Carta para minha Dona
João Batista Azevedo
Hoje tive coragem para escrever algo sobre você minha mãe,
e mais do que isso, escrever para você. E o faço com o coração apertado, os
olhos marejantes e inundados num pranto que derrama pra dentro de mim. Mas também
estou alegre, pois vi na tua partida, minha mãe, como era uma esposa honrada e
justa para com o seu José, meu pai. Aquele 30 de agosto de 2014 nunca mais será
esquecido por nenhum de nós teus filhos, familiares, amigos e demais pessoas
que os conheceram. Afinal estava ali a partida de vocês. A prova do amor que
ultrapassou a própria vida terrena e continuou nas dimensões celestiais. Pois
estava escrito nas estrelas...
Vê-la ali naquele leito de UTI, entregue aos cuidados dos
médicos, cortava-nos o coração. E já se passavam alguns dias e a sua reação era
lenta. Como se a senhora quisesse esperar o desfecho da também cruciante
situação de nosso pai, o nosso José, seu esposo.
Logo a senhora, sempre atenta
à presença de todos que estivessem em sua volta, estava ali aqueles dias num
coma calmo, como se dormisse um sono merecido após um dia de muita lida, como
nos velhos tempos na nossa velha casa do interior.
Naqueles dias de sucessivas dores, estavas ali separada de
nosso pai, por força das
circunstâncias, e ele, também naquela UTI, por certo
reclamava a dor desta separação momentânea. Escondemos o quanto foi possível a
dor de cada um. Mas por certo, o espírito que os unia, com certeza os
mantiveram informados de tudo, sem que nós, meros mortais, soubéssemos dos
desígnios de Deus.
E assim se fez o mistério da vida e da fé. E o que pra nós
fora dor e imensa saudade, para a vida e para os céus fora a prova de que o
amor existe e ele é sublime. Nosso pai, chamado às 0ito horas da manhã,
certamente não quisera partir sozinho. Teria sido assim?
Ou fora avisada pelos
anjos e assim também quiseste acompanhar o seu José? O que por certo aconteceu
nunca saberemos, mas foi a inconteste prova de um amor que
sobreviverá além
desta vida, após à morte.
A dor foi muito grande, imensurável. Não me via perdendo
nenhum de vocês, nem a meu pai, nem a senhora. Mas perder os dois assim no
mesmo dia, era inacreditável. Mas fora assim a escolha de Deus...
Hoje minha mãe, te escrevo estas palavras para te
homenagear neste dia. Para te confortar e te dizer que por aqui, as coisas vão
indo como Deus quer. A dor de perdê-los nunca passou e não passará, mas nos
refizemos na fé em Deus e na certeza de que tudo fora feito como assim estava
determinado, com uma pitada de magia e encanto. Nós, os teus filhos, mantivemos
o compromisso de estarmos unidos na fé, e na esperança. E estamos levando a
vida, sempre pautados nos ensinamentos que vocês nos deram: o respeito, a
honradez, a gratidão e a humildade.
Sabe mãe, tenho muitas outras pra te contar, mas falaremos
em oração. Sei também, que como sempre foste bondosa, cuidadosa, estás a cuidar
do nosso pai. Não se preocupem em demasia, mas cuidem daí dos nossos destinos
aqui na terra. E que a senhora e o nosso pai tenham a luz eterna.
Um grande beijo, minha mãe.
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