(Publicado anteriormente em 20 de março de 2011 no Jornal Estado do Maranhão)
Leio nos jornais de hoje que o IPHAN está realizando a terceira etapa de inventário, buscando registrar os locais por onde passaram os rebeldes da Primeira Divisão Revolucionária.
Deixarei minha contribuição, transcrevendo trecho de livro
que estou escrevendo, em parceria com minha mulher – a Profa. Delzuite Dantas
Brito Vaz, professora de História do Liceu Maranhense; e nossa sobrinha Elisa
Brito Neves dos Santos (Promotora de Justiça no período de 1972 a 1992,
Procuradora de Justiça do Estado do Maranhão de 1992, até a aposentadoria, em
2009). A base, é a monografia de Graduação em História, orientada pelo Prof.
Dr. João Renôr, da qual fui co-orientador.
PASSAGEM DA COLUNA PRESTES POR PARAIBANO
IN HISTÓRIA(S) DO/DE PARAIBANO (MEMÓRIA ORAL) por DELZUITE
DANTAS BRITO VAZ, ELIZA BRITO NEVES DOS SANTOS, LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
(Inédito)
Sabe-se que a “Coluna Prestes” passou pelo Maranhão. Mas que
parte dessa coluna passou pelo Brejo, não se tinha conhecimento até a defesa da
Monografia de Graduação de Delzuite Dantas Brito Vaz , conforme se vê no
depoimento prestado, a época, por Elisa Brito Neves dos Santos. Conta as pagina
149 e seguintes, que sua mãe fala dos “Revoltosos”, a quem estavam sujeito a
receber. Seus tios estavam preparados a receber esses andarilhos dessa maneira:
escondiam os cavalos, pois quando passavam trocavam os animais, pegando outros
descansados. Os moradores escondiam suas montarias…
Um dia, vindos do lado do Riacho do Meio, uma turma de
homens a cavalo – fortes, altos, bonitos, na descrição de sua mãe… – chega e
são recebidos pelos “Paraibanos”. A avó da depoente, Joaquina Maria das Dores,
teria feito comida para eles, pilando o arroz que seria servido.
Chamaram a sua presença a José de Brito Sobrinho (José
Paraibano) e mandam apanhar os animais, que seriam trocados pelos deles. José
Paraibano cheio de astúcia, de artimanha, saiu com uma parte desses homens
pelas matas, a procura dos animais, que ele havia escondido.
Dizia Zé Paraibano que ouviam o barulho dos animais, perto
de onde passavam, fazia de conta que não estava ouvindo: “mas eu não sei onde
estes animais estão…” e levava aqueles homens pelas brenhas, pelos espinhos.
Aquele matagal, sem estrada, sem nada; levava pelos piores caminhos. E os Revoltosos,
já cansados e todos cheios de espinhos, disseram: “Não, vamos para casa, a
gente não encontra esses animais, vamos para casa…”. E voltaram e assim
conseguiram se livrar dos Revoltosos sem dar seus animais.
Para Elisa, era a parte chefiada pelo Juarez Távora , que
passou por Brejo do Paraibano, em direção a Colinas , pela época dos festejos
de Nossa Senhora da Consolação, a oito de dezembro. O que é confirmado por
PINHEIRO, 2005, quando relata a passagem da Coluna entre Pastos Bons e Colinas,
porém não faz referencia ao Brejo . Aí, a Coluna se instalou, passou vários
dias; depois Juarez foi preso, já em Teresina-PI.
Na passagem pelo
Maranhão a Coluna se dividiu em três. Segundo Prestes: Foi uma verdadeira
divisão estratégica. Uma parte da Coluna ficou comigo e tomamos a direção do
rio Balsas,[…]. Uma segunda coluna, comandada por Siqueira Campos para marchar
mais ao norte […]. E uma terceira coluna, que era comandada por João Alberto,
para marchar mais pelo centro. Mais todas orientadas no sentido do rio
Parnaíba.
