Carlos Chagas
Devemos preparar-nos. Quando os ponteiros se reunirem, à
meia-noite de sábado para domingo, quem estiver acordado na metade mais
populosa do país, do Mato Grosso ao Rio Grande do Sul, deverá adiantar seu
relógio em uma hora. No mínimo cem milhões terão sido roubados em sessenta
minutos. Para que? Para nada. Melhor dizendo, para confundir-nos. Porque o sol
nascerá na mesma hora. Apenas, quem acorda às sete horas verá que são oito. Uma
hora de sono foi-se com o vento.
O pior é que o novo horário vale para metade do
território nacional. A outra metade seguirá como antes. Um baiano que trabalha
em Minas atravessará a ponte certo de que iniciará sua jornada na hora certa,
mas já estará descontado em sessenta minutos. Em compensação, ao voltar para
casa, ficará sem ter o que fazer por uma hora, esperando o jantar que o
estômago reclama mas a mulher levará igual tempo para servir.
Multiplique-se a situação para a ida e volta das crianças
à escola, entre mil outras atividades, e se terá a receita de como o horário de
verão perturba e irrita a população inteira, lá e cá.
Quase 150 milhões de reais serão economizados nas contas
de luz de meio Brasil, porque não haverá necessidade de acender as lâmpadas
quando a noite chegar. Ainda vai demorar uma hora. No reverso da medalha, será
madrugada quando formos escovar os dentes e tomar café, de luz acesa, gastando
outros 150 milhões...
Imaginava-se que em meio a tantas reformas anunciadas, o
governo Temer se esquecesse do horário de verão, mas não teve jeito. Chega à
meia-noite de sábado para domingo, prolongando-se até março.
O relógio biológico dissocia-se do calendário. Quando nos
tivermos acostumado, será hora de atrasar os ponteiros, para nova temporada de
sacrifícios inúteis. Povo rico é assim mesmo...
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