Edson Vidigal
Os polegares do Casagrande, o comentarista da TV Globo,
parecem mecânicos de tão ágeis e aparentemente incansáveis sobre o teclado do
celular.
Fui pegar no meu apartamento o livro sobre o Gorbachev e
o Casagrande, parceiro do Galvão e do Ronaldo, ainda segue ligeiro na mensagem
que digita.
O movimento na ante sala do hotel parece não perturbar o
antigo craque da nossa seleção, que ressuscitado de um alcoolismo brabo, dizem
os seus amigos e familiares, e ele também, é agora outro homem.
Tenho muito respeito por pessoas assim, que se reinventam
e seguem tocando a vida em frente, sem ódios e sem traumas.
Quando Mikhail Gorbachev chegou ao poder como Secretário
Geral do PC na União Soviética, o comunismo já estava mal das pernas, quase nem
andando por lá e mundo afora.
Gorbachev percebeu que o muro de Berlim era um outdoor
escancarado ao mundo livre denunciando o opróbio de um regime politico
apodrecido que, como os demais do seu naipe, só conseguia se manter sob a
opressão em suas diversas formas.
Bem antes de Gorbachev, as atrocidades dos ditadores
comunistas, dentre os quais Stálin, tido como o mais malvado, já haviam sido
reveladas por Nikita Kruschev, outro governante proibido de ter um tumulo no
Kremlim. Fidel Castro o odiava por não tê-lo deixado explodir um míssil sobre
os Estados Unidos.
As insatisfações populares na Rússia e seus países
satélites já eram irrefreáveis quando Gorbachev assumiu. Em Moscou, o céu está
sempre azul. E ainda se fala de um lugar onde o sol aparece à meia noite.
Foi quando Gorbachev lançou os seus dois audaciosos
projetos – a perestroika para a reconstrução econômica e a glasnot para a
abertura politica. Nunca na Rússia, nem no Império czarista nem nas ditaduras
soviéticas, ninguém votou em eleição direta.
A pressão do mundo ocidental, capitalista, sobre a Rússia
e todo o resto da chamada Cortina de Ferro, gaseificou a debacle econômica e a
crise politica que Gorbachev intentava debelar.
A certa altura, teve aquele rolo da tentativa de
deposição de Gorbachev pelos generais da linha dura. Boris Iéltsin, então
Deputado, opositor das politicas do Presidente porque queria mais velocidade
nas mudanças, interveio parando os tanques a serviço do golpe e libertou
Gorbachev, àquela altura um preso politico. Preso comum, condenado por crime
comum, é outra coisa.
Mais adiante, Gorbachev renunciou à Presidência da União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas e declarou extinto o cargo.
Convocadas eleições diretas para o novo cargo de
Presidente da Rússia, candidataram-se Boris Iéltsin, Genady Ziuganov e Mikhail Gorbachev.
Estava na cara que Gorbachev iria perder, e feio, aquela
eleição. Do lado de fora da sessão eleitoral, onde votou, falou:
- A realização destas eleições significa que já obtive
uma vitória. Fui eu que propus as eleições neste País. Uma batalha só é
considerada perdida quando o próprio comandante renuncia a ela. Nada pode me
humilhar, nem as pesquisas, nem o poder. Nenhuma força pode humilhar um homem
se ele se sente confiante, mantém a dignidade e a defende. Vocês tem diante de
si um homem assim.
Gorbachev, viúvo de Raissa, vive em Moscou ao lado da
filha Irina e das duas netas Xênia e Anastásia. Preside a fundação que tem o
seu nome e a Cruz Verde Internacional, uma organização ambientalista.
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior
Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal. Esteve em Moscou
recentemente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.