Sebastião Nery
RIO – Naquele outubro de 1960, terminado o longo e monumental Congresso Internacional de Municípios em San Diego, na Califórnia, que durara duas semanas, um grupo de jornalistas baianos alugou um carro e saímos até São Francisco. Eu tinha ficado amigo do presidente do Conselho Municipal de Los Angeles, jornalista como eu, que me convidou para hospede de sua cidade por uma semana e conhecer além do que mostrava o cinema de Hollywood.
Embora só eu fosse ter a mordomia da hospedagem em Los
Angeles, os outros toparam a viagem toda. E convidei minha bela amiga Mara,
jornalista da Guatemala, já mais do que amiga, cara, cabelos e grandes olhos
aveludados de índia, parecendo um desenho de Paul Gauguin. Ela ia voltar
exatamente para lá, onde morava e estava instalada a representação do seu
jornal e revista da Guatemala.
O Impala rabo de peixe, capota conversível, dava perfeito
para cinco.
Pedimos algumas informações no primeiro posto policial,
aprendi que o macete era seguir sempre o “Dawn-town”. E lá fomos nós atrás do
“Down-town”. Uma ponte, duas pontes, milhares de pontes, um viaduto, dois
viadutos, milhares de viadutos, vários trevos e perdemos nosso
“Down-town”.Tocamos em frente. Não sabíamos para onde íamos, mas íamos.
De repente escrito numa placa: Hollywood. Mais à frente,
outra placa: Beverly Hills. Viramos numa curva e apareceu uma casa com uma
placa:
– “Nesta casa viveu Carmen Miranda”, etc.
Morrera cinco anos antes, em 1955. Paramos. Exploramos
Hollywood toda. À noite, o “Down-town” nos levou ao centro. Acordamos evidentemente cansados. Meu
anfitrião estava eufórico:
– Vocês brasileiros têm mesmo estrela. Hoje à tarde vão
ser recebidos pelo futuro presidente dos Estados Unidos, John Kennedy. Daqui a
pouco estarei aí para pegá-los para o almoço e depois levá-los ao grande
comício.
Kennedy abria sua campanha na Califórnia. Quando chegamos
ao hotel onde seria o comício, pequena multidão já enchia as ruas
próximas. Na frente do hotel, um
palanque e, tocando guitarra e pulando montado em um microfone de pé um rapaz
claro, muito branco, pálido, cabelos bem pretos até a testa, arrebatava os
ouvintes com seu rock alucinado: era Elvis Presley.
No fim da tarde, bem jovem, alto, elegante, de gravata,
uma flor no bolso do paletó, Kennedy subiu correndo a escada que dava para o
palco levantado em frente ao hotel e fez seu primeiro discurso. Depois, um
segundo lá dentro, no grande salão, todo enfeitado de bandeiras e balões;
Só quase madrugada o presidente do Conselho de Los
Angeles nos apresentou ao candidato para um cumprimento e nada além de umas
poucas palavras. A fila era enorme. Mas deu para ver e sentir bem, nos dois
discursos e naqueles dez minutos do encontro, que havia “uma força estranha no
ar”.
Uma semana toda em Los Angeles, conversando com
jornalistas e políticos, a maioria suspeita porque do Partido Democrata, deu
para sair de lá convencido de que havia alguma coisa errada na imprensa
americana e também na brasileira, que já davam Nixon, vice de Eisenhower,
eleito. A Mara trabalhava lá há muito tempo e tinha um grande circulo de amigos
jornalistas, principalmente europeus, latino-americanos e da América Central,
cujos jornais e revistas sediavam em Los Angeles seus correspondentes.
Conversei com eles. E em São Francisco fomos ainda a mais dois comícios de
Kennedy. A mesma comunicação, o sorriso aberto, as frases curtas e fortes e a
promessa de que era preciso mudar. E a imprensa insistindo em Nixon.
Apertado, menos de 1%, 130 mil votos, mas Kennedy ganhou.
Anos depois, o saudoso Samuel Wainer me disse:
-Você escreveu aquilo como em um cassino de Las Vegas.
Arriscou e acertou. O José Guilherme (Mendes, mineiro correspondente da “Última
Hora” nos Estados Unidos), me disse que você ficou envolvido pelo rock de Elvis
Presley.
Mas quem ganhou foi Kennedy.
Hoje, meio século depois, a Hillary é uma hilária e o
Trump uma trampa.
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