domingo, 15 de junho de 2025

A festança junina da minha geração - crônica de Áureo Mendonça


A festança junina da minha geração (*)

Áureo Mendonça

Em tempos de festas juninas, não havia São João melhor do que o da cidade de Viana, período da minha infância. Festança da qual as famílias todas participavam com muita diversão, afinal de contas os festejos juninos são os mais populares da nossa querida Viana e todo nordeste. Época que era marcada pela sua simplicidade e o povão humilde participava com muita alegria, ao contrário dos dias atuais que ficou elitizado. Apesar do dia 13 de junho data que se comemora Santo Antônio o festejo só começavam véspera de São João e só terminavam dia 29 com São Pedro, haja visto que na cidade não se comemorava São Marçal. Durante esses dias dos festejos na Praça da Matriz muita alegria junina, doces e felizes lembranças que guardo na memória e jamais esquecerei.

Milho cozido, pipoca, tangerina, laranja, milho assado, pamonha, o mingau de milho que em outras cidades nordestina se chama de canjica ou mugunzá, se deliciava bolos, biscoitos, doces e muito mais.

Outra tradição era o momento sagrado as rezas no altar em homenagem a São João e os irmãos José e Manoel Soeiro eram os rezadores oficiais em quase todos os bois de promessa.

Os folcloristas Satú Maia, Josias Carreiro, Faustina Careca, Catarino de Sá, Palestra, Zé Serejo, Zé de Betrone e outros que me falha a memória foram baluartes da nossa cultura.

As ruas se enchiam de bandeirinhas coloridas e fogueiras armadas em frente a cada residência. Na praça da Matriz com a secular Igreja e Palácio Episcopal que fica ao lado da Catedral, fincavam o famoso “pau de sebo”, que tinha no seu pico uma cédula de dinheiro. Aquele que conseguisse subir até lá, escalando, conquistaria do prêmio. A juventude fazia a festa. Em seu entorno a população organizava sua torcida, batendo palmas e incentivando. Quanta alegria, hoje quase não existe mais essa brincadeira.

No centro da Praça o terreiro cercado de madeira e ao redor as barracas de palha, ali no terreiro se realizavam lindas Quadrilhas Juninas. O vestido das meninas e as camisas dos rapazes, eram feitos do mesmo tecido, tipo chita estampada bastante colorida que predominava a cor vermelha. Depois das Quadrilhas vinham os bumba-meu-boi. Outra tradição era a apresentação dos Bois em frente as residências de pessoas que contratavam, era regado a muita cachaça em baldes e tonéis disponíveis para todos bastava levar suas canecas e consumir com moderação, porém alguns exageravam.

Eram músicas estilo junino a noite inteira, com direito a sanfona e tudo o mais. Não tenho dúvidas que minha geração, realmente, soube viver as festas, pois era o povão mesmo que fazíamos acontecer, pois não tinha nada de show de famosos na praça e nem sertanejos tocando sofrência na praça. Era somente a autêntica música nordestina, Luís Gonzaga, Elba Ramalho, Fagner, Geraldo Azevedo, Genival Lacerda, Marinês e outros grandes nomes da música nordestina como nosso querido sanfoneiro Sivuca.

Era forró, baião e muito mais! E para fechar com chave de ouro dia 28 pelas ruas esteiras da cidade no famoso e tradicional Canto Grande tinha o Boi passa fogo.

Época da cidade na pacata, no final de cada dia dos festejos as pessoas só voltavam para suas casa lá pelas tantas horas da madrugada, cansados mas felizes, e já sonhando com o próximo dia e no último dia já também sonhando com o próximo ano.

Foto: meramente ilustrativa.

(*) Áureo Mendonça é pesquisador, escritor e membro fundador do IHGV.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.

Busca