Na Matta (Dom Pedro), Manoel Bernardino – o Lênin do Sertão
– se preparava para integrar o destacamento de João Alberto e, no dia 06 de
novembro de 1925 invadiu Curador com 65 homens armados de rifle e usando todos
como distintivo uma fita vermelha. Bernardino tratou todos com cortesia e
solicitou de alguns comerciantes contribuição para as suas tropas. Não obtendo
o resultado esperado, saiu da cidade no dia 08 (nov.) e retornou no mesmo dia à
meia-noite, desta vez mais agressivo, invadiu as casas de alguns comerciantes e
saqueou as mercadorias, distribuindo à população pobre o que não poderia ser
levado.
A Coluna Prestes e o
cavalo marchador de Sêo Sales
por Djalma Britto in
http://www.limacoelho.jor.br/vitrine/ler.php?id=855
Em 1926, lá estão Sêo Sales e Dona Lili, na fazenda Serra
Negra, preocupados com a possibilidade de virem a ser surpreendidos pela tal
Coluna, pois, segundo ouviram dizer, para manter a tropa, os líderes ou
responsáveis requisitavam mercadorias, bens, animais e tudo o mais necessário,
com a promessa de serem ressarcidos tão logo fossem vitoriosos em sua
intentada.
[…] Para não serem pegos de surpresa, Sales e Lili trataram
de esconder as mercadorias que possuíam em estoque e reduzir a quantidade dos
gêneros nas prateleiras da loja. […]
É nesse cenário que entra em cena, para espanto de todos, o
Cornélio, intitulando-se emissário e negociador da Coluna. […] Deve-se
esclarecer que o tal emissário era filho do “Velho Bodô”, vaqueiro da fazenda
Serra Negra e homem de confiança de Sêo Sales. Dona Lili, que conhecia o
Cornélio, desde que ele nasceu, pois nascera em Serra Negra, costumava
passar-lhe “pitos”, ficou desconfiada e tentou demover o marido de sua
credulidade.
[…] Coincidência é que os “revoltosos” – termo que Dona Lili
se referia aos integrantes da Coluna Prestes – estavam, realmente, próximos à
fazenda, distante cerca de quarenta quilômetros de Colinas, antigo Picos do
Maranhão.
[…] Não tardou e os “revoltosos” chegam a Serra Negra e,
como primeira providência de um dos oficiais, foi solicitar a Sêo Sales que lhe
mostrasse a casa, alegando, naturalmente, que queria determinar a acomodação do
pessoal que o acompanhava. […] como nada foi encontrado no local onde se
afirmava ter mercadoria escondida, o clima ficou menos tenso. O oficial a que
nos referimos era o Juarez Távora.
Foi então servida alimentação à tropa que se arranchou como
pode nas acomodações da enorme casa centenária. Maneiroso, o oficial Juarez
Távora disse a Sêo Sales que tinha conhecimento de que era possuidor de um
cavalo de boa qualidade, marchador e famoso e que estava requisitando o animal,
que seria devolvido posteriormente. Realmente, o tal cavalo era mesmo muito
bom. Servia de montaria preferida para o meu avô. Sem titubear, Sêo Sales
aquiesceu e disse ao oficial que poderia utilizar o animal, se o localizasse.
Começou, então, a caça ao cobiçado cavalo. Alguns soldados
foram escolhidos para empreender a procura. Retornaram, horas depois, com
algumas montarias, mas não exatamente o cavalo de sela do Sêo Sales. […]
Assim foi a passagem da Coluna Prestes pela fazenda Serra
Negra. Anos mais tarde, Juarez Távora veio a São Luís. Meu avô era deputado
estadual e recebeu a sua visita. Entre amenidades, o oficial Távora dissera a
meu avô que o culpado por ele ter sido preso teria sido ele. Explicou: se o
senhor tivesse me cedido o tal cavalo marchador, jamais teriam me surpreendido.
Chamava-se Cornélio.
