José Sarney
Os dois atentados desta semana trágica têm uma advertência:
a internet, como toda tecnologia, pode ser usada pelo bem ou pelo mal, para o
bem ou para o mal. Assim, temos que ficar atentos aos desafios de evitar, ou
frear, essa face.
O caso mais emblemático foi o duplo atentado terrorista da
Nova Zelândia. Lá o assassino atingiu duas mesquitas. Preso pela polícia, disse
esta monstruosidade: “Não era preciso mirar, eu tinha alvos à vontade.”
Antes de chegar à mesquita de Al Noor, em plena hora das
preces, quando cerca de 400 pessoas rezavam, ele parou, olhou para a câmara que
o filmava e citou o nome de PewDiePee — um cômico que nada tem a ver com o
terror, até há pouco tempo o mais acessado youtuber, pedindo que subscrevessem
seu site. Um truque para que a transmissão do crime ao vivo, via Facebook,
fosse assistida por mais pessoas.
Dali ele partiu para a primeira etapa do atentado, atirando
a esmo entre os fiéis e matando 41 pessoas — um dos muitos feridos morreu
depois num hospital. Frio, voltou ao carro e dirigiu até outra mesquita, onde
mais sete morreram.
Enquanto isso, na internet, ocorria uma caça de gato e
rato: a corrida entre os serviços do Facebook para fechar os links e as
reproduções dos atos e sua reação em cadeia, como numa bomba nuclear, logo
continuada em outros aplicativos. Mas o papel da internet no atentado não se limitou
à exposição. Um manifesto do terror vinculou sua inspiração aos cultos da
extrema-direita, citando o nome dos principais sacerdotes dessa religião, já
antiga, mas agora renovada, da morte cega.
O assassino usou cinco armas, de pistolas a rifle automático.
A Primeira-Ministra da Nova Zelândia foi enfática: as leis sobre armas do país
vão se tornar mais rígidas, para aumentar a segurança. A nação do Pacífico é
muito pacífica, e os 49 mortos desta trágica sexta-feira bateram, num só dia,
seu total anual de homicídios.
Se o número de mortos lá foi maior, a nossa tragédia de
Suzano nos fere mais o coração. Esses dois rapazes que também se prepararam
frequentando páginas de doutrinação não agiram contra o “inimigo” do outro
lado, mas contra os mais próximos de si. O tio que queria que um deles
estudasse, os professores que representavam a educação, os colegas de bairro e
escola.
Na internet treinaram nos vídeo-games e compraram parte, ao
menos, de suas armas. Nós, também, temos que denunciar a facilidade do acesso
às armas de fogo, responsável por nos colocar no terrível destaque mundial de
país com mais homicídios do mundo.
E, aqui no Maranhão, temos que mudar com urgência nossa
política de segurança. Não é possível que nossos números mensais sejam equivalentes
ao total anual de mortos da Nova Zelândia.
José Sarney
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