Pedro Valls Feu Rosa
Dia desses, lendo um jornal lá de Moçambique, deparei-me
com uma interessante matéria: "Cada novo milionário custou pouco mais de
2.000 pobres". Curioso, decidi lê-la.
O texto, em resumo, trazia uma interessante manifestação
do economista Nuno Castelo-Branco: "A forma particular como o processo de
reorganização e expansão do capitalismo acontece em Moçambique é determinada
pelo foco do processo político e econômico nas duas últimas décadas, que
consiste em formar uma classe de capitalistas. Revistas especializadas, como a
Forbes, mostram que Moçambique é um dos países africanos com uma taxa mais
rápida de crescimento do grupo de milionários. Entre 2002 e 2014, o número de
milionários moçambicanos duplicou, aumentando em um milhar, e o número de
pobres aumentou em cerca de 2,1 milhões. Isto é, cada novo milionário custou
pouco mais de 2.000 pobres".
Fiquei curioso. Qual seria, neste sinistro contexto, a
realidade brasileira? Comecei pelo número de milionários: eles eram 162 mil em
2015, e, a despeito da crise econômica que se abateu sobre nosso país, passaram
a ser 172 mil em 2016, conforme dados coletados pelo banco Crédit Suisse.
Enquanto isso, o número de famílias em situação de pobreza extrema voltou a
crescer: elas eram 8% em 2014, e passaram a ser 9,2% em 2015.
E o mundo? A quantas andaria o planeta? Alemanha, um
passo à frente: "Julgando pela taxa de desigualdade, a Alemanha já pode se
comparar com os países do chamado Terceiro Mundo. Por um lado, existem várias
famílias com a renda de 30 bilhões de Euros, sendo que sua fortuna continua
crescendo. Por outro, 20% da população não tem quase nada, enquanto 7% tem mais
dívidas do que renda" (jornal "Sputnik").
Encontrei dados praticamente similares relativos ao
restante da União Europeia e aos EUA, todos demonstrando um quadro
absolutamente preocupante. Coroei minha pequena pesquisa com uma constatação da
Oxfam, no sentido de que os níveis de desigualdade alcançaram um ponto tal que
apenas oito bilionários possuem a mesma riqueza da metade mais pobre de toda a
população do planeta.
Fiquei a recordar uma célebre frase de Max Nunes, que,
malgrado relativa ao Brasil, aplica-se já a todo o planeta: "o Brasil
precisa explorar com urgência a sua riqueza - porque a pobreza não aguenta mais
ser explorada".
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de
Justiça do Espírito Santo.
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