José Sarney
Alexis de Tocqueville, em sua clássica e famosa obra, “A
Democracia Americana”, que já caminha para dois séculos de sua primeira edição
(1835), fez a apologia do regime praticado nos Estados Unidos, único no mundo
com suas características, até então, e disse de suas grandes e inovadoras
virtudes. Tão boas que essas instituições se espalharam no mundo inteiro,
inclusive no Brasil, onde a República, sob a inspiração de Rui Barbosa, moldou
a Constituição de 1891 com o domínio das ideias civilistas dos direitos
individuais e do poder político, síntese de todos os poderes.
Mas Tocqueville fez uma ressalva sobre o modelo
americano: a instituição da reeleição. Em duas páginas ele explica porque era
um erro e porque a condenava. O Presidente já assumia pensando na sua reeleição
e fazia o diabo para alcançá-la — assim ferindo os ideais democráticos.
Eu, quando passou a reeleição no Brasil, era senador e
fui contra, preferindo estender o mandato de 4 anos para 6, mas não introduzir
a reeleição. Mesmo tendo a época uma filha Governadora, assumi essa atitude
tendo na cabeça o livro de Tocqueville e concordando com ele com suas
ressalvas.
Só tenho motivos para não me arrepender de minha posição.
Veja-se a eleição de domingo próximo, dia 7, que será realizada sob uma nova
lei eleitoral, péssima, que até se dá ao luxo de dar quantos centímetros deve
ter um cartaz, e introduziu o financiamento público exclusivo. O sonho do
legislador e dos Ministros do TSE era baratear as eleições, sendo menor o
período eleitoral e evitar que o dinheiro e o governo trucidassem a liberdade
democrática. Para lembrar Shakespeare, “Sonho de uma Noite de Verão”. Nunca vi,
em meus 64 anos de política, nenhuma eleição como esta, em que o governo não
tivesse nenhum pudor em violar a vontade do povo, com o medo, a perseguição, o
terror, o dinheiro e a utilização da máquina estatal. O dinheiro, segundo nos
falam, corre altíssimo, em números assombrosos. Para a corrupção, de que
fizeram tanto alarde, ninguém ligou. A política judicializou-se e a Justiça
politizou-se.
O Brasil está dividido, com ódio e perda total da
autoestima.
É assim, aos trancos e barrancos, que caminha a
democracia, que já foi, no sonho de Péricles e de Jefferson, o caminho para a
cidadania e a busca da felicidade.
Para mim, continuo certo de que, com a Constituição de 88
e leis eleitorais como a atual, o país está e ficará cada vez mais
INGOVERNÁVEL.
José Sarney
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