Governo, o PSDB não apenas
ampliará o seu espaço no primeiro escalão, de três para quatro ministérios,
como entrará no “núcleo duro” do Planalto. “Trata-se de um posto da maior
importância. É o coração político”, afirmou o líder do governo no Senado,
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
A decisão de Temer de aumentar o espaço do PSDB na equipe
também tem o objetivo de “segurar” o partido no governo. Nos últimos dias,
diante do agravamento da recessão, os tucanos fizeram várias críticas à
condução da política econômica, sob o argumento de que é preciso ir além do
ajuste fiscal.
Proposta
A Secretaria de Governo já havia sido oferecida ao PSDB,
mas os tucanos resistiam em aceitá-la, alegando que o posto é uma fonte de
desgastes políticos. A preferência dos tucanos sempre foi por maior
protagonismo na área econômica. O presidente, porém, não gostou nada de ver
seus aliados “fritando” Meirelles e reiterou a confiança no comandante da
economia.
Antes desse novo impasse, Temer pretendia anunciar o
sucessor de Geddel somente depois das eleições que renovarão o comando da
Câmara e do Senado, em fevereiro de 2017. Foi o presidente do PSDB, senador
Aécio Neves (MG), que aconselhou o presidente a apressar a nomeação.
O problema é que toda a estratégia do Planalto para
esconder o apoio à reeleição de Maia foi exposta, com o “vazamento” da
indicação de Imbassahy para a Secretaria de Governo.
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