Pedro Luiz Rodrigues
O que estará em jogo, a partir de hoje, na Câmara dos
Deputados, é muito mais do que o mero destino pessoal e político do presidente
Michel Temer.
O fulcro da questão é outro: é o destino do Brasil, um
país que embora reúna as condições para se tornar próspero, faz de tanto em
tanto, incompreensível opção pelo retrocesso.
Impressiona e entristece essa nossa incapacidade de
escapar desse ciclo de sístoles e diástoles, onde etapas de êxtase dão lugar a
outras de desalento, que têm marcado nossa trajetória política e econômica nos
últimos duzentos anos.
Os brasileiros, historicamente esperançosos, vão se
tornando céticos, diante da interminável sucessão de desvios éticos, morais e
financeiros.
Das arquibancadas, perplexos, assistimos nossos políticos
mais uma vez tratarem o destino da Nação com visão míope e interesseira.
Para ele, o Brasil não passa de bola murcha, em jogo de
várzea em dia de chuva, onde sobram caneladas e baixarias de todo gênero, com
os jogadores enchafurdados em lama; ausentes árbitro ou bandeirinhas.
Hoje é o dia em que a Câmara de Deputados começa a
decidir se autoriza que Michel Temer seja investigado por corrupção, ou se
arquiva a acusação contra ele apresentada pelo Procurador-Geral da República,
Rodrigo Janot. Se 342 deputados decidirem pela autorização, o Presidente segue
direto para o banco de reservas, passando a faixa de capitão para Rodrigo Maia.
Se não autorizarem, tudo fica como está, e Temer conduz o time até o ano que
vem.
O Partido dos Trabalhadores, ele próprio envolto em lama
até o pescoço, busca apresentar-se à sua torcida como representante da moral e
dos bons costumes. Seu objetivo é o de arrastar enquanto puder o processo de
votação, para dar a Janot tempo para que entre com uma segunda denúncia contra
Temer, desta feita por obstrução à Justiça e associação ilegal.
O líder do PT na Câmara, o deputado Carlos Zarattini,
acredita que se Janot entrar com uma segunda acusação, aumentaria o
constrangimento dos parlamentares dispostos a votar em favor de Temer.
Zarattini, do PT de São Paulo, cabe lembrar, é o mesmo
incluído em dois inquéritos autorizados pelo ministro Edson Fachin, relator da
operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), por suspeição de receber
dinheiro grosso da Odebrecht (R$5 milhões), para sua campanha eleitoral.
Temer também não é um santo, nem desfruta de apoio
popular, como bem demonstram os resultados da maisrecente pesquisa de opinião
pública encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Os números da pesquisa refletem a impopularidade de
medidas tomadas com vistas ao reequilíbrio fiscal do País, além das reformas
trabalhista, já sancionada, e da previdenciária, que ainda se discute no
Congresso.
Ajustes são sempre dolorosos. Mas não há outro caminho
para um país cuja economia foi praticamente destroçada pela irresponsabilidade
e incompetência dos governos petistas. O exemplo da Venezuela demonstra isso
com toda clareza.
Caso Temer seja afastado, resta saber de Rodrigo Maia,
terá a força e a disposição políticas de manter a economia do País no caminho
da recuperação que já se observa: a taxa básica de juros caiu recentemente para
9,25%, pela primeira vez em quatro anos que se posiciona abaixo dos dois dígitos.
A taxa de desemprego, por sua vez, registrou o primeiro declínio nos últimos
cinco anos. A inflação, por seu turno, voltou a níveis civilizados.
Para o PT a melhor solução para a presente crise será
obviamente aquela que beneficie a agremiação: que se danem o governo e os
partidos que lhes dão sustentação. Que se dane o Brasil, sua economia e o
progresso. Só têm uma idéia fixa: Lula de volta à Presidência.
Sonho de uma noite de verão. Não acontecerá. O povo foi
tapeado uma vez, não o será novamente.
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