Jorge Oliveira
Rafina, Grécia – A foto exibida por Bolsonaro no Palácio da
Alvorada, residência oficial do governo, cercado por seus ministros, onde ele aparece
de chinelos, é o retrato mais fiel do desprezo que o capitão tem pelo cargo que
exerce. Lá na minha terra, em Maceió, dava-se a isso o nome de maloqueiro,
sinônimo de: maltrapilho, esfarrapado, farrapo, grosso, grosseirão. É dessa
forma, com essa roupagem de indigente, que o capitão pretende conduzir o país
pelos próximos quatro anos.
Se observarmos a imagem com mais atenção, é perceptível o
constrangimento estampado na cara de cada um dos seus auxiliares com o
flagrante. Como desabafou Bebianno, seu principal ministro, ao ser chutado do
Palácio do Planalto, o país está sendo governado por um louco. Diante dessa
constatação, ele agora pede desculpa à população por tê-lo ajudado a chegar à
presidência.
É com o diagnóstico de esquizofrênico e adotando esses
modos grosseiros, rudimentares e incivilizados que Bolsonaro se apresenta aos
seus eleitores para governador o Brasil. Confunde bons modos, respeito e
civilidade com populismo barato como se ainda estivesse no palanque. Falta
pouco, muito pouco, para desfilar à beira-mar com um isopor na cabeça, como fez
Lula nos seus dias de glória.
Incrível como os dois se parecem.
Bolsonaro avacalha-se na postura. Está longe de um grande
líder, um estrategista que guia a nação com a sobriedade e equilíbrio. Sem precisar, necessariamente, aparecer em
cenas grotescas para se aproximar do seu povo, humilhando-o, desrespeitando-o,
tratando-o como se ele fosse uma caricatura à sua semelhança.
Bolsonaro mostra-se um jeca.
Ainda está longe, muito longe de ser respeitado como um
chefe de estado quando posa para fotografia como um mulambento.
O capitão nunca foi e jamais mais será um líder de massa.
Obscuro como político, elegeu-se deputado sempre pela força dos militares que
tinham nele seu principal escudo para defender os interesses da corporação.
Chegou ao poder na canoa da corrupção petista. E mesmo assim governa com apenas
um terço do eleitorado (Haddad e os votos nulos e brancos somam mais de 90
milhões dos eleitores). Portanto, não deve brincar de presidente, pois a grande
massa está de olho.
Depois da posse, todos os dias são dias de crise. As
domésticas, as mais graves. O filho Flávio, o Zero Um, é acusado de acobertar
familiares de milicianos em seu gabinete na Assembleia do Rio e de lavagem de
dinheiro nas negociatas de imóveis. Pesa contra ele a cumplicidade com Queiroz,
um ex-policial carioca, lotado no seu gabinete, que extorquia dinheiro dos
salários dos empregados do gabinete dele. Bolsonaro também não esclareceu como
os 25 mil reais do Queiroz foram parar na conta da Michele, sua mulher. A versão
de que a grana surgiu de um empréstimo entre ele e o policial é lorota,
conversa pra boi dormir. Não devemos esquecer que as maracutaias do atual
presidente apareceram antes das eleições com a descoberta da Wal, a funcionária
fantasma do gabinete dele que tinha uma barraca de açaí em Angra dos Reis.
Ora, ora, sacrificar Bebianno como boi de piranha é tentar
enterrar apenas um cadáver do seu governo, deixando outros insepultos. Bebianno
é acusado de fazer o que ainda é comum em eleições: o golpe das candidaturas
laranjas. Como político longevo Bolsonaro conhece muito bem como funciona esse
tipo de operação. Essa conversa de que fez uma campanha franciscana só convence
seus eleitores ingênuos que ainda acreditam em cegonha e em Papai Noel.
Bebianno sai do governo e leva com ele uma montanha de segredos financeiros. Se
começar a soltar a língua, o governo estará à beira do brejo.
Bebianno foi o principal articulador financeiro da
campanha. O caso de Minas Gerais e Pernambuco, que envolvem candidatos
laranjas, não é o primeiro nem será o último. Outros escândalos vão surgir nas
contas do PSL e de outros partidos. Acontece que Bolsonaro sabe como essas
operações foram articuladas pelo seu tesoureiro. Agora, depois de chegar ao
poder, mostra-se surpreso com o escândalo. E para exorcizar rapidamente o
problema, prefere colocar o pescoço do amigo leal na forca a reconhecer a sua
gratidão.
Uma coisa o eleitor do Bolsonaro já percebeu: ele não é
fiel a ninguém. Entre ficar com os filhos – ingênuos e despreparados na
política – a auxiliares que o ajudaram a
chegar ao poder, ele opta pelos garotos que vão levá-lo mais cedo ou mais tarde
a mesma árvore dos enforcados.
Os zeros do Bolsonaro – o Um, o Dois e o Três – conhecem de
política como Lula conhecia de fissão nuclear: nada.
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