Marcus Pestana
A marcha civilizatória atravessa os séculos e é obra de
muitas gerações. O desenvolvimento humano é projeto coletivo que amadurece a
partir dos sonhos, do trabalho e da luta de todos. A evolução da espécie não é
caminho retilíneo, passa por crises, saltos qualitativos, inovações, guerras e
conflitos. Nosso tempo pessoal não se confunde com o tempo da história. É
preciso humildade e inteligência para não superdimensionarmos nosso papel na
transformação da vida.
E o contínuo avanço pressupõe responsabilidade com o
futuro e solidariedade intergeracional.
No Brasil, diz-se que a memória é curta. Seria um sintoma
de que as novas gerações valorizam pouco a experiência acumulada e transmitida
pelas antigas? Mas, no sentido inverso, qual é o cuidado que estamos tendo com
o horizonte futuro de nossas crianças e nossos jovens? Qual é o legado e a
herança que estamos deixando para nossos filhos e netos?
Sem o espírito presente nos versos de Lupicínio: “esses
moços, jovens moços, ah se soubessem o que eu sei”, gostaria de dialogar nestas
linhas principalmente com as novas gerações.
A juventude sempre teve papel central nas grandes
transformações do mundo contemporâneo. A generosidade, o espírito libertário, a
alma aberta para o novo, a ousadia de mudar o que parecia imutável sempre foram
suas características.
O Brasil de 2017 não está nada fácil para os jovens. Não
é à toa que o fluxo de brasileiros jovens para países como Estados Unidos,
Portugal e Austrália esteja crescendo. O desemprego entre os jovens está acima
de 20%. E o que fazemos? Conscientemente ou não, arquitetamos um pacto
geracional perverso e irresponsável, legando para as novas gerações brasileiras
um sistema previdenciário insustentável e uma dívida impagável. Estamos
trocando dívida futura por consumo e despesas presentes. E não recebemos
procuração deles para tal irresponsabilidade. Ou mudamos com coragem, ou lhes
entregaremos um país pior que o que recebemos.
O Brasil precisa entrar com ousadia no novo ambiente do
século XXI. Abrir portas e janelas para a energia transformadora da juventude
passar. Uma juventude que seja empreendedora e se liberte da tutela estatal.
Uma juventude que transforme as redes sociais em instrumentos de inovação e
solidariedade, e não de intolerância e individualismo. Uma juventude que erga
efetivamente padrões de desenvolvimento sustentável que gere renda e emprego
sem devastar o meio ambiente.
Por último e mais importante, uma juventude radicalmente
comprometida com a liberdade e a democracia. Vejo jovens capturados por
extremismos autoritários. A Nova República produziu a maior crise das últimas
décadas. Mas não há salvação fora da democracia. Que os jovens ouçam o
timoneiro da redemocratização, o Sr. Diretas, Ulysses Guimarães: “A grande
força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não
acontece com os sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e
oniscientes para que sejam irresponsáveis e onipotentes”.
Marcus Pestana é deputado federal pelo PSDB-MG.
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