Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo Metropolitano de Uberaba – MG
Em pleno século XXI assistimos atos de barbárie bem perto
de nós, jogando por terra todo progresso humanitário e tecnológico conquistado
nos últimos tempos. A Nicarágua está envolvida numa profunda crise, com atos de
repressões e manifestações contra o governo de Daniel Ortega, realidade
transformada em ditadura do poder, assassinando mais de 400 pessoas nesses três
últimos meses.
Essa crise começou em abril deste ano de 2018, com a
publicação de um Decreto sobre reforma da previdência aumentando as
contribuições de empresários e trabalhadores. Surgiram os protestos na capital
Manágua provocando mortes, e se espalhando por outras cidades do país. Com isso
o Presidente Daniel Ortega mandou tirar do ar cinco canais de televisão
independentes.
O Presidente nicaraguense revogou o Decreto, mas as
manifestações com crescimento do número de mortes não pararam, exigindo agora a
sua renúncia de Presidente. Houve ocupação de universidade, abuso de força
militar e conivência com grupos paramilitares. A Igreja Católica tentou, por
várias vezes, mediar diálogos entre essas forças, mas sem conseguir sucesso.
As primeiras manifestações foram de trabalhadores, de
indígenas e de estudantes. Depois entraram também os universitários e outros
setores da sociedade. Na verdade, não há uma liderança única de oposição ao
governo. A Polícia Nacional vem reprimindo as manifestações violentas e se
pronunciou pedindo o fim da violência, mas não houve ainda uma atuação de
defesa dos dois lados.
As mortes têm sido provocadas principalmente por grupos
paramilitares, que circulam por algumas cidades fortemente armados e, no dizer
de Ortega, eles não têm qualquer conexão com o governo. Em alguns locais a
população tem bloqueado estradas e levantado barricadas nas ruas tentando
conter a violência, que já matou em torno de 400 pessoas, 261 desaparecidos e
mais de 2.100 feridos.
Em relação ao Brasil, a crise se agrava com a morte da
brasileira Rayneia Gabrielle Lima em Manágua. Daniel Ortega está no poder desde
2007. O povo pede sua renúncia ou antecipação das eleições presidenciais para
março de 2019. Ele quer as eleições em 2021. Os bispos que tentam mediar o
diálogo são chamados de golpistas, sinal de que a crise não está perto de
acabar.
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