quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

A MINHA TERRA - lindo poema de Casimiro de Abreu


A MINHA TERRA


Casimiro de Abreu

***** 

Que terno sonho dourado

Das minhas horas fagueiras,

No recanto das palmeiras

Do meu querido Brasil!

A vida era um dia lindo

Num vergel cheio de flores,

Cheio de aroma e esplendores

Sob um céu primaveril.

 

A infância, um lago tranquilo

Onde começa a existência,

Onde os cisnes da inocência

Bebem o néctar do amor.

A mocidade era um hino

De melodias suaves,

Formadas de trinos de aves

E de perfumes de flor.

 

O dia, manhã ridente,

Numa canção de alvorada;

A noite toda estrelada

Após o doce arrebol;

E na paisagem querida,

Os ramos das laranjeiras

E das frondosas mangueiras

Douradas à luz do Sol!

 

Oh! que clarão dentro d'alma,

Constantemente cismando,

O pensamento sonhando

E o coração a cantar,

Na delicada harmonia

Que nascia da beleza,

Do verde da Natureza,

Do verde do lindo mar!

 

Oh! que poema a existência

De infância e de mocidade,

De ternura e de saudade,

De tristeza e de prazer;

Igual a um canto sublime,

Como uma estrofe inspirada

Na noite e na madrugada,

Na tarde e no amanhecer.

 

De tudo me lembro e quanto!

A transparência dos lagos,

As carícias, os afagos

E os beijos de minha mãe!

Dos trinos dos pintassilgos,

Da melodia das fontes,

As nuvens nos horizontes

Perdidos no azul do além.

 

Quando eu cruzava as campinas,

Sem sombras de sofrimento,

Descalço, com o peito ao vento,

Num tempo doce e feliz!

Os pessegueiros floridos,

As frondes cheias de amora,

O manto de luz da aurora,

Os pios das juritis!

 

Se a morte aniquila o corpo,

Não aniquila a lembrança:

Jamais se extingue a esperança,

Nunca se extingue o sonhar!

E à minha terra querida,

Recortada de palmeiras,

Espero em horas fagueiras

Um dia poder voltar.

*****



Do livro Parnaso de além túmulo, de Espíritos diversos, com Chico Xavier – FEB – Federação Espírita Brasileira.


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