A República sob Mandado de Busca
Alex Pipkin, PhD
13/06/2025
Há uma insanidade muito peculiar que só se manifesta entre os chamados “sãos”. Não entre os loucos que gritam nas esquinas, enfrentam fantasmas e desafiam postes. Esses, ao menos, não disfarçam sua loucura. O louco civilizado e funcional, veste toga, fala com pausas calculadas, assina decisões monocráticas e invoca a Constituição como um mágico tira lenços da cartola. Quanto mais lenços, menos se entende de onde vieram. O truque só funciona porque o país inteiro está trancado dentro do baú, aquele de onde o ilusionista só retira o que lhe interessa.
Não estamos mais diante de abusos isolados, mas da constatação de um novo regime. Um regime onde a aparência da legalidade é o verniz que cobre o vazio do direito. As instituições “funcionam” como verdadeiras máquinas de coerção travestidas de virtude. O Brasil hoje é governado por um Judiciário militante, que legisla, acusa, julga e censura. Um Supremo que confundiu a toga com cetro e o fórum com palco de vaidade.
A cada decisão, a Constituição encolhe. A cada despacho, a democracia definha. O Direito foi substituído pela vontade, fundamentalmente, de prender Bolsonaro.
Não é justiça, é obsessão. Um projeto de poder disfarçado em verniz moralista. Enquanto o país empobrece, o STF se expande em arrogância, visibilidade e vaidade. A indústria estagna, os jovens fogem, e a Corte cava, incansável, atrás do crime que justifique o castigo já decidido.
O Congresso, acuado por inquéritos e processos, começa a ensaiar uma rebelião tímida. Movimentos discretos surgem em reação a recentes decisões do ministro Dino, que, entre outras arbitrariedades, aludem a um novo “orçamento secreto” e a uma execução paralela de emendas por deputados e senadores, ferindo ainda mais a já combalida autonomia legislativa. Essa nova postura é um sinal claro de que os parlamentares, até então reféns do medo e da chantagem judicial, começam a reagir contra o sufocamento do Legislativo, embora ainda entre as sombras da toga.
Enquanto isso, os ministros se transformaram em celebridades da virtude pública. Não são juristas! São influencers togados, citando Rousseau, desfilando em festivais, dando entrevistas como se governassem por aplauso. São os iluministas da selfie, justiceiros de auditório, deslumbrados com o próprio reflexo.
A mídia, domesticada, militante e conivente, aplaude. O “consórcio” virou claques da nova teocracia judicial: jornalistas dóceis, colunistas domesticados, empresários omissos. Todos sabem que há censura, mas a chamam de “proteção da democracia”. Todos mentem, e sabem que mentem.
O resultado é visível: ninguém investe onde a palavra é crime. O país freia sob o peso da toga. O Brasil estagna enquanto o Judiciário milita.
Prender Bolsonaro virou o Plano de Governo. Não há projeto econômico, industrial ou social. Só resta destruir, apagar, criminalizar. Não basta derrotar, é preciso aniquilar.
Vivemos um “novo regime”. Aquele em que a liberdade é precária e o contraditório, suspeito. Onde a censura virou “decisão técnica” e o silêncio, “moderação”.
Sobrevivemos sob um mandado coletivo de busca e apreensão contra a própria República. O país está sendo reconfigurado, não por milicianos, mas por togados que se julgam deuses. Políticos disfarçados de juízes, iluministas de auditório, que não distinguem mais poder de deslumbramento.
Muita atenção - e apreensão!
Quando a liberdade precisa de autorização para existir, ela já não é liberdade! É apenas um intervalo entre dois decretos.
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