Lúcia Moysés*
Sonhar com o filho que ainda vai nascer é uma das experiências mais recorrentes entre as futuras mães. São dias especiais os seus. É o corpo que vai se transformando pouco a pouco, são os movimentos do bebê se fazendo lembrar a todo instante, os exames, os preparativos, tudo concorrendo para aumentar suas expectativas, levando-as a concentrar o pensamento no filhinho que aninha em seu ventre. Assim, é natural ver os sentimentos e experiências vividos durante as horas de vigília repercutindo nos seus sonhos.
Mas será que é somente isto? Um reflexo do dia sobre o
cérebro da mãe?
A Doutrina Espírita nos aponta outras possibilidades.
Baseando-se no princípio da reencarnação, ela admite que em cada gestação há um
espírito que retorna à vida na Terra, alguém que já viveu anteriormente e que
longe está de ser uma folha em branco. Ao contrário, é dotado de razão, emoções
e sentimentos.
Para inúmeros espíritos, o processo reencarnatório não é nada fácil. Angustiados pelas incertezas da jornada que irão encetar, sentem medo, têm dúvidas, sofrem.
Sendo o sono um momento de emancipação da alma, a constante
lembrança da mãe de que há um novo ser se formando no seu próprio corpo
favorece a comunicação espiritual entre ambos. Isto se dá por intermédio dos
sonhos. (O capítulo VIII de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec expõe esse
tema de maneira admirável).
Conhecendo a realidade desse processo de intercâmbio entre a
futura mãe e o filho que vai nascer, pude compreender o que deve ter se passado
quando Mônica, uma companheira de ideal, grávida pela primeira vez, me pôs a
par do sonho que tivera com o seu bebê.
Tudo começou quando se preparava para fazer o exame de
ultrassom que deveria identificar o sexo da criança. Na noite anterior sonhou
que se tratava de uma menina, fato posteriormente confirmado.
O mais extraordinário, no entanto, ocorreu poucos meses depois.
A futura mamãe estava às voltas com o chá de bebê: convite para as amigas,
lista de presentes, lembrancinhas... Havia muito com o que se preocupar.
Estudiosa da Doutrina dos Espíritos, Mônica e o marido
procuravam manter-se sintonizados com o Bem, cultivando o hábito da oração
antes de dormir. Tampouco se descuidavam das conversas carinhosas com aquela
alminha que lhes estava sendo encaminhada. No seu lar, a menininha seria
recebida com muito amor.
Certa noite, ela teve um sonho muito claro e impactante. Via
uma garotinha que pressentia ser a sua. Usando um tipo de linguagem não
articulada, como uma mensagem telepática, ela dizia da sua satisfação em
receber o carinho de pessoas amigas no chá de bebê. No entanto, fazia um
veemente apelo à mãe: que pedisse aos convidados que destinassem parte dos
presentes para crianças carentes, revelando a sua preocupação com os que não
têm o mínimo, sequer, ao nascer.
Por sua singeleza e por tudo o que revela, esta foi uma
história que muito me comoveu. Acreditando que houve, de fato, um encontro de
almas, me ponho a pensar sobre a grandeza desse espírito, que deixa
transparecer a bondade a se espalhar do seu coração antes mesmo do seu
nascimento.
Nesses tempos em que a valorização das conquistas materiais
parece sobrepujar a das morais, o recado do espírito reencarnante é bem claro:
sejamos solidários, pratiquemos a fraternidade e o amor aos nossos semelhantes.
Entendo que ele quis dizer que criança não precisa de tantos
bens materiais, não precisa ser encastelada em quartos principescos, tendo um
guarda-roupa a sua espera que em curto espaço de tempo se perderá. Precisa de
direção e amparo para que não se perca da Estrada do Bem.
Lúcia Moysés é escritora e escreve semanalmente no Jornal Correio Espírita
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