Sebastião Nery
RIO – A esquerda brasileira sempre foi ligada à esquerda
francesa desde Montesquieu. Apolônio de Carvalho e André Malraux lutaram
juntos na Guerra Civil Espanhola e na
resistência ao nazismo em plena França ocupada por Hitler. Na ditadura militar
brasileira Brizola ficou amigo de Mitterand, dirigindo a Internacional
Socialista do Brasil.
Miguel Arraes, exilado na Argélia, era amigo de Michel
Rocard, Primeiro Ministro de Mitterand, presidente da França socialista. Lionel
Jospin, primeiro ministro da França pelo Partido Socialista, é até hoje amigo
dileto (foram colegas de estudo na Sorbonne) do médico brasileiro potiguar
Kleber Morais, presidente da EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares). Jack Lang, o grande motor da cultura da França nos governos de
Mitterand, construindo a biblioteca Nacional François Mitterand, o Arco de La Defense,
a ópera da Bastilha e tantas outras pérolas dos governos socialistas, tem
amigos brasileiros de norte a sul.
Todos esses e tantos outros, de uma maneira ou de outra
estenderam a mão para os exilados brasileiros. Não foram só eles. Portugal e
União Soviética foram exemplares mas em nenhum país como na França os partidos
Comunista, Socialista e tantos outros, deram casa e comida aos desterrados
brasileiros na ditadura militar. Agora, pela primeira vez em séculos o abraço
político da França à esquerda brasileira está sendo dado pelo partido
Socialista e outros fora do poder. Ainda não se sabe como será Macron no seu
próximo mandato.
Viver é um acontecimento político. A política está
presente no cotidiano de todos e se alargando em todas as relações sociais e
econômicas. Aristóteles, em “Política”, na velha Grécia, afirmava: – “A
política é a ciência da felicidade humana”.
Séculos depois, o gênio S.Tomás de Aquino ratificava: –
“A política é a arte de formar homens e administrar visando o bem comum.”
Platão, professor de Aristóteles, advertia: – “Não há
nada de errado com quem não gosta de política. Simplesmente serão governados
pelos que gostam.”
Os três deixam implícito que é preciso separar a política
que visa o bem comum dos politiqueiros e da politicagem.
A política afeta a vida de todos. Só a participação
consciente da Sociedade pode exigir
políticas públicas fundadas na construção
de realidade mais justa e com oportunidades iguais para todos. Os homens e
mulheres que fogem da política e do supremo ato de lutar pelo interesse comum,
garantem a sobrevivência e vida longa para os dilapidadores do interesse
público. Legendas partidárias no Brasil, na sua quase totalidade, representam a
antipolítica. Estima-se que 90% dos eleitores não se sentem representados por
nenhum partido.
Em 1793, Robespierre à frente do governo definiu o que
deve ser a ética pública:
– “As funções públicas não podem ser consideradas como
sinais de superioridade, nem como recompensa, mas como deveres públicos. Os
delitos dos mandatários do povo devem ser severa e agilmente punidos.” Dois
séculos depois, o seu pensamento seria incorporado na “Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão”.
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