sábado, 22 de dezembro de 2012

Refém de mim


( De Carlos Henriques de Araújo)

Primeiro eles entraram no meu quintal
Levaram as galinhas e os perus

Não me importei com isso
Afinal eles estavam com fome e quase nus


 
Depois eles entraram na minha casa
Levaram o som que estava na sala

Não me importei com isso

Seu filho estava com fome e não se cala

 
Outro dia, eles arrombaram o meu carro

Roubaram o cd e a bolsa com alguns trocados

Mais uma vez, não me importei com isso

Afinal eles são pobres e desempregados

 
Agora eles me telefonaram pedindo um resgate

Disseram que estavam com meu filho amordaçado
Mas como meu filho estava no seu quarto, dormindo

Não me importei com isso nem fiquei preocupado.

 
Ontem, quando chegava em casa com minha mulher

Eles me apontaram um revolver e gritaram, sem hesitar,

Passa o relógio, a bolsa e a chave do carro, seu Mané!

Como não tinha alternativa, dei-lhes tudo, até o celular.

 
Hoje, minha casa tem muro alto, cerca elétrica,

grades de ferro, câmaras e dois pastor alemão

Vivo dentro de casa e quase não vou a rua

Minha casa parece uma prisão.

 
Agora me sinto como um passarinho,

Sem liberdade de ir e vir

Preso em meu próprio ninho

Enquanto os ladrões andam por aí,

Soltos, tranqüilos e sem serem incomodados

Aguardando a hora de assaltar meu vizinho.

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