Sebastião Nery
PARIS – A fábula do escritor francês Jean de La Fontaine
deu-nos a lição sobre os morcegos voadores:
– “Vejam as minhas asas. Eu sou um pássaro. Mas também
sou um camundongo. Vivam os ratos.”
O brilhante professor paranaense Hélio Duque lembra-se de
La Fontaine para chamar a atenção da política brasileira. Os valores,
convicções e princípios estão sendo substituídos pelo caixa dois, pelo Fundo
Partidário e pelo Financiamento Público de Campanha. Como não há partidos
doutrinários e decentes, o poder econômico capturou a representação política
brasileira.
Dados da justiça eleitoral registram que, em 2014, 370
deputados federais foram eleitos com doações milionárias de grande grupos
econômicos. Agora querem impor ao pais a lista fechada para eleição de
parlamentares. Se aprovada, será a perpetuação dos caciques e donos de legendas
partidárias. Dará legalidade à fraude e será um atentado político contra a
sociedade brasileira.
A política aristotélica de servir ao bem comum foi banida
no Brasil das disputas eleitorais. Serve hoje a interesses pessoais e grupais
onde o bem comum não tem nenhum valor. Passou a ser negócio e transformou-se em
atividade econômica de rápida ascensão social.
O voto virou mercadoria oferecida pela manipulação
marqueteira e sustentada com muito dinheiro. Esta é uma realidade que pode se
transformar para pior com o voto em lista, onde a ditadura dos donos de partido
será absoluta. E terminará vitoriosa. Em vez de uma verdadeira reforma
política, os autores da proposta imoral de institucionalizar a lista fechada
querem também garantir o financiamento público de campanha.
Pretendem retirar da constituição os dispositivos que
regulam o atual sistema eleitoral. Na verdade o que desejam é fugir do
encurralamento em que a elite política parlamentar foi colocada pelas
investigações e apurações documentais obtidas pela operação Lava Jato, por
investigações dos bravos Ministério Público Federal e Polícia Federal. Vejam
que os autores da manobra estão citados nas delações da Odebrecht e fazem parte
da lista do valoroso Procurador Rodrigo Janot e denunciados no Supremo Tribunal
Federal.
Com a lista fechada, os interesses pessoais e grupais
garantiriam que, na elaboração dos nomes dos candidatos os detentores de
mandatos ficariam nos mesmos lugares. Ante o fato de o voto ser dado ao partido
e não ao candidato, a reeleição estaria assegurada.
As oligarquias que controlam os partidos passariam a ter
o poder de decisão totalitário. A corrupção estaria anistiada e a lavagem de
dinheiro jamais punida.
O que os “morcegos voadores” parlamentares desejam é
construir bases oligárquicas que impeçam os brasileiros de se encontrarem com a
soberania popular. Estaria assegurada a perpetuação de mandatos, garantindo a
“prescrição jurídica” das punições aos delinquentes políticos no futuro.
A pretensão é consolidar a República Oligárquica por essa
vanguarda do atraso, ao garantir a perpetuação dos seus mandatos.
E mais: um financiamento público das campanhas políticas
estaria assegurando, substituindo a fartura das doações empresariais que levou
vários políticos ao envolvimento nas falcatruas do Caixa 2 e recebimento de
propinas. Com o voto em lista os envolvidos nesse oceano de corrupção teriam as
suas reeleições garantidas, apagando o passado delituoso.
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