Jamais o conhecemos. Era um irmão do pai velho que juntou-se
à Coluna Prestes e jamais deu notícia à família. Dona Lili conta que Cornélio
não permitiu que a Fazenda Serra Negra fosse ‘invadida’ pela Coluna e nem que o
comércio da fazenda fosse saqueado. Era assim, com esse palavreado: ‘invasão’ e
‘saque’ que ela se referia à Coluna Prestes. Mas que Cornélio foi à sede da
Serra Negra para dizer a ela e ao seu Sales que a Coluna não mexeria na Serra
Negra. O meu avô falava pouco sobre ao assunto, só que o seu irmão Cornélio
tornou-se um seguidor do capitão Prestes e ‘caiu nesse mundão de meu Deus’ e
nunca mais deu notícias à família.”.
OS “PARAIBANOS”
Primeiro, vamos
esclarecer de onde é a família de Antonio de Brito Lira – o Paraibano. Embora
tenha recebido essa alcunha, era natural de Taquaritinga, naquela época município de Surubim – Pernambuco. A família tem início com o casamento de um
Senhor de Engenho, casado com uma
portuguesa, da qual descendeu Francisco de Brito Lira. De seu casamento com Ana
Maria da Conceição nasceram vinte filhos, dos quais sobreviveram dezoito e,
destes, tem-se notícias apenas de ANTONIO (Antonio Paraibano); JOSÉ (Zé de Brito);
JOAQUIM; JOÃO; FIRMINO; QUINTINO; FLORENTINO; ANTÔNIA; CONCEIÇÃO; JOSEFA; JOAQUINA.
Além dos filhos que acompanharam Antonio de Brito Lira,
vieram mais tarde outros membros de sua familia – irmãos, sobrinhos, primos,
cunhados – que se instalam na região, à medida que o povoado se desenvolve em
torno das casas que constroem. Chega sua mãe, a Sra. Ana Maria da Conceição que morava em Surubim, depois
Lagoa do Arroz.
Um irmão, José de Brito, adquire uma gleba de terra de
Vitorino Fernandes, filho de José Fernandes.
Essa gleba se chamou “Chapada do Zé de Brito”. Mais tarde, chegaram
outros irmãos – Quintino de Brito Lira, Florentino de Brito Lira; e Antônia de
Brito Lira – Totonha -, esta veio se localizar na Ponta da Serra. Sobrinhos, como João Furtado Brito…
Mas os Brito, de Pernambuco, de há muito vinham migrando
para o Maranhão. Alguns já se haviam instalado – a partir do Século XIX -, em
regiões próximas a Pastos Bons. Cândido Lustosa de Brito – de Arcoverde-PE – se
estabelece na região, habitando primeiro na Barra do Corda, depois no Grajaú, e
por fim povoando o Alto Parnaíba. Segundo Eliza Brito Neves dos Santos, eram da
mesma família…
Mais, os Brito Lira tinham ligação com o Senador Vitorino de
Brito Freire[3], que também era pernambucano, e sempre lembrava ser parente de
Guilhermino…
Os “Paraibanos” eram lavradores. Saindo da Paraíba, chegaram
ao Maranhão em março de 1920, estabelecendo-se no lugar “País da Terra”; em
1921, tiveram sua primeira roça,
continuando com o mesmo tipo de atividade que já desenvolviam em Pernambuco. Em
1922, mudaram-se para “Jatobá” e em 1923 se estabelecem definitivamente no
“Brejo”, e só em 1924 fazem sua primeira roça, localizada no “Poço Verde”.
Fugindo da seca, a familia de Antonio de Brito Lira deixa
Pernambuco percorrendo vários estados do Nordeste, a procura de terras e
trabalho. Passando por São Luís (década de 10), Antonio de Brito Lira e seus
filhos ficam em um navio, por alguns dias, e dai partem para o interior do
estado. Uns trabalhando na lavoura, como assalariados, no Engenho Central
(Guilhermino, ainda garoto, chegou a trabalhar na Mercearia Neves, quando em
São Luis).
