Kátia Cubel
Cerca de 97% dos dirigentes de 826 empresas brasileiras
de grande porte acenaram com a disposição de fazer novos investimentos em 2019.
O quadro reflete o otimismo do setor produtivo em relação ao próximo governo.
Em se consolidando, vai dar continuidade às melhorias conjunturais e estruturais
que todos esperam para o próximo ano.
O aceno em direção ao crescimento aparece como resultado
de pesquisa realizada pela consultoria internacional Deloitte, junto à
iniciativa privada, com cerca de 43% do PIB brasileiro, logo após o segundo
turno das eleições de outuro. Foram ouvidas 826 empresas que, juntas, faturaram
2,8 trilhões de reais em 2017.
O levantamento foi apresentado em São Paulo, durante
almoço que reuniu para premiação os “mais admirados jornalistas de economia,
negócios e finanças” do país. Se, do púlpito, um representante da Deloitte
externava confiança baseada em dados, atrelada às expectativas de quem gera
riquezas, entre os convidados o clima era de dúvida e preocupação.
Remanescente do conflituoso processo eleitoral de
outubro, a inquietação dos principais jornalistas e de dirigentes dos maiores
veículos de comunicação brasileiros centrou-se na possibilidade de, no futuro
governo, haver retrocessos democráticos. Cabe ressaltar que, em distintos
idiomas da cultura ocidental, o significado de democracia se assemelha: é o
regime político em que predomina a vontade da maioria população. O conceito não
é vinculado à ideologia, se de direita ou esquerda.
A pesquisa apresentada pela Deloitte foi realizada na
semana entre 30 de outubro e 05 de novembro. Ou seja, o diagnóstico resultante
está diretamente vinculado a expectativas em relação ao governo do então já
presidente eleito, Jair Bolsonaro. Entre os pesquisados, instituições
financeiras, infraestrutura e construção, TI e telecomunicações, bens de
consumo e serviços.
A reforma tributária é a mais desejada pelos empresários,
seguida da reestruturação da previdência e da reforma política. Estímulo à
geração de empregos, controle da inflação e ampliação do comércio exterior são
os principais anseios no contexto econômico. No quesito gestão pública – tema
tão caro e ainda tão pouco debatido em profundidade no Brasil – o combate à
corrupção é o principal desejo.
Sob a ótica das corporações (um importante termômetro do
sentimento e do direcionamento da sociedade), seguiremos tratando os sintomas
de uma doença grave intitulada má gestão no setor público, em vez de centrarmos
fogo na causa. No segundo e terceiro lugar, vêm o ajuste fiscal das contas
públicas e a realização de novas privatizações.
O binômio crédito + incentivos segue a ordem de
reivindicações: dinheiro barato e acessível para custear investimentos,
desburocratização na abertura e fechamento de novas empresas, políticas de
estímulo à transformação digital, pesquisa e inovação, redução de impostos,
políticas de incentivos tributários e melhoria na construção das parcerias
publico-privadas, de acordo com os anseios dos empresariado.
Entre os avanços sociais, o recado para o novo governo
foi claro: é necessário investir para valer em educação, retomando o casamento
da quantidade com a qualidade do ensino. A defasagem brasileira nesse setor
afeta diretamente a produtividade em todos os nichos da economia. De acordo com
dados do Sistema Sesi-Senai, são necessário quatro brasileiros num chão de
fábrica para atingir o mesmo resultado de um único profissional na indústria
norte-americana. Segurança, melhorias na saúde, saneamento básico, ciência e
tecnologia despontam na sequência de prioridades.
Num Brasil onde o Executivo não faz milagres, e atua em
interdependência com os Poderes Legislativo e Judiciário, há uma boa notícia no
panorama econômico, que já pode indicar uma nova visão do empresariado, uma
mudança de mentalidade. Cerca de 44% das organizações que irão captar recursos
para ampliar negócios em 2019 o farão junto aos próprios donos, acionistas e
grupos controladores. Menos de ¼ desse universo declara contar com o BNDES e/ou
outras fontes de financiamento público para expandir no próximo ano. Que venham
os novos investimentos.
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