quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A VIDA NÃO CESSA - texto do jornalista, poeta e escritor Carlos Alberto Lima Coelho


A VIDA NÃO CESSA

Carlos Alberto Lima Coelho*

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Todo final de tarde, o mesmo procedimento: uma fugidinha da sala de redação, para rapidamente ouvir o gorjeie dos pássaros, em busca de abrigo, nas frondosas árvores frutíferas que ornamentam o pátio da emissora. Ao mesmo tempo, vejo no céu a modificação do tempo. As nuvens parecem flutuar mais rapidamente para dar espaço ao véu negro da noite. Sinto que alguns colegas têm pressa em ir para casa, é final de expediente para a maioria. Talvez não sintam a paz do entardecer, o fascínio com que a natureza muda o seu curso. Não vislumbram as cores celestes, no por do sol e a paz que inunda o belo da transmutação.
Não vêm que a noite se aproxima, com os seus encantos. Há momentos de solidão, é verdade. Talvez até de tristeza, de sentimentos de mágoa, que esses momentos costumam se apossar do nosso peito. Talvez essa tristeza aumente em sua dimensão, por causa de desilusões, de sonhos não vividos. Não sabem, talvez, que há também um mundo sublime dentro de cada um de nós, que nos permite dimensionar positivamente o nosso entardecer e amanhecer na vida.
Sabemos que as folhas no outono caem desoladas no chão da saudade, mas que na primavera os botões se abem em flores para saudar a alegria que vão enfeitar também o jardim de nossas vidas.
O ontem é passado. E a velha noite se dobrou no tempo para que a aurora descortinasse a manhã de um novo dia, de um novo mundo. Se a lua plantou flores, na escuridão da noite, os raios solares, bem mais pungentes, invadem a terra para avivar o colorido e fazer rejuvenescer as esperanças...
Quero nesse instante mergulhar nas brumas da saudade para lembrar-se do bem e renunciar a tristeza... voltar a ouvir o som do radinho verde do vovô, e viajar nas emoções sonoras dos cantores populares que alimentaram o meu mundo infantil. O trilhar, quase diário, pelas ruas dos bairros que atravessava para chegar à praia da Madre Deus, na minha São Luís do Maranhão, destruída pelo progresso... pobres sonhos de felicidade que acabaram se transformando em saudade.
Ainda olhando por entre as barras de ferro, que erguem a torre da TV, espanto-me com um “até amanhã, chefe” de um colega que deixa o serviço, com certeza, sem vislumbrar a plenitude da beleza do dia que se vai, para não mais voltar...enquanto que horas incontáveis registravam momentos finais do seu corpo material que  também perece, como se a “bateria” que impulsionava as energias da vida, neste plano terrestre, se desgastasse pelo uso contínuo de sua máquina, conforme planejamento espiritual.

“A vida não cessa. A vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões. O grande rio tem seu trajeto, antes do mar imenso. Copiando-lhe a expressão, a alma percorre igualmente caminhos variados e etapas diversas, também recebe afluentes de conhecimentos, aqui e ali, avoluma-se em expressão e purifica-se em qualidade, antes de encontrar o Oceano Eterno da Sabedoria” – Chico

*Carlos Alberto Lima Coelho - Jornalista, poeta e Escritor


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