Edson Vidigal
Na primeira vez que fui aos Estados Unidos, aproveitando
para estudar voto distrital e financiamento de campanhas, fui a Rock Falls, em
Illinois, sendo acolhido por um casal judeu por uma semana.
No dia seguinte, um sábado, as horas foram passando e
chegando a noite percebi um desconforto no ar. Sairiam para a sinagoga e não
sabiam o que fazer com o hóspede, se me levavam ou se me deixavam sozinho em
casa.
Então lhes falei dos meus ancestrais judeus fugidos da
Espanha para Portugal de onde já como cristãos novos migraram para o Brasil,
indo parar primeiro em Laranjeiras, berço da cultura, da educação, da economia
e da política. Laranjeiras que teria sido a Capital de Sergipe não fossem as
rasteiras do Barão de Maruim manobrando contra.
Em verdade, era a primeira sinagoga a que eu ia. E me dei
bem. Depois dessa, sempre que me convidam vou a todas. Tenho até um solidéu
branco para as emergências, nas viagens.
Mas o que quero contar é sobre um dos rabinos
contemporâneos por quem tenho muito respeito e admiração crescentes – Nilton
Bonder, uma liderança espiritual reconhecida além do Brasil.
Um dos livros do Bonder, o Manifesto da Desobediência
Espiritual está entre os 20 melhores da
sabedoria judaica no mundo.
O Zveiter, meu grande amigo, o primeiro rabino e chefe
maçônico a ser Ministro do STJ, me mandou outro dia um livro do Bonder, o
Código Penal Celeste – prepare sua defesa diante do Tribunal Supremo.
O Código Penal do Bonder ao discorrer sobre a natureza
das penas, ensina que -“Todas as penas celestes são aplicadas na vida.
(Aqui se faz, aqui se paga!). Não há penas a serem cumpridas em nenhum albergue
ou instituição penal post-mortem. Há penalidades que se aplicam ao longo da
vida de uma geração e penalidades com
potencial de se alastrar por mais de uma geração.
Todas as penalidades são executadas sob a forma de
pragas.
As pragas são administradas pela própria vítima.
(...)
O significado popular de rogar pragas como imprecações de
males contra alguém, praguejar, contém a compreensão sutil de que há sempre
ônus e bônus embutidos em nossa forma de viver a vida.
(...)
As pragas são retornos, ricochetes de impressões que
causamos sobre a realidade e que a nós retornam. Como bumerangues, as ações se
voltam a nós e nos abarcam.
Adiante, três exemplos de pragas:
“Que ganhes um milhão na loteria e que o gaste com
médicos”.
“Que tenhas uma bela loja, cheia de mercadorias, mas que os
clientes só queiram aquilo que não tem”.
“Que tenhas uma coceira onde consigas coçar”.
Ao que acrescento a de nós outros, os cristãos – “Deus te
dê em dobro tudo o que me desejares”.
Ah quanto esse livro do Bonder pode servir para tanta
gente! Aqui se faz, aqui se paga.
Edson Vidigal, advogado, foi Presidente do Superior
Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
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