Retornaram para a Paraíba. Passaram por Alagoas, depois de
sua passagem pelo Maranhão, e depois, pelo Ceará, antes de retornarem ao
Maranhão, definitivamente.
Antonio Paraibano ia
constantemente a Juazeiro do Norte –CE, onde vivia seu primo Francisco de Brito
Lira, pai de Antonio de Brito Lira – Antonio Duda -, casado com Maria Dadá,
seus sogros. Antonio Paraibano vem a se casar com Joaquina Maria das Dores,
filha de Antonio Duda e Dadá…
Nas conversas de família, contavam que saíram do Ceará após
a “Guerra do Juazeiro”, ocorrida em 1914. Devem ter passado, pela primeira vez
no Maranhão, entre 1910 e esse ano de 1914.
A região do Brejo, na época, não era explorada pela chamada
grande cultura. A agricultura era de subsistência e eles começaram a exploração
racional da terra, trabalhando com mais conhecimento, haja vista que saíram de
uma região mais desenvolvida, com grandes plantações de cana e de algodão.
Trouxeram novas técnicas.
Para iniciar sua lavoura, Antonio de Brito Lira – Antonio
Paraibano – adquire uma gleba de terra – por 200 mil réis – de José Fernandes
de Sousa, conhecido como “José Faustino”, cunhado de um grande proprietário
rural, Faustino de Sousa, Capitão da Guarda Nacional. Daí ser a região
conhecida, anteriormente, como “Brejo do Faustino”.
Quando da chegada dos “Paraibanos”, já haviam outros
moradores ocupando as terras do Capitão Faustino, como agregados (meeiros), e
alguns pequenos proprietários, que mantinham lavoura porem não produzindo o
suficiente para se integrarem ao mercado, comercializando o excedente de sua
produção com pequenos comerciantes; estes se abasteciam em outros centros, como
São João dos Patos, mais próximo, e em Pastos Bons, a sede do município.
A região toda
pertencia ao Capitão Faustino de Sousa e a sua família. Essa terra era pouca explorada, com os
agregados plantando apenas o suficiente para a sobrevivência e um pequeno
excedente para a troca; mesmo o babaçu, o principal produto de exportação do
Maranhão, era pouco explorado.
SANTOS, Elisa Brito Neves dos. DEPOIMENTOS. Entrevista
concedida a VAZ, 1990, obra citada.
Fonte: A “REVOLUÇÃO DA MATTA”: SOCIALISMO E FUZILAMENTOS NO
INTERIOR DO MARANHÃO
– 1921 AUTOR: Giniomar Ferreira Almeida "Monografia
apresentada ao
curso de História da Universidade Estadual do Maranhão –
UEMA para obtenção do grau de Licenciatura Plena em
História. 2003
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_do_Juazeiro,
acessado em 28/01/2009.
ASSUNÇÃO, Mathias Rohrig. A GUERRA DOS BEM-TE-VIS: a
Balaiada na memória oral. São Luis: SIOGE, 1988, p. 220).
VAZ, 1990, obra citada. DEPOIMENTOS.
ROCHA, Décio Heider
do Amaral. Alto Parnaíba. Jornal “O ESTADO DO MARANHÃO”, São Luís,
segunda-feira, 05 de junho de 1989, p. 4, Opinião.
VAZ, 1990, obra citada.
BUZAR, Benedito. VITORINISTAS & OPOSICIONISTAS
(BIOGRAFIAS). São Luis: Lithograf, 2001, p. 15-26.
BUZAR, Benedito. O VITORINISMO – lutas políticas no Maranhão
–(1945 a 1965). São Luís: Lithograf, 1998.
BUZAR, Benedito. A GREVE DE 51 – os trinta e quatro dias que
abalaram São Luís. São Luis: Ed. Alcântara, 1983.
BUZAR, Benedito. OS 50 ANOS DA GREVE DE 51. São Luis:
Lithograf, 2001
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