Escrito por: CUT Paraná
Mais de 30 mil trabalhadores e trabalhadoras foram às ruas de Curitiba nesta terça-feira (19). Na memória o cheiro de gás lacrimogênio. As bandeiras do Estado manchadas com tinta vermelha denunciam que o massacre do último dia 29 de abril não foi esquecido. Os cartazes indicam que os servidores públicos não aceitam, de forma alguma, o reajuste de 5% em duas parcelas imposto pelo governador Beto Richa (PSDB) ao encerrar a breve negociação com a categoria. O percentual é inferior ao índice da inflação de 8,17%.
Mas apesar de todos os sentimentos esta é apenas a segunda etapa de uma mobilização que já dura meses. Ainda em fevereiro a categoria, liderada pelos professores e funcionários de escolas, iniciaram uma greve contra o confisco de suas aposentadorias. O projeto de lei arrastou-se durante meses entre idas e vindas ao poder legislativo, culminando com o massacre do dia 29. Agora a luta é para não perder o poder de compra e não ver o salário ser defasado pela inflação.
“Nós insistimos: não devemos nada para o estado do Paraná. É esse estado que deve para todos nós. Deve promoções, progressões, concursos públicos, formação continuada, uma educação de jovens e adultos adequadas, escolas que ofereçam segurança para o nosso trabalho. Temos um governo que deve, e deve muito, aos servidores públicos. Por isso estamos aqui em grande número na praça pública”, declarou à multidão nas ruas o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão.
A intransigência do Governo do Estado é apontada como um dos principais fatores que levam à continuidade da paralisação. “A nossa greve feita por professores e funcionários, sob a liderança decisiva da APP-Sindicato, é legítima e temos dialogado a pauta com toda a sociedade. Não aceitamos que o Governo, na última quinta-feira, fizesse um documento público encerrando as negociações com os servidores. Com todos os servidores! Desrespeitando as entidades, atacando o direito previsto na constituição brasileira”, enfatiza o Leão.
Enquanto isso, ao lado de barraquinhas de vendedores ambulantes que ofertavam faixas, apitos e bandeiras de luto pela educação, uma outra tenda arrecadava assinaturas pedindo uma CPI da Corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná. A expectativa, segundo o responsável pela coleta, era reunir somente nesta terça-feira mais de oito mil assinaturas. Na mira da oposição estão as denuncias de desvios na receita estadual que atingem diretamente a campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB).
professora Veraci Minozzo |
Contudo, nem a canseira da viagem na madrugada, tampouco o longo tempo de resistência na greve desanimam a professora. “Enquanto não houver negociação e não sairmos ilesos de tudo isso continuaremos com a greve, nem que ela dure seis meses”, garante a professora enquanto ao fundo gritos de “Fora Beto Richa” ecoavam pelas ruas da capital paranaense.
Enquanto isso, poucos metros adiante, o professor de educação física Marcos Antônio Ferreira da Silva, 49 anos, mostrava-se contrariado com toda a situação. “Fico entristecido pois estão maltratando justamente as pessoas que tratam dos filhos da nossa terra. Quem educa nossos filhos? São os professores que estão lá para ensinar, então tudo isso é um desrespeito com o nosso próprio povo”, projetava.
Ele lamenta a ausência das aulas e a continuidade da greve, inclusive, ressaltando a saudade dos alunos e da convivência na comunidade escolar. Mas não vê outro caminho a ser seguido. “Infelizmente sim, sou a favor da continuidade da greve. Trabalho com o coração e sinto falta dos meus alunos. É humilhante para mim ter que passar por este tipo de coisa”, relata.
Contudo, ele também tira força de quem motiva seus sentimentos de saudades. “Os pais e alunos estão dando o maior apoio. Mas também vejo a tristeza na carinha dos alunos. É uma situação (provocada por um adulto) que está comprometendo o aprendizado deles”, pondera Silva que leciona Colégio Inês Vicente Borocz, em Curitiba.
Recuo – Na tarde de segunda-feira (18) o Governo do Estado suspendeu o envio do projeto de lei que propõe o reajuste de 5% em duas parcelas para os servidores públicos. O recuo pode ser visto como uma vitória da categoria, uma vez que o governador Beto Richa já havia declarado publicamente as negociações como encerradas.
Contudo, a categoria não abaixa aguarda e permanece vigilante e na luta até que as negociações sejam retomadas para atender as reivindicações, como o reajuste de 8,17% em parcela única e em junho.
O posicionamento é bastante lógico, sobretudo tendo em vista os recentes acontecimentos na desgastada relação da categoria com o Governo do Estado. Fato que pode facilmente ser traduzido pela nota dada pela professora Veraci ao governador Beto Richa. “Eu dou nota 1,5. Ele não aprendeu a lição”, finalizou.
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