quarta-feira, 28 de maio de 2025

O país do pano de prato no ombro - artigo de Alex Pipkin, PhD

 

O país do pano de prato no ombro

Alex Pipkin, PhD

         Uma cafeteria. Um desabafo. Um país à deriva.

Fui tomar um café com um amigo — empreendedor, dono de uma cafeteria há mais de dez anos. Bastou perguntar como estavam os negócios para ouvir o diagnóstico seco: “Tô pensando em fechar”. Evidente, não é exclusividade do amigo…

Não por falta de café. Mas por falta de gente com alma.

O que mata o empreendedor brasileiro não é apenas o custo, o imposto, a burocracia. É o colapso invisível da atitude. O Brasil, há tempos, vem fraturando sua coluna vertebral mais silenciosa, ou seja, a cultura do trabalho.

Ele me contou um episódio quase cômico, se não fosse trágico. Um funcionário foi servir com o pano de prato jogado no ombro. Ao ser advertido — por uma questão de higiene, de padrão mínimo — irritou-se, achou-se ofendido e pediu demissão. Não aceitou correção. Preferiu sair. E levou consigo algo mais grave do que um pano sujo. Levou o retrato de uma geração que já não tolera esforço, não reconhece autoridade e se enxerga como vítima em qualquer contexto.

Como escreveu Max Weber, o trabalho foi por séculos a medida da dignidade do homem. Hoje, virou um incômodo. Uma afronta à autoestima inflada por discursos que ensinam o jovem a exigir antes de entregar, a reivindicar antes de compreender.

Claro que há escassez de técnicas, mas essas são ensinadas, como faz meu amigo empreendedor.

Porém, a falta maior é a escassez do “tônus vital”, vulgo tesão. Falta “grit”, aquela garra que os americanos prezam como virtude fundadora. Falta a vontade de aprender, de crescer, de se aperfeiçoar. Falta humildade.

Enquanto isso, cresce o exército de dependentes do Estado. Mais da metade da população brasileira vive de algum tipo de transferência pública. O assistencialismo deixou de ser ponte para se tornar morada. E o brasileiro, outrora orgulhoso de construir sua vida com esforço, virou refém de um Estado que compra apatia com moedas políticas.

Na Brasília das narrativas, o Brasil avança. No balcão da cafeteria, o Brasil sangra.

Empresas fecham não por falência financeira, mas por falência moral. Jovens fogem do trabalho como se fosse punição. Reagem a um puxão de orelha como se fosse uma agressão.

Corrigir virou humilhação. Trabalhar virou humilhação. Empreender virou martírio.

O resultado salta aos olhos em vermelho, verde-amarelo. Cafeteiras vazias de mão de obra, empresas órfãs de comprometimento, jovens que exigem respeito antes mesmo de aprender a cumprimentar. Há trinta anos, um jovem queria seu primeiro emprego. Hoje, exige home office, respeito irrestrito e plano de carreira. Note-se, sem jamais ter lavado um copo.

Não se enganem. O Brasil não quebrou por falta de capital. Quebrou por falta de caráter.

Não é o empreendedor que está cansado. É o Brasil que está adoecido.

E só uma geração disposta a suar de novo poderá reerguê-lo.

Singelo assim.


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