sexta-feira, 4 de agosto de 2017

BUCÓLICA ALMA


(*) Mhario Lincoln

"A Multidão é grande e pequena são as respostas". Eis um dos maravilhosos versos de quase 90 poemas trabalhados exaustivamente por ANTONIO BEZERRA, em seu livro "Amanheceres Poéticos".

Bezerra integra a plêiade de líricos da Feira do Poeta, em Curitiba-Paraná. Todavia, com um detalhe impressionante:

Tem formação básica e sua linguagem é simples, arraigada às coisas da natureza, cultivando um amor bucólico, célula-mater geradora de toda a sua produção pastoril.

Cabe fazer aqui, as devidas diferenças entre 'poesia ingênua', que não é o caso, de poesia da condição humana, frutificada à partir de vivências ininterruptas em determinadas circunstâncias ou determinados (e constantes) momentos da vida do autor, isto é, a poesia como qualidade pessoal, sem atrelamento às escolas tradicionais da poesia.

Aí está o elo, onde o poeta, ser ou não culto, não faz a mínima 'diferença', pois quem está escrevendo, ali, naquele momento, não é o senhor Antonio Bezerra, contudo, quem lá escreve, é o poeta ANTONIO BEZERRA.

E é o poeta ANTONIO BEZERRA escrevendo sobre coisas simples e belas, na maioria das vezes, desconhecidas de vários de seus leitores metropolitanos, os quais nunca sentiram, por exemplo, o verdadeiro cheiro de terra molhada, numa noite chuvosa e sem lua, no meio de uma comunidade de lavradores.

Por isso, ANTONIO BEZERRA é um poeta d'alma campesina, cuja tradução de seu amor começa assim: "Conheço uma menina/ que mora quase sozinha/ ela mora numa rua/ que tem apenas duas casinhas/ de um lado é a dela/ e do outro é a minha..."

Ah! Como seriam lindas e suaves poesias construídas para fazer-nos sonhar, invés de alimentar a angústia do homem moderno.

Li, em algum lugar do passado, versos emocionantes sobre esse tema: "As belas poesias/ Fazem o coração se acalmar/ Pois aquele que ama/ Por mais que sofra às vezes/ Mesmo que durante meses/ Nunca vai deixar de amar!/ O amor quem nos desperta/ E a poesia faz sonhar!!!" (Não me lembro do autor).

Porém é essa a dica para quem quer ser um grande poeta e sair dos questionamentos lógicos e ilógicos, assassinatos de nossa consciência, adormecida num mundo atribulado por atos terroristas, segmentação da família, torção abrupta da sociedade e distanciamento da Fé.

Quanto mais se joga nas ruas construções poéticas remetendo-nos à esses tipos de desilusões, mais o ser humano ficará longe dessas peças artísticas, como as construídas por Antonio Bezerra.

Desta forma, é inevitável, diante de uma poesia tão espontânea, como as inseridas no livro AMANHECERES POÉTICOS, não citar - indo na direção contrária às poesias pesadas e infinitas - o que disse Martin Luther King: "Uma das coisas importantes da 'não violência' é não buscar destruir a pessoa, mas transformá-la." Ora, se essa citação de King mostra a 'não violência' como pavio para acender a transformação humana em busca da paz, no inverso, a violência, em quaisquer que sejam suas manifestações, nos livros, nas tvs ou nas ruas, acaba induzindo-nos (até de forma inconsciente) à violência, também.

Até Jean-Paul Sartre, um pensador francês respeitadíssimo, chegou a dizer: “Reconheço que a violência, seja qual a forma com que se manifeste, é um fracasso. (...) E ainda que seja verdade que o recurso à violência contra a violência corre o risco de a perpetuar, também é verdade que 'é a única maneira de acabar com ela'.”

Leiam. É incrível como a violência intercede nos caminhos lítero-filosóficos de pensadores como Sartre. Agora imagina como poemas de violência e ódio influenciam jovens leitores acuados pela diária violência urbana em todos os seguimentos de sua vida?

Confesso que li e me apaixonei pela obra de Edgar Allan Poe (O Corvo). Li e reli quantas obras eu tinha acesso. Porém, sinto-me atropelado por angústias, atualmente, quando algo acontece em minha vida real e coincide com versos de Poe.

No caso dessa obra estonteante, escrita por um homem de bem, poeta ANTONIO BEZERRA, seus versos me fazem voar, cheirar o ar puro das matas, sentir o amor desesperado por alguém banhando às margens do rio de minha infância, sem poder tocá-la. Isso é amor, sim, pois ..."O amor não causa ódio, /o ódio sim, /causa dor, /por falta de amor. /Quem ama se ama. /Quem tem ódio se despreza..." , como escreve em "Feliz Amor".

E o autor finaliza com uma máxima, afirmando: quem celebra a vida em paz, permanecerá na Luz. E pertinho do final deste gracioso livro de poemas, nosso poeta encanta, "... quem mora na mata tem que levantar bem cedinho para ver o passarinho cantar...".

Glorioso ANTONIO BEZERRA, cuja alma está banhada por toda essa vivência graciosa. 

Diferente dos tormentos da vida.

Enfim, falando em primeira pessoa, agora, meu caro poeta ANTONIO BEZERRA, folgo em vê-lo assim, tão ligado as suas origens. E finalizando, eu lembro que sua obra tem um legado.

É, sem dúvida, uma palavra poética traduzida por mim, como uma fagulha para a transformação da forma de fazer poesia lírica, pois são versos com muita lucidez, independência e compreensão de seu universo pessoal de vida.

Posso até dizer que esse livro é uma obra poética racional e limpa, pois, será através desse seu canto que seus leitores poderão refletir com maior acuidade compreensiva sobre a beleza da conservação ecológica e da conservação do amor mais puro, por um mundo diferente.

Parabéns. Feliz em ter lido seu livro, amigo.

Jornalista Mhario Lincoln

Presidente da Academia Poética Brasileira.

Curitiba, 04.08.2017

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