Sebastião Nery
RIO – O inesquecível senador Vitorino Freire, do
Maranhão, foi à Bolívia chefiando a delegação do Senado que discutiria os
Acordos de Roboré (petróleo). Ia ficar oito dias. Dois dias depois, voltou.
Perguntaram:
– Senador, já terminamos as negociações?
– Não. Mas vou lá ficar num lugar que tem 4.800 metros de
altura e onde urubu tem dispneia?
Os desastres são desígnios do infinito. É preciso
recebê-los, aceitá-los e absorve-los. Mas o que aconteceu com a apilantrada
empresa boliviana “La Mia” e seu fajuto táxi-aéreo, assassinando 71 brasileiros
de Chapecó por estar voando sem combustível, é um crime que precisa ser apurado
e denunciado. Hoje já se sabe que o avião voou avisado de que o combustível era
insuficiente. Mesmo assim, apenas para faturar mais, o criminoso piloto
preferiu arriscar sua vida e a de todos. Era um urubu.
A CRISE
Outros urubus. Sem rumo e sem credibilidade, o
descontrole das contas públicas foi a estratégia dos governos Lula e Dilma. Ao
abandonar o tripé de cambio flutuante, superávit primário e meta de inflação,
jogou a economia numa crise que levará anos para ser superada.
Três anos de recessão econômica foram o resultado da
aventura populista, com o PIB encolhendo 9%, a renda per capita reduzida em
mais de 10% e a taxa de desemprego atingindo 12 milhões de trabalhadores. As
tarifas de energia elétrica e os combustíveis foram congelados, os Estados e
municípios liberados de comprimento das metas fiscais e bancos federais
forçados a se responsabilizarem por despesas do orçamento. As contas públicas
passaram a ser maquiadas através da “Contabilidade Criativa”. Avançaram na
administração da taxa de cambio, sob o pretexto de dar garantia às exportações,
pondo a economia de cabeça para baixo.
E mais: implantaram a chamada “Nova Matriz Econômica”,
fazendo do ultrapassado nacional-desenvolvimentismo o carro chefe. E
escolheram, algumas empresas que seriam as campeãs nacionais do
desenvolvimento, financiadas pelo BNDES. Subsídios foram concedidos a esses
grupos e em outros casos a renúncia fiscal, pela isenção de tributos, gerando a
conhecida “Bolsa Empresário”. Um deles foi Eike Batista que tinha o X, como
padrão de um tempo de desenvolvimento.
ORÇAMENTO
O orçamento teve a sua autonomia financeira e
administrativa atropelada pela gastança sem limites. Acreditavam que tinham
indulgência divina para gastar o que não tinham. O governo gastava 45% do PIB,
inclusive com os juros da dívida pública e arrecadava 36%, que é o montante da
carga tributária, levando a dívida pública a disparar em ritmo de crescimento
assustador. A recessão econômica em que estamos mergulhados tem nessa sequencia
de desajustes irresponsáveis e privilégios a sua fonte geradora.
A ilha de fantasia em que o pais se viu mergulhado na
última década, ignorando o Brasil real, produziu a maior recessão econômica da
vida republicana. O momento exige que o País da mentira populista se reencontre
com o da verdade. Viveremos instantes dramáticos para recolocá-lo na
reconstrução que o Brasil real exige.
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