Eu devia ter uns doze anos de idade.
Era fim de agosto
e no colégio onde estudava, na pequena cidade do interior de Santa Catarina,
havia a tradição do desfile de sete de setembro. Por esses dias as irmãs da
Sagrada Família, mantenedoras e professoras do colégio, tinham a preocupação de
levar os alunos e professores para as ruas adjacentes a fim de ensaiarem a
marcha para a data nacional.
Havia grandes
preparativos e não podíamos fazer feio. Ninguém podia desfilar com passo
errado.
O uniforme das
meninas consistia de uma saia azul-marinho, pregueada, blusa branca, meias
brancas e sapatos pretos. Na cabeça uma boina da mesma cor da saia e luvas
brancas completavam o traje de gala. Para mim, essa indumentária era um luxo.
Vovó fez um par de luvas de crochet que eu ostentava com a faceirice e vaidade
pré-adolescentes.
Nos dias de
ensaio eu chegava em casa para o almoço cansada pelo esforço da marcha, suada,
com fome, os sapatos cheios de pó, pois as ruas não eram asfaltadas, mas me sentia
muito feliz. Um sentimento de importância me transformava. Me sentia parte da
grande massa chamada povo, que um dia levaria este grande país a ser
reconhecido no mundo. Meus sonhos de menina eram bastante ingênuos.
Um orgulho enorme
tomava conta de mim ao cantar o hino nacional, perfilada, mão sobre o coração,
olhos postos na bandeira.
Quando acontecia
de chover nessa data festiva, o desfile era cancelado. Uma decepção só! O
uniforme caprichosamente passado e engomado, meu entusiasmo e orgulho de desfilar
ficavam, então, adiados por um ano inteiro, até o próximo sete de setembro.
O sentimento
patriótico ainda permanece em mim, mas o ideal de um país econômica e
moralmente forte, faz tempo que vem minguando. Desde jovem acreditava que uma
nação onde se prioriza a educação, a ciência, teria tudo para se tornar uma
grande potência.
Muitos anos se
passaram e não vi isso acontecer. Já estou na terceira idade e esse sonho cada vez mais se distancia de
mim...
Para minha
decepção, o que vejo hoje é um total descalabro que começa lá no alto com a
classe dominante e se estende até a base da pirâmide.
O sete de
setembro parece ter perdido a importância. Os desfiles estão cada vez mais
simplificados. Pouco público ainda se interessa por eles. Hoje são palco de
manifestações e a bandeira do Brasil quase nem aparece em meio às bandeiras
vermelhas e cartazes com reivindicações.
O nacionalismo
sadio, o orgulho de pertencer a este enorme país, a fé no futuro...onde estão?
Será que foram se perdendo ao longo dos anos ou ainda há alguma esperança de
reencontrá-las?
*Maria Antonieta
Camargo Amarante - Formada em Letras Português/Inglês pela Universidade Federal
do Paraná. Graduada em Língua Inglesa
pelo Centro Cultural Brasil/Estados Unidos.
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