Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte – MG
Reconhecimento e gratidão àqueles que corajosamente
defendem a Serra da Piedade. Caminhando com a Arquidiocese de Belo Horizonte,
guardiã do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, no ponto mais alto do
maciço, estão pessoas que defendem a sustentabilidade e o desenvolvimento
integral. Cidadãos que, assim, pautam suas condutas de modo coerente com o
Evangelho de Jesus Cristo. Primam pela honestidade, patrimônio que a traça não
corrói. Defendem a verdade, em vez de articulações que, mesmo amparadas por
decisões judiciais - questionáveis, saliente-se - ,buscam somente contemplar
interesses pouco nobres. A crescente comoção do povo mineiro, que abomina a
inadmissível decisão de autorizar a mineração na Serra da Piedade, faz crescer
o interesse de toda sociedade a respeito dos inscritos e dos não inscritos na
lista de amigos desse lugar sagrado.
Fora da lista de amigos da Serra da Piedade estão os que
enxergam somente o interesse pecuniário, dominados pela idolatria do dinheiro
e, por isso, defendem a mineração no território sagrado. Nessas pessoas, a
qualidade dos recursos naturais da Serra desperta somente a ganância. Estimula
percursos indevidos, com decisões judiciais que, na sua obscuridade, ainda
receberão luzes próprias do qualificado entendimento da Lei, fundamentado no
bem e na verdade. Tomem consciência os que estão fora da lista de amigos da
Serra da Piedade: a decisão de explorá-la não é força para a retomada da
economia mineira. A mineração em um lugar sagrado, a partir de juízos parciais,
tende ao fracasso, cedo ou tarde.
A luta dos amigos da Serra da Piedade não está perdida. É
uma grande batalha, por vezes considerada impossível de vencer. Estejam certos:
o mal, muitas vezes, parece triunfar, mas, no fim, o bem sempre prevalece,
conforme a história já mostrou tantas vezes. Permaneçam unidos os que defendem
a Serra, pois a hora é de buscar a vitória do bem. Esse triunfo pede radical
mudança de mentalidade, a reorganização de interesses a partir do nobre sentido
de cidadania. A Serra da Piedade precisa ser recuperada da ferida criminosa que
lhe foi aberta no passado, por uma mineração não supervisionada, feita no
desarvoro do lucro. É preciso que se determine judicialmente, com exigências a
quem se propõe a empreender, o caminho para a recuperação da natureza, de modo
que a ferida na Serra cicatrize e o território sagrado seja restaurado.
A Serra da Piedade é verdadeiro coração de Minas Gerais,
pois congrega riquezas minerais, religiosas, históricas, culturais e
paisagísticas que compõem a identidade do Estado. Mesmo sendo tão preciosa,
está sob ameaça. Às vésperas de se completar um mês da fatídica tragédia em
Brumadinho, no Córrego do Feijão, um órgão do poder público estadual autoriza a
ampliação da ferida na Serra. Trata-se de desrespeito ao território sagrado e
aos cidadãos enlutados. Decisão que contrasta com o posicionamento lúcido,
corajoso e cidadão do Legislativo Mineiro, que aprovou regras mais rígidas para
a mineração. A Lei, já com a competente sanção do Governador do Estado de Minas
Gerais, contribui para mudar a história, evitando que vidas humanas e o meio
ambiente sejam novamente devastados em tragédias inaceitáveis.
Mesmo assim, permanece a ameaça à Serra da Piedade, com
real possibilidade de impacto na vida de muitas pessoas, que podem sofrer,
inclusive, com a falta de água. A atividade minerária autorizada no território
sagrado inclui a permissão para perfuração de poços artesianos profundos, para
que se utilize a água no processo de lavagem do minério. A justificativa de
pessoas interessadas na exploração da Serra é fraca. O argumento é que a
atividade minerária se ampara em decisão judicial. Há quem veja na composição
de conselhos importantes, a exemplo daquele que autorizou a mineração na Serra
da Piedade, a causa de problemas crônicos. Os critérios adotados para a seleção
de representantes nessas instâncias estão mais submissos ao poder econômico,
deixando, em segundo plano, o interesse coletivo.
A decisão que autoriza a ampliação da ferida no coração de
Minas Gerais está em descompasso com os pronunciamentos do Conselho do
Monumento Natural da Serra da Piedade, ligado ao poder público estadual. A
exploração mineral autorizada prevê que a atividade de retirada de rejeitos
utilize vias no território do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade
- solução mais barata para o empreendedor,
que amplia o seu lucro, mas gera ainda mais degradação. Imaginem o absurdo: por
dentro do território sagrado, vão se deslocar 220 caminhões de rejeito por dia,
em mais de 400 viagens nessas estradas.
Não se sabe se os responsáveis pela decisão de autorizar a
exploração do território sagrado, coração de Minas Gerais, têm consciência da
gravidade das suas ações, que os colocam na lista dos “não amigos” da Serra da
Piedade. O que se espera de todos eles? Que sigam o caminho da conversão. Por
hombridade e respeito, abandonem a estrada que leva à desolação e ao fracasso.
Que inscrevam seus nomes na história dos mineiros a serviço do bem, na lista
dos amigos da Serra da Piedade.
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