José Sarney
A raça negra tem uma importância grande para o Maranhão.
Em algum momento da História colonial, ela chegou a ser dois terços da nossa
população.
A Companhia de Comércio do Maranhão e Grão-Pará, criada
por Pombal, trouxe milhares e milhares de negros para, pelo braço escravo,
criar grandes plantações de algodão, arroz e cana. Isso fez do Maranhão um dos
estados com maior presença negra do Brasil.
Aqui já havia muitos escravos, uma parte trazida pelos
tumbeiros, navios que faziam contrabando de africanos. Os mais valiosos eram os
da Costa da Mina, homens fortes, altos, robustos. Daí sua religião chamar-se
aqui tambor de Mina e não candomblé, como na Bahia. Outros frequentes eram os
de Cacheu, na atual Guiné Bissau. Muitos dos testamentos daquele tempo
referem-se a escravos de Cacheu, o que mostra a importância destes.
Eu sempre fui um grande defensor da raça negra. Em toda
minha vida pública há essa preocupação.
São minhas as frases de que a “maior mancha da história
do Brasil é a escravidão” e “nossa maior dívida social é com os negros”.
A grande mudança da política brasileira em relação aos
negros, depois do marco da Lei Afonso Arinos, foi feita por mim. Vi a
prioridade de sairmos da condenação política de suas deploráveis condições para
criarmos instrumentos reais de ascensão. Precisávamos de políticas de
discriminação positiva, porque os maiores problemas dos negros, vinculados à
discriminação, são a pobreza e a impossibilidade de subir aos níveis de decisão
na sociedade. Daí, para começar essa nova visão, nos 100 anos da abolição da
escravidão, da Lei Áurea, criei a Fundação Cultural Palmares. Sou autor de dois
grandes projetos de promoção dos afro-brasileiros: o primeiro, a ideia das
cotas raciais, não somente para universidades, mas nos concursos para o serviço
público e em todas as atividades dentro da sociedade; o outro, o do
reconhecimento e de todo o processo de titulação das terras quilombolas, a ser
feito pela Fundação Palmares.
Sustento que ao lado de Zumbi está o Negro Cosme, que fez
um dos maiores quilombos do Brasil, com 3.000 membros, e cujo primeiro ato foi
fundar uma escola, já sonhando que na educação estava a liberdade. Foi
enforcado em Itapecuru, em praça pública, e merece uma estátua em São Luís.
Pela minha atuação em favor dos negros, recebi o Troféu
Raça Negra, que me foi entregue pelo Reitor, o grande líder e expressão do
talento negro, Professor José Vicente, e o título de Chanceler da Ordem do
Mérito Memória e Alma de Zumbi dos Palmares.
Creio que a Semana da Consciência Negra deve sempre ter
como objetivo as políticas para retirar os afro-brasileiros da pobreza, pois
são os mais pobres entre os pobres.
José Sarney
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