Por ROELTON MACIEL
Quando o pé direito do goleiro Danilo salvou uma bola
debaixo da trave e colocou a Chapecoense na final da Sul-Americana, há sete
dias, parecia que a Arena Condá tinha o tamanho do Maracanã. Nenhum torcedor da
Chape diria o contrário naquela noite. A classificação histórica diante do
tradicional San Lorenzo e o "milagre" nos segundos finais, logo
contra o time do Papa, desenharam o estádio da cidade no mapa do futebol
mundial. A Chapecoense ainda ganhava por antecipação algo que jamais caberia
numa sala de troféus: virou o segundo time de todo brasileiro.
A casa da Chape, que vinha embalada para a inédita final,
voltou a ficar cheia nesta quarta-feira à noite. Refletores ligados,
arquibancadas lotadas e uma multidão de verde e branco por todos os lados. Mas,
desta vez, o ídolo Cleber Santana não estava em campo e sequer havia traves
para Danilo repetir seus milagres. A Arena Condá abriu os portões para lembrar
e homenagear aqueles que partiram na tragédia. A Chapecoense entraria em campo
justamente nesta quarta-feira, na Colômbia, pela primeira partida da final
contra o Atlético Nacional.
Por alguns momentos, foi como se o time do técnico Caio
Júnior estivesse em campo. Teve batuque de tambor, gritos de guerra e, quem
diria, até aplausos quando a torcida do Atlético Nacional apareceu em um vídeo
no telão. Cenas que se repetiram em Medellín, ao mesmo tempo, numa noite de
homenagens no campo do time colombiano.
A noite na Arena Condá também teve silêncio para ouvir as
palavras de conforto dos pastores Claudir, Bartolomeu e do padre Igor.
— Deus ama a cidade de Chapecó e há de dar a ela um novo
dia, um novo sentido, uma nova vida — anunciou o pastor Bartolomeu.
O padre Igor, uma espécie de torcedor símbolo pela
devoção particular ao time da cidade, convocou a torcida a gritar "sou
Chapecoense, com muito orgulho, com muito amor". Lembrou que "as
alegrias" e as "horas mais difíceis" dividem o mesmo trecho no
hino do clube. Também pediu que os torcedores acendessem os celulares. Pela
altura da festa, algum desavisado no lado de fora poderia jurar que o time da
casa acabava de conquistar mais um título.
Atletas das categorias de base entraram em campo
abraçados, deram a volta olímpica acompanhados de crianças e levantaram os
quatro cantos das arquibancadas. Claro que o garotinho vestido de índio,
mascote oficial da Chape, também fez parte da celebração e foi uma atração à
parte.
O que levou o estádio às lágrimas, no entanto, foi o
anúncio de uma escalação que nunca mais vai se repetir. Cada integrante da
delegação enviada à Colômbia teve o nome anunciado no telão. Além de jogadores,
comissão técnica e convidados foram lembrados. Todos os jornalistas mortos na
tragédia também receberam aplausos.
A noite não teve adversário e terminou sem placar, é
verdade, mas a torcida foi embora com a certeza de que o futebol pode ser muito
mais do que vitórias ou derrotas.
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