sábado, 15 de fevereiro de 2014

As ladainhas de ontem

Vamos admitir que esse ontem é um tempo que já se foi há 60 ou 70 anos. São Luís era uma cidade pequena e sua zona urbana terminava no canto da fabril. Chegar ao Anil, no bonde caradura, era uma viagem!...
Naquele ontem, todo mundo sabia da vida de todo mundo. As famílias - nem todas, porém, muitas - tinham a prática da ladainha. Ladainha é uma oração repetitiva e faz parte do ritual da igreja católica.
Eu morava na rua Jansen Muller e todas as tardezinhas a gente ia para a casa de tia Mariquinha, que morava na praia do caju, hoje, avenida beira-mar. Éramos umas 15 crianças, juntando as irmanzadas, as primaradas e as vizinhadas. Naquele tempo, meus olhos falavam, e sempre olhavam, na hora das ladainhas, para a mais bonita garota da vizinhada presente... Nas olhadas eu mandava recado... Tia Mariquinha nunca percebeu. Se percebesse, ufa! Nem sei!.
Naquele tempo, havia uma forte religiosidade. Na ladainha, tia Mariquinha conferia se todos estavam com o terço. Feita a verificação, a gente começava a terçada, com ela no comando. Terminado o terço, vinha uma oração repetitiva, que a gente, mesmo criança, sentia muita fé. Era assim:

Senhor, tende piedade de nós
Cristo, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós
Cristo, ouvi-nos
Cristo, atendei-nos
Deus Pai do céu, tende piedade de nós
Deus Filho Redentor do mundo, tende piedade de nós
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós...


Essa oração repetitiva é muito longa e, com certeza, fazia vibrar uma energia muito forte, de paz...
Hoje não sei como estão as ladainhas...
AH!... Eu ia esquecendo: depois da ladainha, tinha chocolate com biscoito da padaria Santa Maria.


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